Vale a pena resgatar investimentos para quitar dívidas?

Com o início do ano e os gastos extras do Carnaval, muitas famílias se veem diante de um desafio financeiro: como equilibrar as contas e lidar com dívidas acumuladas? Em meio a esse cenário, surge a questão: é vantajoso resgatar investimentos para quitar débitos?

Comparando juros e rentabilidade dos investimentos

A resposta depende de uma análise simples: a taxa de juros da dívida é maior que a rentabilidade do investimento? Na maioria dos casos, sim. Isso porque os juros de financiamentos e parcelamentos costumam ser muito superiores ao rendimento das aplicações financeiras tradicionais.

Em entrevista ao Estadão, o Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor de estudos e pesquisas da Associação Nacional de Executivos (Anefac), revela que não faz sentido manter dinheiro investido com rendimento inferior aos juros de uma dívida em crescimento. Como exemplo, ele cita uma dívida com juros de 2% a 4% ao mês, enquanto um investimento pode render apenas 0,8% no mesmo período.

Se o endividamento for inevitável, priorizar a quitação de débitos com juros mais altos é essencial. O cheque especial e o rotativo do cartão de crédito estão entre os principais responsáveis pelo endividamento excessivo, já que possuem taxas que podem ultrapassar 300% ao ano.

Cartão de crédito: o grande vilão das dívidas

Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostram que o cartão de crédito é a principal forma de endividamento no Brasil. Para 20% das famílias, ele representa até 50% das despesas mensais.

Leia também: 21% dos brasileiros usam empréstimo para pagar dívidas

Em um momento de juros elevados e inflação acima da meta, a gestão financeira se torna ainda mais crucial | Foto: Reprodução/Canva

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Em um momento de juros elevados e inflação acima da meta, a gestão financeira se torna ainda mais crucial | Foto: Reprodução/Canva

A preocupação aumenta para quem recorre ao rotativo do cartão, cujos juros podem ultrapassar 22% ao mês em algumas instituições financeiras. A mediana das taxas dessa modalidade é de 16% ao mês, o que equivale a impressionantes 500% ao ano, conforme dados do Banco Central. Diante disso, quitar dívidas com juros tão elevados deve ser prioridade.

Além disso, é importante evitar o pagamento mínimo da fatura do cartão, pois isso gera um efeito “bola de neve” na dívida. O ideal é sempre pagar o valor integral da fatura e, se necessário, buscar alternativas como a portabilidade para um banco que ofereça juros mais baixos ou a renegociação da dívida diretamente com a instituição financeira.

Quando vender um bem é uma opção

Outra possibilidade para quitar dívidas é vender um bem, como um carro ou um imóvel. No entanto, essa decisão deve ser bem avaliada. Se a venda representar uma grande desvalorização ou se o bem for essencial para a rotina do indivíduo, talvez seja melhor buscar alternativas.

Por exemplo, um carro envolve custos fixos como IPVA, seguro e manutenção. Se ele não for indispensável, vendê-lo pode ser uma estratégia para reduzir despesas e liquidar dívidas com juros elevados. Por outro lado, se o veículo for essencial para o trabalho, desfazer-se dele pode não ser a melhor solução.

Em alguns casos, a troca de um carro mais caro por um modelo mais econômico pode ser uma alternativa viável. Isso permite que o proprietário continue com um meio de transporte, mas reduzindo custos fixos e liberando parte do valor para a quitação de dívidas.

Estratégias para evitar o endividamento

A prevenção ainda é o melhor caminho para manter as finanças saudáveis. Algumas estratégias incluem:

  • Criar um orçamento detalhado: listar receitas e despesas para ter uma visão clara da situação financeira;
  • Evitar compras a prazo desnecessárias: priorizar o pagamento à vista para evitar juros;
  • Reservar uma parte da renda para emergências: um fundo de reserva pode evitar a necessidade de recorrer ao crédito em situações inesperadas;
  • Controlar gastos supérfluos: identificar despesas que podem ser cortadas ou reduzidas para equilibrar o orçamento;
  • Educação financeira: aprender mais sobre investimentos e gestão financeira ajuda a evitar armadilhas do crédito fácil e tomar decisões mais conscientes.

Em um momento de juros elevados e inflação acima da meta, a gestão financeira se torna ainda mais crucial. Priorizar o pagamento de dívidas caras e manter um planejamento financeiro são atitudes fundamentais para garantir estabilidade econômica e evitar um ciclo de endividamento prolongado.

Por fim, cada caso deve ser analisado individualmente. Se a dívida possui juros muito altos, resgatar um investimento pode ser uma alternativa vantajosa. No entanto, é essencial criar hábitos financeiros saudáveis para evitar que o problema se repita no futuro.

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