O desenvolvimento cultural é um pilar essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. No Brasil, onde a desigualdade econômica é uma realidade persistente, investir em cultura nas periferias pode ser uma estratégia eficaz para transformar vidas e comunidades inteiras. Por meio de iniciativas culturais, é possível não apenas preservar e valorizar as tradições locais, mas também promover inclusão social, criar oportunidades de emprego e incentivar o empreendedorismo.
O poder transformador da cultura
Ela desempenha um papel central na formação da identidade e na coesão social de qualquer comunidade. Em regiões periféricas, onde o acesso a recursos e oportunidades é limitado, a cultura pode ser uma das poucas vias de expressão e resistência. Além disso, ela oferece ferramentas para a emancipação econômica, ao fomentar talentos locais e criar novas possibilidades de geração de renda.
Suane Brazão, coordenadora do Coletivo Amazonizando, acredita que ela é fundamental para o desenvolvimento econômico das periferias. “A redução das desigualdades vem da igualdade de oportunidades, sob o conceito de equidade, da valorização do ser humano”, afirma. Para ela, investir no setor vai além de apenas fornecer espaços para entretenimento; trata-se de fortalecer a autonomia das comunidades, permitindo que elas utilizem suas tradições e saberes para prosperar economicamente.
Cultura como vetor de desenvolvimento econômico
As atividades culturais têm o potencial de criar empregos diretos e indiretos, seja na produção de eventos, no artesanato, na música ou nas artes visuais. Em muitos casos, esses empregos surgem dentro das próprias comunidades, o que ajuda a fortalecer as economias locais. Além disso, o desenvolvimento do setor pode atrair investimentos externos, como patrocínios e parcerias, que injetam recursos nas periferias.
Mestre Ivamar, também coordenador do Coletivo Amazonizando, enfatiza a importância de uma abordagem inclusiva na cultura para fomentar o desenvolvimento econômico. Ele lembra que, durante sua atuação como arte-educador, foi possível “discutir a descentralização do atendimento e atuar nos aparelhos sociais nas comunidades periféricas, criando um caminho para inserir o jovem na comunidade e criar mecanismos para empregabilidade de jovens em pequenos negócios.” Essas iniciativas não só ofereceram uma saída para a vulnerabilidade social, mas também ajudaram a criar uma base sólida para o desenvolvimento econômico sustentável.
O impacto da cultura nas periferias
Quando integrada às políticas públicas de desenvolvimento, ela pode ter um impacto profundo na redução da desigualdade. Projetos que promovem a educação artística e cultural, por exemplo, não apenas desenvolvem habilidades criativas, mas também estimulam o pensamento crítico e a consciência social. Isso, por sua vez, fortalece o tecido social e cria cidadãos mais engajados e preparados para enfrentar os desafios econômicos.
“O Brasil é um país que pensa políticas para a manutenção da pobreza e da miséria”, critica Suane Brazão. Ela defende que a emancipação das comunidades periféricas deve passar pela “educação, arte e afeto”, elementos fundamentais para a construção de uma economia local forte e independente.
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Desafios e oportunidades
Apesar de seu potencial transformador, ainda existem muitos desafios a serem superados. A falta de financiamento adequado, a dificuldade de acesso a equipamentos culturais e a ausência de políticas públicas eficazes são alguns dos obstáculos que limitam o desenvolvimento nas periferias.
No entanto, as oportunidades são vastas. À medida que o Brasil começa a reconhecer o valor da economia criativa, cresce o entendimento de que a cultura pode ser um motor de desenvolvimento econômico. Investir em cultura não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente para reduzir a desigualdade e promover o crescimento sustentável.
O desenvolvimento cultural tem o poder de transformar as periferias brasileiras, oferecendo não apenas entretenimento e lazer, mas também oportunidades reais de crescimento econômico e social. Iniciativas como as lideradas por Suane Brazão e Mestre Ivamar mostram que, com apoio e recursos, a cultura pode ser uma força poderosa na luta contra a desigualdade.
Para isso, é essencial que o Brasil invista de forma consistente e estratégica na cultura, reconhecendo-a como um caminho eficaz para a redução das desigualdades e a construção de um futuro mais justo para todos.