Nos últimos anos, o mercado de trabalho para pessoas com deficiência (PCD) tem apresentado avanços significativos, impulsionados por políticas de inclusão e a crescente conscientização sobre a importância da diversidade nas empresas.
No entanto, apesar dos progressos, a realidade ainda é desafiadora para muitos profissionais PCD, que enfrentam barreiras significativas desde o processo seletivo até a integração no ambiente de trabalho.
Sarah Gomes, jornalista e pessoa com deficiência, compartilha suas experiências sobre as dificuldades enfrentadas por PCD no mercado de trabalho. “O mercado de trabalho tem crescido bastante nessa área, mas, na prática, não é tão fácil assim. Já participei de vagas para PCD e muitas vezes fui recusada por causa do tipo da minha deficiência. Algumas empresas contratam PCD que têm pouca limitação ou que a deficiência seja quase imperceptível, e quem tem mais dificuldade acaba sendo excluído”, afirma Sarah.
Esse relato expõe uma questão crítica: a seletividade de algumas empresas na contratação de PCD. Em muitos casos, há uma preferência por candidatos cujas deficiências não exigem adaptações significativas ou que são consideradas “mais fáceis” de integrar ao ambiente de trabalho. Isso vai contra o espírito das leis de inclusão, como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015), que visa promover a igualdade de oportunidades e garantir a inclusão plena e efetiva na sociedade.
Acessibilidade no ambiente de trabalho
Outro desafio recorrente é a falta de acessibilidade nos ambientes de trabalho. “Mesmo quando somos incluídos nas empresas, falta acessibilidade nos lugares, o que torna mais difícil”, ressalta Sarah. A ausência de rampas, elevadores adaptados, banheiros acessíveis e tecnologia assistiva são apenas alguns exemplos de como a infraestrutura inadequada pode dificultar a permanência de PCD no mercado de trabalho. Essa falta de acessibilidade muitas vezes resulta em um ambiente excludente, onde os profissionais PCD não conseguem desempenhar suas funções de maneira plena.
Diferença salarial para PCD
A disparidade salarial é outro ponto sensível. Em muitos casos, os salários oferecidos a pessoas com deficiência são inferiores aos dos demais colaboradores, refletindo uma percepção equivocada de que esses profissionais são menos capazes ou produtivos. “A diferença entre os salários é muito grande, isso ocorre, pois pessoas com deficiência são vistas como inferiores e incapacitadas”, observa Sarah.
De fato, estudos indicam que as pessoas com deficiência frequentemente recebem 31% a menos em comparação com seus colegas sem deficiência, mesmo quando desempenham funções semelhantes. Esse cenário é agravado pela falta de oportunidades de progressão na carreira, com PCDs enfrentando dificuldades para acessar cargos de liderança ou receber promoções.
Apesar desses desafios, há movimentos positivos no mercado. Empresas que adotam políticas inclusivas e investem em acessibilidade têm se destacado não apenas pelo cumprimento das leis, mas também pelo reconhecimento dos talentos e capacidades dos profissionais PCD. Organizações como essas compreendem que a inclusão é um investimento que beneficia a todos, promovendo um ambiente mais diverso, inovador e produtivo.
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Além disso, a tecnologia tem desempenhado um papel crucial na inclusão de PCDs no mercado de trabalho. Ferramentas de comunicação assistiva, softwares adaptados e dispositivos de mobilidade são algumas das inovações que permitem que esses profissionais realizem suas tarefas com autonomia e eficiência.
Por outro lado, é essencial que as empresas revisem suas práticas de recrutamento e remuneração, eliminando preconceitos e garantindo que todos os profissionais, independentemente de sua condição, tenham as mesmas oportunidades de crescimento e reconhecimento. A criação de programas de treinamento e sensibilização para gestores e colaboradores também pode ajudar a construir um ambiente de trabalho mais inclusivo e acolhedor.
Em suma, o mercado de trabalho para pessoas com deficiência no Brasil está em evolução, mas ainda há um longo caminho a percorrer. A verdadeira inclusão exige não apenas a contratação de PCDs, mas também a criação de condições adequadas para que eles possam prosperar em suas carreiras. Somente assim poderemos alcançar uma sociedade verdadeiramente inclusiva e igualitária, onde todos têm a oportunidade de contribuir e se destacar.