Bill Gates doa US$ 40 mi para testes de captura de carbono

A Breakthrough Energy, iniciativa de Bill Gates, está destinando um subsídio de 40 milhões de dólares a uma startup com a meta de criar um campo de testes no Canadá para sistemas que capturam o carbono diretamente do ar, com o intuito de acelerar a implementação dessa tecnologia, conforme anunciado pelas empresas nesta quarta-feira (18).

Projeto financiado por Bill Gates foca na captura de carbono no Canadá.
Bill Gates apoia projeto inovador de captura de carbono no Canadá com US$ 40 milhões. Tecnologia visa combater mudanças climáticas |Foto: Reprodução/iStock

Cientistas da ONU afirmam que é necessário remover bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera anualmente, além de reduzir as emissões atuais, e empresas de todo o mundo estão buscando soluções para enfrentar esse desafio.

A captura direta de ar é considerada uma solução para remover grandes quantidades de dióxido de carbono, mas até o momento, a tecnologia tem sido cara, energética e lenta para atingir a escala necessária.

A startup Deep Sky anunciou que está desenvolvendo o campo de testes “Alpha” DAC em Alberta, que inicialmente permitirá que oito empresas testem e ajustem suas tecnologias com o objetivo de desenvolver usinas de captura em larga escala.

A primeira unidade de captura de carbono deverá entrar em operação no próximo ano, conforme a empresa. A Deep Sky também ajudará a testar o desempenho da tecnologia em um clima frio, como o do Canadá, que é um grande produtor de petróleo e recentemente aumentou sua meta de redução das emissões de gases de efeito estufa para até 50% até 2035.

A Breakthrough Energy, que investe e financia startups focadas em questões climáticas, por meio de sua unidade Catalyst, foi a responsável por conceder os recursos à Deep Sky.

Mario Fernandez, diretor da Breakthrough Energy Catalyst, comentou que a missão da Catalyst é garantir a viabilidade financeira dessas tecnologias, destacando que o DAC é um grande desafio no momento.

Damien Steel, CEO da Deep Sky, explicou que a empresa está começando a desenvolver usinas de captura direta de ar em larga escala no Canadá e pretende utilizar o campo de testes Alpha para identificar novas tecnologias eficientes a serem aplicadas.

O desenvolvimento do projeto iniciou antes da escolha da tecnologia a ser utilizada, o que acelera o processo, mas também aumenta os riscos. Steel mencionou que a Deep Sky está realizando várias etapas do desenvolvimento ao mesmo tempo, o que normalmente seria feito de forma sequencial, devido ao receio de assumir riscos. Contudo, a empresa não tem tempo para seguir essa ordem.

As primeiras sete das oito empresas que farão parte do campo de testes DAC são Airhive, Mission Zero, Skyrenu, Skytree, NEG8 Carbon, Greenlyte e Phlair.

Investimentos na economia verde: para onde está indo o dinheiro do carbono?

O mercado de compensação de carbono já movimenta mais de R$10 bilhões mundialmente, envolvendo tanto empresas quanto pessoas físicas, e essa cifra só tende a crescer à medida que soluções para reduzir o aquecimento global se tornam mais urgentes.

Esse crescimento está relacionado ao fato de que todas as atividades humanas geram uma quantidade de Gases de Efeito Estufa (GEE), que, dependendo do volume, se acumulam na atmosfera. Em níveis atuais, esses gases estão desencadeando a crise climática, impulsionada pelo aquecimento global.

Essencialmente, as atividades humanas estão gerando mais gases do que o planeta consegue suportar, com boa parte dessa emissão relacionada à atividade produtiva e econômica, um tema amplamente debatido desde os anos 1970.

Hoje, o setor de compensação de carbono se consolidou como uma solução emergencial, especialmente porque a redução de emissões ainda não atingiu as metas desejadas. A compensação de carbono e a descarbonização visam diminuir os impactos causados pelos GEE.

Essas ações têm o objetivo de reduzir e neutralizar os gases poluentes emitidos por empresas e indivíduos ao longo do tempo.

Investimentos em compensação de carbono podem resultar em novos projetos de reflorestamento ou recuperação de áreas desmatadas, com o Brasil se destacando como um grande mercado para créditos de carbono.

No Brasil, o mercado de crédito de carbono ainda carece de regulamentação, mas em dezembro de 2023, o Projeto de Lei 148/2015, que visa criar o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), foi aprovado pela Comissão de Meio Ambiente do Senado e segue agora para a Câmara dos Deputados.

Esse sistema tem o objetivo de limitar as emissões de gases poluentes e oferecer um incentivo econômico para que as empresas reduzam suas emissões. A regulamentação permitirá que o Brasil cumpra as previsões da política nacional sobre mudanças climáticas, bem como os compromissos assumidos pelo país na Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática e no Acordo de Paris.

Como funcionam os créditos de carbono?

Cada crédito de carbono corresponde a uma tonelada de CO2. A redução desse gás é convertida em créditos de carbono, ou seja, a cada tonelada de CO2 não emitida ou reduzida, gera-se um crédito de carbono.

Portanto, os créditos representam a “não emissão” ou a redução das emissões de gases que causam o efeito estufa.

Para calcular a influência das empresas nas mudanças climáticas, é necessário converter todos os gases emitidos por suas atividades, com base no potencial de geração de efeito estufa desses gases, em CO2 equivalente.

Quando uma empresa calcula a quantidade de CO2 que emite e compensa essa quantidade por meio de créditos equivalentes, ela se torna neutra em carbono.

Onde são aplicados os créditos de carbono?

Os créditos de carbono podem ser utilizados para proteger áreas de preservação natural, investir em projetos de energia renovável, reflorestamento (projetos ARR) e evitar o desmatamento por meio de iniciativas REDD+ (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal).

Empresas certificadoras, como a Carbon Free Brasil, ajudam empresas a contribuírem para a descarbonização. Luiz Henrique Terhorst, CEO da Carbon Free Brasil, explicou que sua empresa ajuda as empresas a entenderem quanto carbono elas emitem para que possam assumir a responsabilidade sobre seu impacto ambiental. Ele também ressaltou que a empresa seleciona projetos de crédito de carbono com impactos positivos comprovados.

A compensação de emissões de GEE é fundamental na luta contra as mudanças climáticas, pois permite que as empresas assumam responsabilidades por suas emissões e ajam para neutralizá-las, o que ajuda a equilibrar os impactos ambientais.

A Carbon Free Brasil já ajudou empresas como Jeep, John Deere, Lufthansa, McDonald’s, Red Bull, Heineken e Renault a neutralizarem suas emissões de carbono e gerarem impactos ambientais positivos.

Meta de carbono neutro até 2050

O Acordo de Paris, assinado por 195 países, estabelece como meta limitar o aquecimento global a 2ºC, com um esforço para restringir o aumento a 1,5ºC e alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Para limitar o aquecimento a 1,5ºC, é necessária a neutralidade de carbono.

O mercado de carbono no Brasil: desafios e perspectivas

A aprovação do Projeto de Lei que regulamenta o mercado de carbono no Brasil é um passo importante, colocando o país em destaque nas políticas climáticas globais. O Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) tem o potencial de ser um marco, sendo uma ferramenta fundamental para atingir as metas de redução de emissões do Brasil.

Atualmente, existem 36 sistemas de comércio de emissões no mundo, movimentando 12,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalente em 2023, com transações superiores a 900 bilhões de dólares.

A regulamentação do mercado de carbono ajudará o Brasil a cumprir suas metas de redução de 67% das emissões de gases de efeito estufa até 2035, em relação aos níveis de 2005. O sistema deve inicialmente abranger cerca de 30% das emissões dos setores de indústria e energia, representando aproximadamente 6% das emissões totais do Brasil.

Além disso, o SBCE poderá se integrar ao mercado voluntário de carbono, predominantemente voltado ao setor florestal, o que ampliará seu impacto positivo.

De acordo com a McKinsey, o Brasil tem o potencial de gerar até 100 bilhões de dólares no mercado de carbono até 2030, grande parte dos quais poderia ser investida em melhorias socioambientais em áreas vulneráveis do país.

Embora a aprovação do Projeto de Lei seja um avanço, há desafios técnicos que precisam ser superados. A definição de alguns conceitos, a gestão do CONAREDD+ e a regulamentação do consentimento livre, prévio e informado são pontos que precisam de ajustes para garantir a efetividade do mercado de carbono.

Impactos da implementação

A implementação eficiente do SBCE pode ter um grande impacto econômico e ambiental. Se bem estruturado, o mercado de carbono pode movimentar bilhões de dólares anualmente, funcionando como uma plataforma eficaz para negociação de créditos de carbono e permissões de emissão. Porém, a falta de uma base legal técnica sólida pode dificultar sua adoção.

Investimentos em tecnologias limpas e criação de empregos em setores como energia renovável e reflorestamento são esperados com a implementação do SBCE, como apontado pela UNEP. Resolver os problemas técnicos e operacionais do sistema é essencial para alcançar melhores resultados ambientais e garantir a competitividade econômica a longo prazo.

O mercado de carbono brasileiro tem grande potencial para transformar setores específicos da economia e posicionar o país como um líder global em questões climáticas. No entanto, é necessário resolver os desafios técnicos e legais para que esse potencial se realize.

Isso implica em investimentos em capacitação, regulamentações claras e infraestrutura adequada, essenciais para garantir a credibilidade do sistema e atrair investidores. Com as melhorias necessárias, o Brasil pode se tornar um líder global em descarbonização e desenvolvimento sustentável.

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