Há um ano, um grande incêndio florestal destruiu o maior jardim botânico do Chile, o Jardim Botânico Nacional de Viña del Mar. Este parque, que tem mais de um século de história, está agora passando por um processo de adaptação diante da ameaça recorrente de incêndios.
Como parte desse processo, milhares de árvores nativas estão sendo plantadas, com o objetivo de substituir as espécies anteriores e reduzir o risco de novos incêndios no futuro. Essas novas árvores são mais resistentes ao fogo e menos propensas a pegar fogo rapidamente, o que ajudará a proteger a área contra futuras catástrofes.
Cerca de 90% dos 400 hectares do jardim foram destruídos pelas chamas em apenas uma hora durante o incêndio, que foi um dos mais devastadores dos últimos tempos, com um impacto muito forte na região. Esse incêndio não só destruiu uma grande parte do parque, mas também afetou fortemente a cidade de Viña del Mar e suas comunidades vizinhas, localizadas a cerca de 120 quilômetros ao norte de Santiago, a capital do Chile.
Alejandro Peirano, o diretor do Jardim Botânico Nacional, afirmou que o parque está se preparando para os incêndios que certamente ocorrerão no futuro. Segundo ele, é quase certo que o parque enfrentará novos incêndios, dado o clima seco e quente que caracteriza a região durante o verão. Peirano ressaltou que as autoridades locais já sabem que os incêndios são uma realidade e, por isso, estão tomando medidas para preparar o jardim para essas ocorrências.
Antes que a temporada de incêndios comece novamente, e com a previsão de um verão com temperaturas mais altas, o parque iniciou um processo de preparação mais focado para resistir aos próximos incêndios.
Como parte dessa preparação, foi instalada uma nova linha de defesa, ou “linha de batalha”, com a plantação de árvores nativas que são mais resistentes ao fogo. Essas árvores incluem espécies típicas de florestas de clima mediterrâneo, como litre, quilaia e colliguay, que têm características que tornam a propagação do fogo mais difícil.
A ideia dessa “linha de defesa” é criar uma barreira natural que ajude a retardar a propagação do fogo. O diretor do parque explica que as espécies escolhidas para essa linha de defesa são aquelas que têm um ritmo de queima mais lento, o que ajudará a evitar que o incêndio avance tão rapidamente, proporcionando mais tempo para os bombeiros agirem e protegerem a área.
O incêndio de 2024, que ocorreu no dia 2 de fevereiro, foi particularmente devastador. As condições climáticas naquele dia, como o calor extremo e os ventos fortes, contribuíram para que as chamas se espalhassem rapidamente pelas colinas e vilarejos ao redor de Viña del Mar.
O resultado foi trágico: 136 pessoas perderam a vida e cerca de 16.000 foram afetadas diretamente. Este evento sublinhou a urgência de se prepararem para novos incêndios, uma vez que o clima cada vez mais quente e seco tem tornado os incêndios florestais mais frequentes e mais intensos.
O Jardim Botânico Nacional foi projetado em 1918 pelo arquiteto francês Georges Dubois e, ao longo dos anos, tornou-se um dos principais pontos turísticos e científicos do país, com um acervo impressionante de 1.300 espécies de plantas e árvores.
Além disso, o parque abrigava uma grande variedade de animais, incluindo marsupiais, raposas-cinzentas, furões chilenos e várias espécies de aves, que agora estão ameaçados devido à destruição do habitat natural.
Barreira para enfrentar o fogo
Nos últimos meses, voluntários têm trabalhado ativamente para reflorestar a área atingida pelo incêndio. Até o momento, mais de 5.000 árvores nativas foram plantadas em uma área de oito hectares, com o objetivo de ajudar a recuperar a vegetação original e restaurar o ecossistema local. Essas árvores estão sendo cuidadas com sistemas de irrigação avançados, o que ajuda a garantir que cresçam saudáveis e resistentes.
Em dois anos, as raízes dessas árvores estarão bem estabelecidas, e as árvores terão crescido o suficiente para oferecer sombra, criando um ambiente mais favorável para o crescimento de outras espécies ao redor. O objetivo é criar um novo ecossistema que seja mais resiliente ao fogo e melhor adaptado às condições climáticas adversas.
Além disso, o plano de reflorestamento inclui o plantio de espécies que são capazes de se adaptar a condições de seca prolongada e chuvas escassas, características típicas do clima mediterrâneo da região. De acordo com Benjamín Véliz, diretor da ONG Wild Tree, que está colaborando no projeto, essas espécies são fundamentais para restaurar o equilíbrio ecológico e ajudar o parque a resistir melhor aos incêndios no futuro.
Ao contrário de árvores exóticas como o eucalipto, que se queima rapidamente e contribui para a rápida propagação do fogo, algumas das espécies nativas escolhidas são naturalmente mais resistentes ao fogo. Pesquisas realizadas pela Universidade Técnica Federico Santa María (USM) identificaram quais espécies de árvores têm uma menor propensão a pegar fogo e, portanto, podem ajudar a formar uma barreira natural contra os incêndios.
Essas árvores, que incluem espécies como litres e peumos, fazem parte de um ecossistema esclerófilo, típico dos climas mediterrâneos. Esse tipo de vegetação é altamente resistente à seca e ao calor extremo, e tem a capacidade de se regenerar após incêndios, o que torna a natureza local mais capaz de lidar com os desafios impostos pelo clima quente e seco.
As chuvas mais intensas que ocorreram em 2024, após uma década de seca severa, também ajudaram na recuperação do jardim botânico, proporcionando as condições ideais para que as novas árvores cresçam e se desenvolvam. Essas chuvas não só beneficiaram o reflorestamento, mas também mostraram como a natureza tem a capacidade de se renovar, mesmo após grandes desastres ambientais.
O diretor do jardim, Alejandro Peirano, observa que as árvores que queimaram estão voltando, especialmente aquelas do campo esclerófilo, como os litres, que são adaptadas ao clima e capazes de resistir aos incêndios. Ele destaca que, apesar da destruição causada pelos incêndios, a natureza do parque está reagindo e se recuperando, mostrando a força e a resiliência dos ecossistemas locais.
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