Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York e bilionário da mídia, anunciou em janeiro que sua organização filantrópica, Bloomberg Philanthropies, fornecerá financiamento para cobrir a contribuição dos Estados Unidos ao orçamento da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
A decisão da Bloomberg vem após a retirada dos EUA do Acordo Climático de Paris e do fim do financiamento climático internacional durante a presidência de Donald Trump. Este apoio busca preencher a lacuna deixada pela falta de ação do governo federal dos EUA nas questões climáticas, garantindo a continuidade dos compromissos globais do país, mesmo sem sua presença formal no acordo.
Retirada dos EUA do Acordo Climático de Paris
Em sua primeira semana sem carga, Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo de Paris, um pacto global firmado em 2015 por quase 200 países para combater as mudanças climáticas. O acordo visa limitar o aumento da temperatura global a menos de 2 °C acima dos níveis pré-industriais, com esforços para restringir o aumento a 1,5 °C, por meio de ações coordenadas de redução das emissões de gases de efeito estufa.
A decisão dos EUA de abandonar o Acordo de Paris gerou impactos globais, e a resposta da Bloomberg reflete um esforço para continuar os compromissos climáticos do país, independentemente da política federal.
O que é a UNFCCC?
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) é um tratado internacional criado em 1992 para abordar as mudanças climáticas globais. Seu principal objetivo é estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera a um nível que evite impactos perigosos para o clima da Terra.
A UNFCCC serve de base para negociações e compromissos internacionais sobre as mudanças climáticas, incluindo eventos como a Conferência das Partes (COP), onde os países discutem ações globais e buscam soluções para limitar o aquecimento global.
Fontes de financiamento da UNFCCC
A UNFCCC recebe financiamento principalmente dos seus países membros, com as contribuições financeiras calculadas com base na capacidade econômica de cada nação. Isso significa que países mais ricos, como os EUA, têm uma contribuição maior.
Além disso, organizações privadas, fundações e outros financiadores externos, como a Bloomberg Philanthropies, também desempenham um papel importante, especialmente no apoio a iniciativas de adaptação às mudanças climáticas e ao desenvolvimento de soluções para países em desenvolvimento.
O financiamento internacional é essencial para garantir que todos os países, independentemente do seu nível de desenvolvimento, possam participar plenamente na luta contra as mudanças climáticas.
O compromisso com o financiamento climático
Bloomberg, que também atua como enviado especial da ONU para mudanças climáticas, reafirmou seu compromisso com o cumprimento das obrigações climáticas globais. Em seu comunicado, ele destacou que a Bloomberg Philanthropies e outros financiadores climáticos dos EUA garantiriam que o país continuasse cumprindo seus compromissos climáticos, mesmo após a retirada oficial do Acordo de Paris.
Embora o valor exato do financiamento não tenha sido divulgado, a organização explicou que este apoio busca cobrir as lacunas deixadas pelos cortes orçamentários do governo americano. A UNFCCC, o principal órgão climático da ONU, realiza negociações anuais entre quase 200 países e é responsável pela implementação de acordos globais, incluindo o Acordo de Paris.
Durante a gestão de Trump, o financiamento dos EUA à UNFCCC foi reduzido, o que resultou em um déficit orçamentário significativo para o órgão. Em 2024, os EUA pagaram 7,4 milhões de dólares referentes à sua contribuição anual e também quitaram 3,4 milhões de dólares em dívidas acumuladas desde 2010. O apoio da Bloomberg, portanto, representa uma tentativa de cobrir essas lacunas financeiras e garantir que a agenda climática global continue avançando.
Trabalho com estados, cidades e empresas
A Bloomberg também se comprometeu a trabalhar com estados, cidades e empresas dos EUA para garantir que o país continue cumprindo suas metas climáticas globais.
Ele ressaltou que, entre 2017 e 2020, durante o período de inação federal, diversas entidades nos EUA, incluindo estados, cidades e empresas, assumiram a responsabilidade de manter os compromissos climáticos do país.
De acordo com a Bloomberg, esses atores estão novamente prontos para continuar esse trabalho, independentemente da postura do governo federal.
Reações ao apoio da Bloomberg
Simon Stiell, chefe climático da ONU, agradeceu em nota o apoio da Bloomberg, destacando a importância dessa contribuição para garantir que as negociações climáticas globais não sejam interrompidas.
Linda Kalcher, diretora-executiva do “Think Tank Strategic Perspectives” ou Centro de Pesquisa Estratégias Perspectivas (um centro de pesquisa que se dedica a estudar questões estratégicas, políticas e globais, com foco em mudanças climáticas e sustentabilidade), observou que a ação da Bloomberg reflete a disposição de outros atores nos EUA, como empresas e estados, para preencher uma lacuna pela política federal e continuar a colaboração internacional em questões.
Sobre Michael Bloomberg
Michael Bloomberg nasceu em 14 de fevereiro de 1942, em Boston, Massachusetts. Ele se formou em Engenharia Elétrica pela Universidade Johns Hopkins e depois fez um MBA na Harvard Business School. Antes de criar a Bloomberg LP em 1981, trabalhou na empresa de investimentos Salomon Brothers.
A Bloomberg LP cresceu rapidamente e virou uma das maiores empresas de serviços financeiros do mundo, oferecendo desde software de análise até informações financeiras.
Como prefeito de Nova York (2002-2013), Bloomberg fez muitas mudanças importantes nas áreas de saúde, segurança, transporte e meio ambiente, como a redução das emissões de carbono. Seu governo se destacou por usar dados e análises para tomar decisões, o que lhe trouxe tanto apoio quanto críticas.
Além de sua carreira nos negócios e na política, Bloomberg é um dos maiores doadores dos Estados Unidos. Sua fundação, Bloomberg Philanthropies, apoia causas como mudanças climáticas, educação, saúde pública e combate às desigualdades sociais. Ele também tem investido em projetos globais, como a luta contra o tabagismo e políticas de saúde pública.
Em 2020, Bloomberg tentou se candidatar à presidência dos EUA, mas depois decidiu não disputar e apoiar outros candidatos com ideias semelhantes. Seu legado é bem reconhecido no mundo dos negócios e no ativismo climático, e ele segue sendo uma figura importante no combate às mudanças climáticas no mundo.
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