O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou nesta sexta-feira, 21 de março, um edital inovador para transformar a região da Pequena África, no Rio de Janeiro, na região do Cais do Valongo. A iniciativa, anunciada no Dia Internacional contra a Discriminação Racial, busca ideias urbanísticas e arquitetônicas que valorizem a identidade cultural afro-brasileira e a herança africana da região.
O objetivo central é selecionar propostas para a criação de um museu ao ar livre, integrando locais de relevância histórica e cultural para a comunidade afro-brasileira. Um aspecto crucial do edital é que ele é destinado a equipes lideradas por arquitetos ou urbanistas negros, visando promover a inclusão desses profissionais no desenvolvimento de projetos urbanos e culturais. A expectativa é que as propostas transformem a Pequena África em um polo cultural de referência nacional e internacional.

O Concurso tem o objetivo de selecionar as três melhores propostas para a criação de uma identidade visual para um Museu de Território. As propostas devem integrar marcos históricos e percursos significativos, por meio de intervenções de arquitetura, urbanismo, paisagismo e mobiliário urbano. Devem também promover uma conexão visual e sensorial, que destaque a presença da cultura africana e afro-brasileira no espaço público.
Os três projetos selecionados receberão prêmios, em um total de R$ 130 mil. Para participar, cada equipe deve ter na liderança um arquiteto e/ou urbanista negro. As propostas serão avaliadas por uma comissão multidisciplinar de especialistas em arquitetura e urbanismo, cultura negra, patrimônio, sociologia, artes e economia criativa. Os critérios para a premiação levam em conta a conexão com a história local, o impacto social, a inovação e a viabilidade de cada projeto.
O evento de lançamento contou com a participação de diversas figuras importantes, como as ministras Margareth Menezes (Cultura), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos), além de outras autoridades.
Solidariedade à Marina Silva
Antes de abordar diretamente o lançamento do concurso, a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, comentou sobre a violência política no país, expressando sua solidariedade à ministra Marina Silva. Em entrevista ao Super Finanças, a ministra comentou sobre o recente episódio:
“É um absurdo. O que a gente tem visto de violência política no país, muito mais focado em engenharia e raça, vem numa crescente desenfreada. Claro que eles têm ali um projeto de minar, de desanimar mulheres nesses espaços e eu acho que falas como essa só comprovam isso”, enfatiza.
Anielle Franco também mencionou que pesquisas anteriores já indicavam as diversas formas de intimidação sofridas por mulheres na política. Apesar disso, a ministra afirmou que seguirão firmes na luta por espaços mais diversos.
O fato ocorre após o senador Plínio Valério (PSDB-AM) dizer que tinha vontade de enforcar a ministra do Meio Ambiente, na última sexta-feira, 14 de março, durante um evento no Amazonas.
Na ocasião, ele fez menção a CPI (Comissão parlamentar de inquérito) das ONGs, da qual Marina Silva falou com os parlamentares por cerca de seis horas. “Imagina vocês o que é ficar com a Marina 6 horas e 10 minutos sem ter vontade de enforcá-la?”, disse. Após repercussão, Valério disse que sua declaração no Senado era uma ‘’brincadeira’’.
Edital foi publicado após análises e trocas com moradores da região
Retomando o lançamento do edital, Helena Tenório, diretora do BNDES, mencionou o longo percurso de discussões e escuta realizado para a elaboração do concurso. Ela destacou que foram realizadas mais de 15 horas de oficinas e uma pesquisa de opinião com mais de 600 moradores da região para entender seus anseios por mais desenvolvimento cultural e econômico.
Tenório enfatizou que somente arquitetos e urbanistas negros poderão concorrer, visando uma máxima legitimidade nas soluções propostas. As melhores ideias serão premiadas, mas todas poderão ser aproveitadas para o desenvolvimento da Pequena África. O BNDES espera ajudar na transformação e potencialização dessa região do Rio de Janeiro.
João Jorge, da Fundação Palmares, ressaltou que a cultura afro e negra é fundamental para cidades como Rio de Janeiro e Salvador, sendo mais do que apenas um aspecto turístico. Ele afirmou que “nós não somos apenas os ex-esclavos, nós somos os consultores do Brasil moderno. Nós somos os edificadores de um novo país”. Ele também lembrou a importância de todo o período que antecedeu o presente.
Leandro Grass, do IPHAN, afirmou que o governo tem compromisso com o patrimônio cultural de matriz africana em todo o Brasil, mencionando o reconhecimento de quilombos e a restauração de terreiros. Ele destacou a importância de iniciativas como a do BNDES para compreender que o patrimônio são as pessoas, sendo a relação com esses bens culturais e a memória promovida que constroem o futuro. Grass concluiu que essa ação garante o direito de cada morador para que as próximas gerações sintam orgulho do lugar.
Benedita da Silva enfatizou a importância de políticas públicas para atender a população, principalmente os mais vulneráveis. Ela parabenizou o BNDES pela iniciativa e se colocou à disposição para futuros empreendimentos necessários à população negra da região, incluindo o apoio aos negócios locais, ao resgate histórico e ao Museu ao ar livre. Para ela, os quilombos são como as favelas, que precisam ser assistidas.
Macaé Evaristo, Ministra dos Direitos Humanos, celebrou o papel do BNDES ao olhar para a “parcela significativa da população brasileira, que é o povo negro do nosso país, que durante tantos anos esteve completamente marginalizado do olhar dessas instituições importantes como o BNDES”.
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