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Empresas dos EUA recuam em diversidade, mas Brasil segue caminho próprio

Nos últimos anos, as políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) ganharam destaque no mundo corporativo, impulsionadas por demandas sociais e pelo reconhecimento da importância da diversidade para o crescimento das empresas.

No entanto, uma reviravolta recente nos Estados Unidos tem levantado questionamentos sobre o futuro dessas iniciativas. Enquanto gigantes norte-americanas reduzem ou eliminam suas políticas de DEI, especialistas apontam que o Brasil não deve seguir o mesmo caminho.

Apesar do movimento de recuo nos Estados Unidos, especialistas acreditam que o Brasil seguirá uma trajetória própria na inclusão e diversidade dentro das empresas | Foto: Reprodução/Canva
Apesar do movimento de recuo nos Estados Unidos, especialistas acreditam que o Brasil seguirá uma trajetória própria na inclusão e diversidade dentro das empresas | Foto: Reprodução/Canva

O recuo das empresas nos EUA

Empresas como Google, Meta, Amazon, McDonald’s e Disney foram algumas das primeiras a promover cortes expressivos ou até extinguir departamentos dedicados à diversidade. O movimento, que começou ainda em 2022 com a retração econômica global, foi intensificado recentemente por decisões políticas e jurídicas nos EUA. A aproximação do empresariado norte-americano com o governo de Donald Trump e a decisão da Suprema Corte dos EUA de barrar cotas raciais em universidades contribuíram para o desmonte das iniciativas de inclusão.

Além disso, uma decisão judicial recente impediu a Nasdaq de exigir diversidade nas empresas listadas, reforçando o ambiente de retrocesso para políticas de DEI nos EUA. Com isso, as grandes corporações estão reavaliando seus investimentos nessa área, o que impacta tanto suas operações domésticas quanto suas filiais em outros países.

O Brasil mantém o compromisso com a inclusão

Apesar da mudança de rota nos Estados Unidos, o Brasil apresenta uma realidade distinta. O arcabouço jurídico do país já estabelece políticas afirmativas, como cotas raciais para universidades públicas e a Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência. Além disso, a recente Lei de Igualdade Salarial entre homens e mulheres reforça o compromisso institucional com a equidade no mercado de trabalho.

Segundo Silvia Coelho, fundadora da consultoria Elas Programam, que atua na inclusão de mulheres na tecnologia, o Brasil já vinha passando por uma transformação no setor desde 2022, com redução de investimentos em diversidade devido a fatores econômicos. No entanto, ela acredita que o impacto político visto nos EUA dificilmente será replicado no Brasil.

“A consciência social no Brasil já internalizou essas políticas. Acredito que não haverá retrocesso significativo, pois a inclusão faz parte da realidade do nosso mercado de trabalho”, avalia Coelho.

Empresas brasileiras reafirmam compromissos

Enquanto algumas das maiores empresas americanas recuam em suas políticas de DEI, a Natura, gigante brasileira do setor de cosméticos, reforça seu compromisso com a inclusão. Em janeiro deste ano, a companhia publicou o manifesto “Quanto Vai Custar para Investir no Futuro”, reafirmando sua atuação histórica em temas sociais e ambientais.

Paula Benevides, vice-presidente de pessoas, cultura e organização da Natura América Latina, destaca a importância de manter esse compromisso independentemente das decisões internacionais.

“Quando percebemos esse movimento de recuo nos EUA, sentimos que era necessário nos posicionarmos. Esse é um compromisso inegociável para nós, que reflete nossa visão de um mundo mais justo”, afirma Benevides.

A Natura tem investido em metas concretas para ampliar a diversidade dentro da empresa. Em 2024, 30,8% das contratações foram de pessoas negras e 26,7% dos cargos de liderança passaram a ser ocupados por esse grupo. Além disso, a companhia já eliminou a diferença salarial por gênero e raça, um objetivo que estava previsto para ser atingido até 2030.

Divergências no mercado brasileiro

Embora a maioria das empresas brasileiras esteja mantendo suas políticas de diversidade, há divergências sobre a relevância dessas iniciativas. Cátia Porto, vice-presidente executiva de Pessoas da Vale, expressou publicamente uma visão contrária, argumentando que a “cultura woke está perdendo espaço” nas corporações. Em suas declarações, ela propõe substituir a sigla DEI pelo conceito MEI (Mérito, Excelência e Inteligência).

A Vale, no entanto, enfrenta desafios quando se trata de sua imagem ESG. A empresa, que já esteve envolvida em tragédias ambientais como os desastres de Mariana e Brumadinho, é a segunda mais mencionada por investidores brasileiros quando o assunto é responsabilidade socioambiental, de acordo com levantamento do InfoMoney.

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O impacto da diversidade nas empresas brasileiro

O Brasil é um país marcado por uma grande diversidade étnica, regional e socioeconômica. Empresas que ignoram essa realidade podem comprometer sua competitividade e até perder espaço no mercado. Paula Benevides reforça esse ponto ao destacar que estratégias de diversidade precisam estar alinhadas com a realidade do país onde a empresa opera.

“Se uma companhia brasileira optar por ignorar essa diversidade, estará ignorando também uma fatia expressiva do mercado consumidor”, ressalta.

Apesar do movimento de recuo nos Estados Unidos, especialistas acreditam que o Brasil seguirá uma trajetória própria na inclusão e diversidade dentro das empresas. O contexto social e jurídico do país favorece a manutenção dessas políticas, e grandes corporações brasileiras, como a Natura, continuam investindo em estratégias para ampliar a representatividade e equidade no ambiente corporativo. A diversidade não é apenas um compromisso social, mas também uma estratégia inteligente para empresas que buscam inovação e competitividade no mercado brasileiro.

*Entrevistas concedidas ao InfoMoney.

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