O governo do presidente Donald Trump anunciou nesta quarta-feira, 12 de março, mudanças importantes nas regras ambientais. Entre elas, estão o fim dos limites para a poluição de usinas de energia e carros, além da redução da proteção para rios e lagos.
A Agência de Proteção Ambiental (EPA), sob o comando de Trump, tomou essas decisões para diminuir regras que afetam setores como carvão, indústria e exploração de petróleo e minerais. O objetivo é impulsionar a economia, mas isso também enfraquece medidas anteriores que protegiam a qualidade do ar e da água e ajudavam a combater as mudanças climáticas.
“Hoje é um dos dias mais importantes para a desregulamentação nos EUA”, disse Lee Zeldin, chefe da EPA, em um vídeo publicado no X. No total, a agência anunciou mais de 30 medidas para reduzir regulações ambientais.
Pela manhã, ao lado de parlamentares republicanos e representantes do setor agrícola, Zeldin anunciou que mudará a definição de quais cursos d’água são protegidos pela Lei da Água Limpa. Isso pode facilitar o descarte de resíduos pela agricultura, mineração e indústria petroquímica.
Depois, a EPA disse que vai revisar as regras criadas no governo Biden para reduzir a poluição das usinas de energia. Além disso, vai acabar com os limites de emissão de gases poluentes para veículos pesados e leves a partir de 2027.
Os setores de energia e transporte são responsáveis por quase metade da poluição do país. Por isso, o governo Biden havia criado essas regras para reduzir os impactos no clima.
Outra medida anunciada pela EPA é a anulação de um estudo feito em 2009, que afirmava que a poluição causada por gases do efeito estufa é um risco para a saúde. Esse estudo serviu de base para todas as regras ambientais da agência até hoje.
A decisão deve gerar muitas disputas judiciais. Grupos ambientalistas afirmaram que vão lutar contra as mudanças. “Essa decisão não vai passar nos tribunais. Vamos contestá-la em cada etapa do processo”, disse Jason Rylander, advogado do Instituto de Direito Climático do Centro de Diversidade Biológica.
Por outro lado, a Associação Nacional de Mineração, que representa mineradoras de carvão, apoiou a decisão de cancelar as regras para usinas de energia. Segundo eles, essa mudança já era necessária, pois a demanda por energia aumentou com o crescimento da inteligência artificial e dos data centers.
Crise climática pode causar prejuízo de R$ 8 trilhões nos EUA
As mudanças climáticas já estão afetando diretamente a economia global. Nos Estados Unidos, os impactos são cada vez mais evidentes, principalmente no mercado imobiliário. De acordo com um estudo da empresa First Street, as perdas causadas pelos desastres climáticos podem ultrapassar US$ 1,47 trilhão (R$ 8,38 trilhões). Esse prejuízo representa uma parcela significativa do setor, avaliado em US$ 50 trilhões (R$ 294,77 trilhões).
Os principais fatores que impulsionam essa desvalorização são o aumento dos custos de seguro e a mudança no comportamento dos consumidores. As regiões mais vulneráveis a eventos climáticos extremos estão perdendo população e atração econômica, enquanto outras, menos expostas a riscos ambientais, estão se tornando mais valorizadas.
O crescente custo dos seguros
O aumento na frequência e intensidade de furacões, tempestades e incêndios florestais está elevando os custos dos seguros. Com riscos mais altos, as seguradoras estão repassando os custos para os proprietários de imóveis, tornando mais caro viver em certas regiões.
Os estados do sul e oeste dos EUA, conhecidos como “Sun Belt”, ou “Cinturão do Sol” (termo que se refere à região que abrange estados do sul e do sudoeste, com clima quente e ensolarado, como Flórida, Texas e Califórnia), estão entre os mais afetados. Cidades como Miami, Jacksonville, Tampa, Nova Orleans e Sacramento já sofrem os impactos desse aumento. Propriedades nessas áreas estão se tornando cada vez mais difíceis de segurar, o que pode desvalorizar os imóveis e incentivar a migração para regiões menos arriscadas.
Os incêndios florestais na Califórnia, por exemplo, têm causado prejuízos bilionários. O JP Morgan (uma das maiores instituições financeiras e bancos de investimentos do mundo) estima que os danos recentes podem ultrapassar US$ 20 bilhões (R$ 117,9 bilhões). Projeções da AccuWeather indicam perdas econômicas entre US$ 52 bilhões e US$ 57 bilhões (cerca de R$ 307 bilhões).
Migração para regiões mais seguras
O estudo da First Street também projeta que até 2055, cerca de 55 milhões de americanos podem se mudar para áreas menos vulneráveis. A mudança começará de forma mais expressiva a partir de 2025, com a migração de 5,2 milhões de pessoas. Estados como Montana e Wisconsin, localizados no norte dos EUA, devem receber mais moradores por serem menos afetados por eventos climáticos extremos.
Essa redistribuição populacional pode alterar padrões econômicos e a valorização imobiliária nos próximos anos. Regiões tradicionalmente atrativas por seu clima ameno e custo de vida mais baixo podem perder habitantes, enquanto áreas antes menos procuradas podem se tornar novos polos residenciais.
O papel da adaptação climática
Os impactos das mudanças climáticas não são irreversíveis. Medidas de adaptação, como construções mais resistentes a desastres naturais e sistemas de drenagem aprimorados, podem reduzir os prejuízos econômicos.
No entanto, o estudo da First Street não leva em conta essas possíveis soluções, o que significa que os impactos estimados podem ser menores caso haja investimento em infraestrutura resiliente.
Leia também: Governo brasileiro se pronuncia sobre as tarifas de Trump; saiba mais