Nesta quarta-feira (18), o mercado financeiro viu o dólar e a bolsa brasileira encerrarem o dia em queda, refletindo a decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, de cortar as taxas de juros em 0,5 ponto percentual.
A medida, a primeira desde 2020, coloca as taxas norte-americanas na faixa de 4,75% a 5%. O movimento impactou as bolsas e moedas globais, especialmente em mercados emergentes, como o Brasil, que agora aguarda ansiosamente pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa Selic.
O principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, registrou uma queda de 0,9%, fechando aos 133.747,69 pontos. Enquanto isso, o dólar recuou 0,48%, cotado a R$ 5,4601. Essa queda reflete a expectativa dos investidores por um aumento na Selic, atualmente em 10,5% ao ano e poderá subir 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom.
Impacto do corte de juros nos EUA
O anúncio do corte dos juros pelo Fed era amplamente esperado pelo mercado, sendo uma decisão crucial para a economia dos EUA. A medida visa estimular o crescimento econômico e ajustar as condições financeiras, com o intuito de combater possíveis desacelerações e manter a inflação sob controle. No entanto, a decisão também afeta os mercados globais, já que a economia americana tem grande influência sobre as demais.
Com a redução nas taxas de juros dos EUA, há um movimento de realocação de capitais em direção a economias emergentes, como a brasileira que oferecem taxas de retorno mais atrativas para investidores internacionais. De acordo com Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, “a reação do mercado foi positiva inicialmente, pois o capital tende a buscar retornos maiores em mercados emergentes, mas ainda estamos em um momento especulativo, enquanto os investidores ajustam seus modelos e previsões”.
Bolsa brasileira caiu tanto quanto o dólar?
A queda de 0,9% no Ibovespa foi intensificada pela expectativa em torno da decisão do Copom que pode aumentar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual. Além disso, as ações da Petrobras também influenciaram o desempenho do índice, com uma queda de 2,4%. A estatal viu suas ações recuarem após negar informações sobre um suposto corte nos preços dos combustíveis, os preços que circularam mais cedo no mercado.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, explicou que “o mercado operou com cautela, à espera da decisão do Copom, o que gerou uma pressão adicional no Ibovespa”. As perdas no mercado brasileiro ocorrem em um contexto de incerteza quanto à política monetária local, com a expectativa de um aumento nas taxas de juros como uma medida para conter a inflação e estabilizar a economia.
Outro fator que impactou a bolsa foi o desempenho do setor de commodities, com o petróleo em alta devido a choques de oferta e à possibilidade de novos cortes nas taxas de juros nos Estados Unidos. O mercado global de petróleo tem sido particularmente volátil, o que reflete diretamente no desempenho de grandes empresas brasileiras, como a Petrobras.
Expectativa sobre a Selic
A reunião do Copom, marcada para o final do dia, trouxe grande expectativa ao mercado. Analistas esperam que a taxa Selic suba de 10,5% para 10,75%, em um movimento que visa ajustar a política monetária brasileira para manter o controle da inflação. Nos últimos meses, o Brasil tem enfrentado uma pressão inflacionária moderada, mas as recentes decisões do Fed criam um cenário em que é necessário equilibrar as taxas de juros para atrair investimentos e manter a competitividade da moeda nacional.
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Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destacou que “a dinâmica de queda de juros nos EUA e uma possível alta na Selic no Brasil pode trazer um certo alívio ao real frente ao dólar”. De fato, o real tem mostrado sinais de recuperação nas últimas semanas, registrando ganhos consecutivos frente ao dólar. A valorização da moeda brasileira ocorre em um cenário em que o diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos se torna mais atrativo para os investidores internacionais.
Oportunidades e riscos para o mercado brasileiro
Apesar da queda do Ibovespa e do dólar nesta quarta-feira, o mercado brasileiro ainda apresenta oportunidades interessantes para investidores, especialmente com a perspectiva de uma alta na Selic. Ao aumentar as taxas de juros, o Brasil pode se tornar mais atraente para investidores estrangeiros que buscam melhores retornos em um ambiente de juros mais baixos nos Estados Unidos e Europa.
Por outro lado, há riscos envolvidos. O aumento da Selic pode gerar um encarecimento do crédito no Brasil, impactando negativamente o consumo e os investimentos. Isso, por sua vez, pode desacelerar o crescimento econômico e dificultar a retomada mais robusta da economia no longo prazo. A economia global também enfrenta incertezas, com uma possível desaceleração na China e volatilidade nos preços das commodities.
O corte de juros pelo Fed e a expectativa de alta na Selic trazem um cenário de incerteza para o mercado brasileiro. A queda no Ibovespa e no dólar reflete tanto o impacto imediato dessas decisões quanto a cautela dos investidores. Nos próximos meses, o mercado estará atento às políticas monetárias adotadas pelos principais bancos centrais, especialmente o Banco Central do Brasil, pois deve seguir ajustando a Selic para conter a inflação e atrair investimentos.