Nos próximos dias, acontecerá o G20, evento que reúne os principais líderes mundiais no Rio de Janeiro para discutir questões globais, como sustentabilidade e igualdade de gênero. Contudo, a Argentina vem chamando atenção por sua oposição a pautas progressistas, particularmente às políticas de igualdade de gênero promovidas pelo Brasil e outros países membros.
A postura argentina reflete as novas diretrizes diplomáticas do governo de Javier Milei e está criando um ambiente de tensão nas negociações do evento, marcado para ocorrer entre os dias 18 e 19 de novembro.
A posição argentina no G20 e suas implicações
No Rio, diplomatas de diversas nações, incluindo a Argentina, vêm discutindo uma série de temas globais importantes. As pautas de igualdade de gênero, amplamente apoiadas pelos demais países, encontraram forte resistência do governo argentino, que, sob a liderança de Milei, tem adotado uma postura mais conservadora e menos inclinada a endossar políticas progressistas, como as que visam ao empoderamento feminino e à promoção da igualdade de gênero.
A resistência da Argentina foi observada inicialmente em outubro, quando Brasília sediou a reunião do Grupo de Trabalho Empoderamento de Mulheres do G20. Na ocasião, a Argentina solicitou a exclusão total de seu nome do comunicado final, um documento que visava reunir todos os países membros em torno do compromisso com a igualdade de gênero.
A posição argentina destacou-se no contexto, visto que todos os outros membros, incluindo países tradicionalmente conservadores como Arábia Saudita e Rússia, concordaram em apoiar o conteúdo do documento.
Influência política na postura argentina
A recente vitória de Donald Trump (Partido Republicano) nas eleições dos Estados Unidos parece ter reacendido ânimos à direita, gerando ecos em lideranças políticas de perfil conservador ao redor do mundo, como o governo Milei.
A oposição do presidente argentino às políticas progressistas não é novidade, mas sua postura agora se apresenta de forma mais contundente, com uma diplomacia que reforça os ideais de seu governo e busca uma maior autonomia em pautas sociais.
Na preparação para a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, diplomatas argentinos mostraram-se inflexíveis em relação a temas que desagradam ao governo de Milei, alinhando-se a uma visão mais tradicional e até mesmo questionando a necessidade de pautas de igualdade de gênero em um evento econômico. A postura foi interpretada como um reflexo das prioridades internas de Milei, que vê a igualdade de gênero como uma questão ideológica e não de governança, um contraste direto com os esforços do Brasil e de outros países em integrar esses temas nas discussões de política global.
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O impacto nas relações bilaterais e multilaterais
A posição da Argentina coloca em xeque o papel do país nas discussões multilaterais, especialmente no G20, que representa uma plataforma global onde os países tentam alinhar suas políticas e buscar consenso em prol do desenvolvimento sustentável e inclusivo. A recusa em apoiar a igualdade de gênero é vista por alguns analistas como um obstáculo para futuras colaborações com países que priorizam os direitos humanos e a inclusão social, afetando inclusive as relações comerciais e diplomáticas da Argentina com seus parceiros internacionais.
O Brasil, como atual presidência do G20, busca manter o evento no Rio de Janeiro como um espaço de discussão sobre temas de relevância global, incluindo o empoderamento feminino. Nesse contexto, a resistência argentina desafia o Brasil e os demais membros a manterem o compromisso com essas pautas sem alienar a Argentina do processo de cooperação internacional.
Repercussão interna e externa
A postura do governo Milei também repercutiu dentro da Argentina, onde a oposição e setores da sociedade civil demonstraram preocupação com o impacto dessas políticas. Organizações de direitos humanos e grupos de defesa da igualdade de gênero criticaram abertamente a recusa do país em aderir às iniciativas do G20, apontando que a exclusão de tais pautas limita o avanço de políticas inclusivas no país e pode comprometer a imagem da Argentina no cenário global.
Já no cenário externo, o Brasil e outros países membros observam atentamente as próximas ações da diplomacia argentina, considerando que a postura de Milei pode influenciar futuras parcerias e acordos comerciais. Embora os encontros diplomáticos do G20 geralmente se concentrem em economia e desenvolvimento, a ênfase em igualdade de gênero demonstra que os países buscam integrar a dimensão social em suas políticas econômicas, uma visão que, ao que tudo indica, não será compartilhada pela Argentina durante o governo Milei.
O papel de Javier Milei e as mudanças na diplomacia argentina
A escolha de Javier Milei para liderar o governo argentino trouxe à tona uma nova fase na diplomacia do país, marcada por uma retórica que rejeita temas associados ao que o presidente vê como “pautas da esquerda.” Após sua posse, Milei nomeou o empresário Gerardo Werthein como novo chanceler, substituindo Diana Mondino, que perdeu o cargo após o país adotar uma postura controversa em relação ao embargo econômico dos EUA contra Cuba. Werthein, que fez seu juramento sob a Torá, trouxe ao governo uma perspectiva que prioriza valores religiosos e tradicionais, alinhando-se com a visão política de Milei.
A oposição às políticas de igualdade de gênero no G20, portanto, representa uma continuidade dessa nova fase na diplomacia argentina, em que temas de natureza ideológica ganham protagonismo. É um reflexo da nova orientação política que Milei imprime na diplomacia, uma estratégia que, ao mesmo tempo que reforça sua base eleitoral, desafia os compromissos multilaterais assumidos anteriormente pela Argentina.
O desenrolar do G20 no Rio de Janeiro mostrará como essa postura argentina será gerida pelas demais potências globais. O evento traz a oportunidade para o Brasil consolidar seu papel como um facilitador do diálogo internacional em torno de temas essenciais, como a igualdade de gênero. No entanto, a postura argentina evidencia a complexidade dos desafios diplomáticos, em que a busca por consenso enfrenta resistências motivadas por valores ideológicos divergentes.
Com o G20 se aproximando, o foco estará nas conversas entre líderes e na habilidade das nações em manter uma frente unida para enfrentar os desafios globais. A Argentina, ao optar por uma postura de oposição às pautas de igualdade de gênero, não só redefine seu posicionamento na esfera internacional, mas também lança luz sobre o impacto que a política interna pode ter em encontros globais de grande relevância.