Banco Central eleva taxa Selic para 11,25%

A recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a taxa Selic para 11,25% ao ano reflete um novo movimento para conter a inflação. Este aumento de 0,5 ponto percentual marca um passo importante, mas também levanta discussões sobre o impacto econômico dessa política.

A medida vem em um cenário de alta do dólar e preços elevados de alimentos, que pressionam a inflação interna, exigindo uma resposta mais agressiva do Banco Central.

Com o aumento da Selic, a intenção é reduzir a pressão sobre o IPCA, controlando o consumo e o crédito e, assim, desacelerando a alta de preços | Foto: Reprodução/Canva
Com o aumento da Selic, a intenção é reduzir a pressão sobre o IPCA, controlando o consumo e o crédito e, assim, desacelerando a alta de preços | Foto: Reprodução/Canva

Contexto e motivos da elevação da Selic

O aumento da Selic, que já vinha sendo ajustada ao longo do último ano, faz parte de uma estratégia para controlar a inflação. Após seis cortes consecutivos e um ajuste em agosto, o Copom decidiu intensificar o ritmo de elevação da taxa em resposta ao cenário internacional incerto e ao comportamento da economia americana, marcado pela política econômica indefinida dos EUA e as expectativas sobre as ações do Federal Reserve (Fed).

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Além disso, o Banco Central aponta que o Brasil precisa de ajustes na política fiscal para evitar descontrole dos gastos públicos e assegurar que a dívida seja sustentável a longo prazo. Ao manter a inflação sob controle, o Banco Central tenta reduzir os chamados “prêmios de risco” dos ativos financeiros, o que pode afetar diretamente o mercado de investimentos e, indiretamente, a vida financeira da população.

Os impactos no controle da inflação

A Selic é o principal mecanismo de controle da inflação usado pelo Banco Central. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação, atingiu 4,42% em setembro nos últimos 12 meses, chegando perto do limite da meta estabelecida para 2024, que é de 4,5%. Com o aumento da Selic, a intenção é reduzir a pressão sobre o IPCA, controlando o consumo e o crédito e, assim, desacelerando a alta de preços.

A desvalorização do real frente ao dólar e a alta dos preços dos alimentos também contribuem para a inflação no Brasil, fatores que o Banco Central monitora de perto. A seca que marcou o início do semestre impactou diretamente o custo de produtos agrícolas, refletindo-se nos preços finais. A perspectiva, então, é que, com os juros mais altos, o consumo caia e o aumento dos preços seja freado.

Consequências para o crédito e a economia

A alta na Selic traz efeitos significativos no mercado de crédito, especialmente para famílias e empresas. Juros mais altos tornam o crédito mais caro, o que desestimula o consumo e limita a capacidade de investimento das empresas. Ao encarecer o crédito, o Banco Central reduz a demanda na economia, o que pode frear o crescimento. A expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 foi ajustada para 3,2%, uma leve alta em comparação aos anos anteriores, mas esse número pode sofrer alterações caso a política monetária siga restritiva.

No entanto, essa estratégia de controle de preços pelo ajuste da Selic não vem sem custos. A contenção do crédito afeta diretamente o setor produtivo, especialmente para pequenas e médias empresas, que dependem de financiamentos para manter e expandir seus negócios. Com isso, o custo para expandir ou até manter a atividade econômica aumenta, e a expectativa de crescimento a longo prazo pode ser comprometida.

O papel da política fiscal e o impacto nos investidores

A política fiscal é um fator determinante para o sucesso das ações do Banco Central. Em seu comunicado, o Copom destacou a importância de uma política fiscal sólida e sustentável para manter a confiança nos investimentos e a estabilidade econômica. Sem ajustes estruturais nas finanças públicas, a meta de controlar a inflação pode se tornar inviável, já que a confiança dos investidores se reduz com a falta de previsibilidade e aumento do risco país.

Para investidores, a alta da Selic representa um cenário misto. Por um lado, investimentos em renda fixa, como títulos do Tesouro Direto, tornam-se mais atrativos, oferecendo rentabilidades mais elevadas, já que estão atrelados à Selic. Por outro lado, o aumento dos juros básicos pode afetar o mercado de ações, visto que empresas tendem a enfrentar maiores dificuldades para crescer em um cenário de crédito caro. Assim, as taxas elevadas podem desviar o interesse dos investidores para ativos mais seguros, impactando o fluxo de capital em setores produtivos da economia.

O futuro e as perspectivas de inflação

A estimativa do Banco Central é de que a inflação continue sob pressão, com previsão do IPCA em 4,6% para 2024, acima da meta. Nos anos seguintes, a previsão é de uma desaceleração gradual, com 3,9% para 2025 e 3,6% no acumulado de 12 meses no fim do primeiro trimestre de 2026. Esses números refletem uma abordagem de longo prazo do Banco Central, que utiliza um “horizonte ampliado” para projetar a inflação.

Contudo, especialistas no mercado financeiro estão cautelosos, prevendo que a inflação poderá ultrapassar 4,5% no final de 2024. O Boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central com economistas e instituições financeiras, aponta uma expectativa de inflação em 4,59%, acima da meta e indicando um cenário de incertezas para os próximos meses.

Um equilíbrio difícil para o Banco Central

A decisão do Banco Central de aumentar a Selic para 11,25% reflete uma estratégia voltada ao controle da inflação, mas com impacto direto sobre o consumo, o crédito e o crescimento econômico. Esse movimento traz desafios para o setor produtivo e para consumidores, que podem enfrentar um custo de crédito ainda mais elevado, limitando o crescimento econômico. Ao mesmo tempo, a elevação da taxa de juros oferece alternativas seguras de investimento em renda fixa, favorecendo quem busca segurança em um cenário de incerteza.

Dessa forma, o Banco Central caminha em uma linha tênue entre conter a inflação e sustentar o crescimento econômico. As próximas reuniões do Copom devem seguir monitorando o cenário interno e externo, com ajustes de acordo com o comportamento dos preços e da economia global.

Esse ciclo de política monetária, mais conservador, mostra que o Brasil, assim como outros países, ainda enfrenta desafios complexos para equilibrar estabilidade econômica e desenvolvimento em um cenário de incertezas globais.

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