Importação de gás natural: Brasil e Argentina fecham acordo

O Brasil deu um passo estratégico para diversificar sua matriz energética ao formalizar um acordo para importar gás natural da Argentina. A iniciativa promete aliviar a pressão sobre setores industriais brasileiros, reduzir custos e criar uma alternativa ao gás boliviano, cuja oferta vem caindo nos últimos anos.

O gás será extraído da reserva de Vaca Muerta, na Argentina, considerada uma das maiores reservas de gás de xisto do mundo. Embora a medida seja promissora do ponto de vista econômico, questões ambientais e sociais levantam debates sobre a sustentabilidade da iniciativa.

Por que o Brasil precisa de gás natural argentino?

O gás natural é um dos pilares da matriz energética brasileira, especialmente para setores industriais como cerâmica, vidro, siderurgia e papel e celulose. Atualmente, boa parte do gás utilizado no país é importado da Bolívia. Contudo, a oferta boliviana tem diminuído, gerando incertezas sobre a capacidade de atender à demanda crescente no Brasil.

Com a crise na oferta boliviana, o gás argentino surge como uma alternativa viável. O custo estimado de US$ 7 a US$ 8 por milhão de BTU (unidade térmica britânica) pode ser reduzido com o novo fornecimento, contribuindo para a competitividade da indústria nacional e aliviando o peso sobre consumidores e empresas.

Além disso, o Brasil busca diversificar suas fontes de energia, reduzindo a dependência de um único fornecedor e fortalecendo a segurança energética do país.

O que é a reserva de Vaca Muerta?

Produção em Vaca Muerta deve atingir pico de 1,2 milhão de barris de óleo equivalente ao dia em 2033(Shell) | Foto: Reprodução/Vaca Muerta

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Produção em Vaca Muerta deve atingir pico de 1,2 milhão de barris de óleo equivalente ao dia em 2033 | Foto: Reprodução/Vaca Muerta

Localizada na província de Neuquén, a reserva de Vaca Muerta é uma das maiores formações de gás de xisto no mundo. Estima-se que a região tenha potencial para fornecer gás natural por décadas, colocando a Argentina como um player importante no mercado energético global.

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No entanto, o gás de Vaca Muerta é extraído por meio do fraturamento hidráulico, ou fracking, uma técnica controversa que consiste em injetar água, areia e produtos químicos em alta pressão para liberar o gás armazenado em rochas subterrâneas.

Questões ambientais e sociais em debate

A exploração de gás em Vaca Muerta tem enfrentado resistência de ambientalistas e comunidades indígenas locais. A técnica é considerada agressiva para o meio ambiente, com riscos de contaminação de lençóis freáticos, emissão de gases de efeito estufa e impactos na biodiversidade da região.

Além disso, a reserva está localizada em uma área de preservação ambiental e abriga comunidades indígenas que dependem do equilíbrio ecológico para sua sobrevivência. O governo argentino tem sido pressionado a garantir que os lucros da exploração não ocorram à custa do meio ambiente e das populações locais.

Para o Brasil, a parceria traz reflexões importantes sobre o papel da sustentabilidade em sua política energética. O acordo pode ser uma oportunidade para promover práticas mais responsáveis e transparentes, tanto na Argentina quanto no Brasil, para garantir que os benefícios econômicos sejam equilibrados com a preservação ambiental.

Benefícios econômicos e desafios logísticos

Do ponto de vista econômico, a importação de gás argentino pode trazer uma série de vantagens para o Brasil:

  • Redução de custos: a ampliação da oferta pode reduzir os preços do gás no mercado interno, beneficiando indústrias e consumidores.
  • Competitividade industrial: com custos energéticos menores, setores industriais podem aumentar sua produtividade e competitividade global.
  • Diversificação de fornecedores: o Brasil reduz sua dependência do gás boliviano, fortalecendo sua segurança energética.

No entanto, o acordo enfrenta desafios logísticos. A construção de infraestrutura para o transporte do gás, como gasodutos e sistemas de distribuição, será necessária para viabilizar o fornecimento. Além disso, o acordo ainda precisa passar por etapas de aprovação nos dois países, o que pode levar tempo.

O papel estratégico da energia para o Brasil

A parceria entre Brasil e Argentina reflete a importância estratégica da energia para o desenvolvimento econômico e social de ambos os países. A ampliação da oferta de gás pode não apenas fortalecer a indústria brasileira, mas também criar uma rede de cooperação mais sólida entre os países do Mercosul.

Por outro lado, a sustentabilidade e os impactos sociais não podem ser ignorados. O Brasil tem a oportunidade de exercer influência para que práticas responsáveis sejam adotadas em toda a cadeia de produção, garantindo que o acordo beneficie as gerações atuais e futuras.

O acordo para importar gás natural da Argentina representa uma oportunidade importante para o Brasil enfrentar desafios energéticos e fortalecer sua economia. Com benefícios potenciais que incluem a redução de custos e maior segurança no fornecimento, o pacto é uma resposta às dificuldades geradas pela queda na oferta boliviana.

No entanto, questões ambientais e sociais ligadas à exploração de gás em Vaca Muerta demandam atenção. A sustentabilidade deve estar no centro das discussões para que a iniciativa promova desenvolvimento econômico sem comprometer o equilíbrio ecológico e os direitos das comunidades locais.

Ao avançar com o acordo, Brasil e Argentina têm a chance de construir um modelo de cooperação energética que priorize a inovação, a responsabilidade ambiental e o crescimento sustentável.

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