Vitória de Trump: impactos na economia global e no Brasil

A recente vitória de Donald Trump (Partido Republicano) nas eleições dos Estados Unidos gerou uma onda de reações e análises ao redor do mundo. Muitos especialistas acreditam que a política econômica de Trump deve causar impactos significativos no cenário global, influenciando desde as relações comerciais até a inflação e as taxas de juros de diversos países.

Para além das mudanças internas que já são aguardadas nos EUA, como reformas fiscais e desregulamentações, o efeito dominó sobre a economia mundial poderá ser profundo e, em alguns casos, desafiador.

Donald Trump vence eleições. Foto: Ryan M. Kelly
Donald Trump vence eleições e movimenta o mercado financeiro | Foto: Reprodução/ Ryan M. Kelly

Políticas de Trump e o impacto sobre o comércio global

Uma das principais bandeiras de Trump durante sua campanha foi o protecionismo comercial, com destaque para a imposição de tarifas de importação. Isso inclui uma proposta de 10% sobre as importações de qualquer país e uma tarifa específica de 60% para produtos chineses. Na prática, essas medidas afetam diretamente o comércio global, elevando custos de importação e, consequentemente, os preços para os consumidores.

As tarifas impactam o crescimento econômico global e tendem a afetar as finanças de países exportadores, que veem a competitividade de seus produtos no mercado norte-americano diminuir. Em resposta, muitas empresas repassam esses custos aos consumidores, resultando em inflação.

Nos EUA, isso pode forçar o Federal Reserve a adotar uma política monetária mais rigorosa, com possível elevação das taxas de juros.

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o crescimento global já estava em desaceleração, com projeção de aumento do PIB mundial de apenas 3,2% para o próximo ano. As tarifas comerciais de Trump colocam ainda mais pressão sobre essa previsão, podendo prejudicar as projeções econômicas de várias nações e, em especial, de mercados emergentes.

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Pressão sobre o dólar e os mercados emergentes

A política fiscal de Trump, que combina tarifas elevadas com um aumento dos gastos públicos, poderá desencadear uma elevação no valor do dólar. Esse cenário coloca países emergentes em uma situação delicada, já que mais de 60% das dívidas internacionais estão em dólares. Um dólar mais forte encarece o pagamento dessas dívidas, sobrecarregando economias em desenvolvimento e aumentando o custo dos empréstimos.

O México, por exemplo, já sente o peso das políticas de Trump. Com a retórica de fechamento de fronteiras e uma postura mais restritiva em relação à imigração, o peso mexicano desvalorizou 3% logo após o anúncio da vitória de Trump. Essa instabilidade tem o potencial de agravar problemas internos, como a violência e as dificuldades econômicas, uma vez que o México é fortemente dependente do comércio com os EUA.

Efeito para a China e a busca por novos mercados

Com o aumento das tarifas direcionadas a produtos chineses, a China pode intensificar sua busca por novos mercados. No primeiro mandato de Trump, o país asiático já redirecionou parte de suas exportações, como a soja, para outros parceiros comerciais, especialmente o Brasil. Agora, essa tendência deve se intensificar, e a China poderá buscar ainda mais alternativas para reduzir sua dependência dos EUA.

Para o Brasil, isso representa uma oportunidade: a ampliação das exportações para o mercado chinês pode beneficiar setores como o agronegócio, que foi favorecido durante a primeira gestão de Trump. Com isso, as exportações brasileiras de produtos agrícolas, especialmente soja e carne, podem ver um crescimento expressivo.

A posição da Europa e os desafios com a OTAN

Outro efeito significativo da vitória de Trump envolve as relações com a Europa. Trump já expressou diversas vezes seu descontentamento com a aliança militar ocidental OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), defendendo que os países europeus assumam um papel mais ativo e contribuam mais financeiramente para a defesa regional. Se essa política for mantida, a Europa precisará aumentar seus investimentos em defesa.

Contudo, muitos países europeus enfrentam restrições orçamentárias devido à alta dívida pública, que representa, em média, 90% do PIB europeu. A necessidade de investir mais em defesa pode ser um desafio adicional em um continente que já está lidando com uma economia fragilizada, especialmente em decorrência das pressões inflacionárias globais e das sanções econômicas impostas à Rússia.

Desregulamentação e impactos no setor financeiro

Outro ponto polêmico na política econômica de Trump é a possível retirada de regulamentações financeiras, como as regras de Basileia 3, que visam tornar os bancos mais resilientes a crises. Essas medidas estão previstas para serem aplicadas a partir de janeiro do próximo ano, mas podem enfrentar resistência caso os EUA decidam se distanciar dessas normas internacionais.

A desregulamentação, segundo especialistas, pode aumentar a vulnerabilidade do sistema financeiro global. Embora ofereça um alívio para alguns setores, ela também eleva o risco de instabilidade financeira, uma vez que os bancos teriam menos restrições para suas operações. O impacto disso pode ser sentido tanto nos EUA quanto em mercados que têm relações econômicas profundas com o país, já que os bancos norte-americanos desempenham um papel de destaque nas finanças globais.

O que esperar para o Brasil?

Para o Brasil, a vitória de Trump traz pontos de atenção e algumas oportunidades. No campo do agronegócio, a política protecionista dos EUA abre espaço para que produtos brasileiros ganhem maior participação no mercado chinês. Além disso, a valorização do dólar, impulsionada pela política fiscal expansionista de Trump, beneficia os exportadores brasileiros, já que seus produtos se tornam mais competitivos.

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Por outro lado, o Brasil também pode enfrentar desafios. Se a economia global desacelerar devido ao aumento das tarifas e ao impacto inflacionário nos EUA, a demanda por commodities e produtos brasileiros pode ser afetada. Além disso, com o encarecimento do dólar, o Brasil poderá ver um aumento nos custos de importação, pressionando a inflação doméstica.

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