O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia assinado após 25 anos de negociações, deve beneficiar produtos como azeite, vinho, queijos e carros importados. O tratado foi fechado durante a reunião de líderes do Mercosul, em Montevidéu.
Com o acordo, 91% das importações da União Europeia para o Mercosul não terão tarifas, e fornecedores europeus serão tratados como se fossem do mercado local. Isso pode reduzir os preços de produtos importados no Brasil, especialmente nos setores de alimentos e automóveis.
Na agropecuária, produtos como lácteos, azeites, vinhos e frutas que o Brasil produz em menor quantidade podem ficar mais baratos. O pesquisador Felippe Serigatti explica que o mercado brasileiro vai enfrentar mais concorrência, principalmente no setor de vinhos, onde a Europa tem tradição e variedade. Ele também destaca que os produtos lácteos serão muito impactados, pois a produção europeia é maior e mais barata devido a subsídios.
A União Europeia vai eliminar todas as tarifas industriais em até 10 anos, e o Mercosul reduzirá 91% de suas tarifas em até 15 anos. O azeite de oliva, que o Brasil quase não produz, poderá ter preços mais acessíveis, beneficiando consumidores. Recentemente, o azeite ficou mais caro por causa de secas na Europa, que afetaram países como Espanha e Portugal.
No setor automotivo, carros importados de alto padrão devem se tornar mais baratos e acessíveis no Brasil. Segundo especialistas, o mercado de serviços também será beneficiado, com novas oportunidades para áreas como consultoria e tecnologia. O acordo deve facilitar o comércio internacional, viagens de trabalho e a presença de empresas dos dois blocos.
Os economistas foram entrevistados pela CNN.
Acordo histórico
O Mercosul e a União Europeia anunciaram a conclusão de um acordo de livre comércio nesta sexta-feira (6), durante a cúpula do Mercosul em Montevidéu, no Uruguai. A oficialização foi feita após mais de 20 anos de negociações, iniciadas em 1999. O documento, que já está pronto para revisão jurídica e tradução, será assinado após essas etapas serem concluídas nos próximos meses.
Durante o evento, Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, destacou que a parceria formará uma das maiores alianças comerciais e de investimentos do mundo, abrangendo um mercado de mais de 700 milhões de consumidores. A cerimônia contou com a presença dos líderes dos países do Mercosul, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e os presidentes Javier Milei (Argentina), Santiago Peña (Paraguai) e Luis Lacalle Pou (Uruguai).
Após a assinatura, o acordo será submetido aos trâmites internos de cada país, e no Brasil, isso inclui a aprovação pelo Congresso Nacional. Uma vez aprovado, poderá ser ratificado, permitindo sua entrada em vigor. Com uma população de cerca de 718 milhões de pessoas e um PIB combinado de aproximadamente US$ 22 trilhões, a parceria representa uma das maiores zonas de comércio do planeta.
Mercosul e União Europeia: uma das maiores alianças comerciais do mundo
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, anunciou o acordo entre União Europeia e Mercosul, formando um mercado com mais de 700 milhões de consumidores. O tratado visa impulsionar cadeias de valor, indústrias estratégicas e gerar empregos.
Von der Leyen destacou salvaguardas para proteger o mercado europeu, especialmente nos setores de alimentos e bebidas, e benefícios para 60 mil empresas exportadoras, incluindo 30 mil pequenas e médias, com tarifas reduzidas e processos aduaneiros simplificados.
O acordo também promoverá o comércio em setores estratégicos, como eletricidade, trazendo vantagens para consumidores e empresas de ambos os blocos.
Posicionamento do Presidente Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o novo acordo entre o Mercosul e a União Europeia, firmado pelo governo, corrige as condições “inaceitáveis” do pacto de 2019 e inclui temas de relevância para o Mercosul. A proposta atual garante a preservação de interesses brasileiros em compras governamentais, permitindo a implementação de políticas públicas em áreas como saúde, agricultura familiar, ciência e tecnologia.
O objetivo principal do pacto é eliminar as tarifas de importação para mais de 90% dos produtos entre os blocos, facilitando o comércio e estreitando os laços econômicos. No entanto, as compras governamentais foram um ponto de divergência, pois o acordo original previa que empresas europeias competissem de forma igualitária com fornecedores locais no Mercosul, o que poderia prejudicar a indústria nacional.
O Mercosul conseguiu reverter essa cláusula, destacando que as compras públicas são fundamentais para a nova política industrial brasileira. Um ponto de destaque foi a exclusão completa do Sistema Único de Saúde (SUS) do acordo. Isso garante que o Ministério da Saúde continue privilegiando fornecedores brasileiros, sem abrir concorrência a empresas europeias, preservando critérios nacionais nos processos licitatórios.
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