O retorno de Donald Trump à Casa Branca como o 47º presidente dos Estados Unidos marca um ponto de inflexão para a economia global. Ele toma posse nesta segunda-feira, 20 de janeiro, em uma cerimônia amplamente aguardada, enquanto investidores e economistas ajustam suas expectativas para os mercados globais.
O otimismo prevalece nos mercados americanos, enquanto a política econômica de Trump levanta questões sobre o impacto em países emergentes e setores-chave.
Mercados americanos: um cenário otimista
Os investidores americanos veem o início do mandato de Trump como uma oportunidade para ganhos significativos em ações e criptomoedas. Especialistas indicam que cortes de impostos, um dos pilares de sua campanha, podem impulsionar ainda mais o mercado acionário no curto prazo.
João Picioni, da Empíricus Gestão*, revela acreditar que o otimismo do mercado já começou a ser precificado, mas ressalta que as ações de Trump após a posse podem acelerar esse movimento. “O mercado acionário americano tende a se valorizar com intensidade, especialmente se medidas econômicas forem robustas”, afirma.
No entanto, os cortes de impostos também trazem desafios. Caso sejam mais modestos do que o esperado, pode haver reversão na precificação positiva observada nos últimos meses.
Países emergentes sob pressão
Apesar do otimismo nos EUA, os mercados emergentes, como o Brasil, enfrentam perspectivas desafiadoras. A política tarifária de Trump tende a impactar negativamente esses países, fortalecendo ativos americanos em detrimento de economias emergentes.
Mauricio Valadares, da Nau Capital*, observa que o Brasil, com sua forte dependência de exportações, pode sentir os efeitos das tarifas e do fortalecimento do dólar. Empresas exportadoras de commodities, como Petrobras e Suzano, podem se beneficiar, mas setores que dependem de insumos importados, como varejo e indústria, enfrentam riscos significativos.
Criptomoedas em destaque
O setor de criptomoedas também está no centro das atenções. Com ordens executivas esperadas para favorecer o Bitcoin e outras moedas digitais, o mercado cripto vive uma nova onda de otimismo. Felipe Martorano, da Levante Inside Corp*, destaca que Trump poderia até mesmo anunciar a criação de um “estoque estratégico de Bitcoin”, medida que impulsionaria o setor.
Ainda assim, a volatilidade permanece. Promessas não cumpridas ou sinais de controle estatal poderiam desencadear correções abruptas no mercado.
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Dólar e inflação: o equilíbrio delicado
A política protecionista de Trump tem impacto direto no dólar e na inflação. Medidas contra importações aumentam custos, dificultando cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed). Juros altos, por sua vez, fortalecem o dólar, criando um cenário desafiador para países que possuem dívidas atreladas à moeda americana.
Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad*, destaca que o eleitorado de Trump é sensível à alta de preços, o que pode levar o governo a redesenhar medidas para equilibrar o impacto inflacionário.
Setores mais impactados
Setores como tecnologia, saúde e energia enfrentam diferentes cenários sob o governo Trump. Enquanto combustíveis fósseis podem se beneficiar de políticas protecionistas, áreas como tecnologia e automotivo enfrentam incertezas devido a tarifas e restrições comerciais.
Gianluca Di Matina, da Hike Capital*, aponta que o setor de saúde também enfrenta volatilidade, com potenciais desregulamentações e alterações nos preços de medicamentos. No Brasil, empresas como Weg e Embraer podem se beneficiar do dólar alto, enquanto varejistas como Lojas Renner enfrentam dificuldades com custos crescentes de importação.
O retorno de Donald Trump à presidência dos EUA traz uma mistura de otimismo e incerteza para os mercados globais. Enquanto os investidores americanos esperam ganhos significativos, países emergentes e setores específicos enfrentam desafios complexos.
O impacto econômico das políticas de Trump será moldado por suas ações nos próximos meses, exigindo atenção redobrada de investidores e gestores. A capacidade do governo de equilibrar medidas protecionistas com crescimento econômico será fundamental para determinar o rumo dos mercados, do dólar e da inflação em 2025.
*Entrevistas concedidas ao Estadão