O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste domingo, 9 de fevereiro, que a partir desta segunda-feira, 10 de fevereiro, serão aplicadas tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. A medida faz parte de sua revisão das políticas comerciais do país.
Entre os impactos dessa decisão, três siderúrgicas brasileiras — ArcelorMittal, Ternium e CSN — serão diretamente afetadas. Essas empresas são as principais exportadoras de produtos semiacabados para os Estados Unidos, com um total de US$ 2,8 bilhões (R$ 16,3 bilhões) em exportações para o mercado americano em 2024.
A ArcelorMittal e a Ternium, por exemplo, produzem grande parte de seus itens em Pecém (CE) e no Rio de Janeiro, enviando-os para as indústrias americanas transformá-los em produtos finais.
Outro ponto relevante é que o Brasil importa anualmente cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,81 bilhões) em carvão dos EUA, utilizado na fabricação de produtos metálicos. Uma queda na produção brasileira pode, portanto, afetar também essas limitações.
Em 2019, o governo de Jair Bolsonaro já havia enfrentado uma situação similar, quando os Estados Unidos impuseram tarifas de 25% sobre os produtos metálicos e 10% sobre o alumínio, alegando questões de segurança nacional. Na época, o Brasil, junto com Argentina e Coreia do Sul, negociou acordos para garantir isenção da sobretaxa, mediante cotas de importação.
Atualmente, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tenta reabrir negociações com os EUA, mas enfrenta dificuldades devido à falta de canais de comunicação com a nova administração americana.
Até o momento, não houve conversas de alto nível com o USTR (representação comercial dos EUA), o Departamento de Comércio ou outras agências relevantes.
Mais tarifas a vista
Além disso, Trump anunciou que novas tarifas recíprocas devem ser reveladas entre terça-feira, 11 de fevereiro, e quarta-feira, 12 de fevereiro, com início imediato. O Brasil também deve ser afetado por essas tarifas.
No caso do alumínio, as exportações brasileiras para os EUA aumentaram 16% de 2023 para 2024, alcançando US$ 796 milhões (R$ 4,63 bilhões), o que representa 14% do total das exportações do setor.
Durante seu primeiro mandato, Trump já havia imposto tarifas sobre os produtos metálicos, mas posteriormente concedeu isenções a países como Canadá, México, União Europeia e Reino Unido, com quotas isentas de impostos.
Brasil reagirá com cautela e sem alarde
O governo brasileiro não foi pego de surpresa com o anúncio de Donald Trump, feito no último domingo, sobre a imposição de tarifas de 25% sobre os produtos metálicos e o alumínio importados pelos Estados Unidos. A medida, que já havia sido adotada durante o primeiro mandato de Trump, era esperada por autoridades brasileiras, que previam seu retorno no início da segunda gestão do presidente americano.
A avaliação inicial de economistas do governo brasileiro é de que, embora preocupante, a decisão não seja totalmente negativa. A principal razão é que as tarifas são aplicadas de forma unilateral, ou seja, direcionadas a todos os fornecedores, sem se concentrar exclusivamente no Brasil.
Porém, o impacto sobre as siderúrgicas brasileiras, que em 2024 exportaram US$ 2,8 bilhões (R$ 16,3 bilhões) em semiacabados para os EUA, continua a ser uma preocupação. Esses produtos representaram quase 7% de todas as exportações brasileiras para o mercado americano.
Integrantes da área econômica do governo, incluindo assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defendem uma postura cautelosa diante da medida, sem adotar uma resposta combativa imediata. A estratégia é buscar uma negociação com os Estados Unidos, principalmente porque o Brasil não foi o único país afetado pelas novas tarifas.
Apesar disso, um ponto de atenção para os diplomatas brasileiros é a falta de canais de comunicação estabelecidos com a administração Trump. Até o momento, o Itamaraty e o Palácio do Planalto não conseguiram estabelecer um contato fluido com as principais autoridades do governo americano, como o Departamento de Estado, o Departamento de Comércio, o USTR (representação comercial dos EUA) e o Conselho de Segurança Nacional, órgãos que seriam os interlocutores ideais para tratar do tema.
Além da preocupação com os produtos metálicos e o alumínio, o governo brasileiro também esperava pressões da Casa Branca sobre o setor de etanol. Durante o primeiro mandato de Trump, o Brasil havia isentado o etanol americano de tarifas, beneficiando a produção do biocombustível dos Estados Unidos.
No entanto, as tarifas sobre o etanol voltaram a 18% em 2023, um reflexo da pressão do “Corn Belt” (Cinturão do Milho) — uma região crucial para a base eleitoral republicana, composta por estados como Iowa, Nebraska e Missouri.
A imposição de tarifas sobre o aço e o alumínio pode representar um ponto de inflexão nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, forçando os dois países a se sentarem à mesa em busca de uma solução negociada.
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