A indústria brasileira tem perdido espaço no comércio internacional, enquanto as exportações primárias crescem. O presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, alertou em entrevista para a CNN que o país caminha para a reprimarização da economia, com a diminuição da participação da indústria de transformação nas exportações.
Exportações primárias ganham espaço
A balança comercial brasileira de 2024 registrou um superávit de US$ 74,6 bilhões, equivalente a R$ 369,27 bilhões, um dos maiores da história. No entanto, a participação da indústria de transformação caiu de 64% para 52% em dez anos. Produtos como açúcar, óleos combustíveis e carne bovina têm dominado as exportações.
“A reprimarização das exportações é preocupante, pois significa menor agregação de valor e menor competitividade industrial”, afirmou Velloso. Esse movimento pode impactar negativamente a geração de empregos qualificados e a inovação no país. A dependência do setor primário torna a economia mais vulnerável às oscilações do mercado internacional, principalmente em períodos de queda nos preços das commodities.
Além disso, a exportação de produtos primários não incentiva o desenvolvimento tecnológico e industrial, limitando o crescimento econômico sustentável. O Brasil já foi referência em diversos setores industriais, como aeronáutico, automotivo e de tecnologia, mas a redução dos investimentos ameaça essa posição.
Importação de bens de capital cresce, mas investimentos caem
Embora as importações de bens de capital tenham crescido 25,6% em 2024, o investimento em máquinas caiu 35% em relação a dez anos atrás. Isso indica que o país não está investindo na modernização da indústria como deveria. “O consumo aparente de máquinas caiu, e isso não é um bom sinal para a produtividade brasileira”, destacou Velloso.
A falta de investimentos também afeta a competitividade global da indústria nacional. Sem inovação e modernização, os produtos brasileiros perdem espaço no mercado internacional. Empresas que não conseguem acompanhar os avanços tecnológicos acabam ficando para trás, reduzindo ainda mais a participação da indústria de transformação nas exportações.
Outro ponto preocupante é a dificuldade de acesso ao crédito para pequenos e médios empresários do setor industrial. O alto custo do financiamento dificulta a renovação de equipamentos e a ampliação das operações, agravando ainda mais o cenário da desindustrialização.
Impacto da guerra comercial entre EUA e China
A disputa comercial entre Estados Unidos e China tem afetado o Brasil. Com as restrições americanas aos produtos chineses, a China busca novos mercados, incluindo o brasileiro. Isso gera maior concorrência para a indústria nacional, especialmente nos setores de máquinas e automóveis.
“O Brasil já está sentindo os efeitos desse movimento. Produtos chineses que antes iam para os EUA agora buscam espaço aqui, dificultando a competitividade da indústria nacional”, explicou Velloso.
Esse aumento da concorrência pode levar à queda de preços no setor industrial brasileiro, reduzindo as margens de lucro e tornando mais difícil para as empresas nacionais competirem com produtos estrangeiros. Como resultado, muitas indústrias podem ser forçadas a reduzir suas operações ou até mesmo encerrar suas atividades, impactando diretamente o nível de emprego no país.
Apesar dos desafios, os EUA continuam sendo o principal destino das exportações de máquinas e equipamentos brasileiros, com 26% do total em 2024, seguidos por Argentina (9%), Cingapura (6,2%) e México (6%). A manutenção e o fortalecimento dessas parcerias comerciais são fundamentais para a recuperação do setor industrial brasileiro.
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Caminhos para fortalecer a indústria nacional
Para reverter essa tendência de reprimarização, especialistas apontam que o Brasil precisa investir mais em inovação, infraestrutura e políticas industriais estratégicas. A diversificação da pauta exportadora e o estímulo à manufatura de alto valor agregado são fundamentais para garantir competitividade no cenário global.
Além disso, é essencial que o governo crie incentivos fiscais para indústrias que investem em pesquisa e desenvolvimento, além de melhorar a capacitação da mão de obra nacional. Um setor industrial forte gera empregos qualificados, impulsiona a economia e reduz a dependência do país de produtos importados.
A retomada do crescimento industrial passa por medidas concretas de incentivo à produtividade e à modernização do setor. Caso contrário, o Brasil poderá perder ainda mais espaço no comércio internacional, consolidando sua dependência de commodities e produtos de baixo valor agregado.
A recuperação da indústria exige esforços conjuntos entre governo, empresas e instituições financeiras para criar um ambiente propício ao desenvolvimento tecnológico e à inovação, garantindo um futuro mais sólido para a economia brasileira.