O Carrefour, uma das maiores redes de supermercados do Brasil, surpreendeu o mercado ao anunciar a descontinuação de seu modelo de lojas autônomas em condomínios residenciais e comerciais. No último final de semana, a empresa fechou 29 unidades localizadas na Grande São Paulo e no ABC Paulista, deixando moradores e clientes sem aviso prévio.
A decisão de encerrar esse formato, que vinha sendo uma das apostas da varejista nos últimos anos, reflete uma mudança estratégica da companhia e levanta questões sobre o futuro do segmento de lojas autônomas no país.
Uma estratégia que não vingou
Em 2022, o Carrefour havia apostado forte no modelo de lojas autônomas em condomínios. À época, a rede enxergava grande potencial de expansão nesse formato, especialmente na Grande São Paulo. João Gravata, então diretor de Proximidade do Carrefour, destacou que a empresa havia mapeado regiões estratégicas e previa um crescimento acelerado do número de lojas autônomas, consideradas mais ágeis e convenientes para o público que busca praticidade nas compras cotidianas.
Contudo, pouco mais de dois anos após esse anúncio, a realidade se mostrou diferente. O Carrefour fechou todas as unidades desse formato sem apresentar detalhes dos motivos. A decisão pegou de surpresa não apenas os consumidores, mas também os gestores dos condomínios onde as lojas estavam localizadas.
Thamara Agnolo, síndica de um condomínio na Vila Prudente, São Paulo, disse que ficou chocada ao receber a notícia do fechamento da loja em seu prédio. “A funcionária responsável pela reposição de mercadorias trancou a loja e colocou um aviso na porta”, contou. Segundo Thamara, o espaço funcionava há um ano e meio e tinha bom movimento, especialmente aos finais de semana.
Impacto que a saída do Carrefour teve no mercado
Com a saída do Carrefour, o segmento de lojas autônomas em condomínios ficou praticamente sob o domínio do Hirota, que já atua nesse formato desde 2020 e atualmente possui 133 unidades em funcionamento. Helio Freddi, diretor do Hirota, afirmou que a varejista foi procurada por 12 condomínios interessados em substituir as lojas do Carrefour. O plano do Hirota é chegar a 150 unidades até o final de 2024, absorvendo parte dos espaços deixados pela concorrente.
Enquanto o Carrefour optou por abandonar o modelo, empresas como o Hirota continuam apostando no segmento, apesar dos desafios logísticos e de segurança. Segundo Freddi, um dos principais obstáculos é o abastecimento frequente das lojas e a prevenção contra furtos, um problema comum em unidades sem funcionários para monitorar constantemente o espaço.
Os motivos do fracasso
Embora o Carrefour não tenha detalhado as razões para a desistência das lojas autônomas, analistas do setor apontam que o modelo era incompatível com o perfil da empresa. Eugênio Foganholo, consultor e sócio da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, acredita que o core business do Carrefour é atender consumidores em compras de grandes volumes, seja por meio de hipermercados ou do atacarejo Atacadão.
“O formato de loja autônoma é completamente oposto a isso”, afirmou o consultor, destacando que o volume de produtos movimentados em uma loja de condomínio é muito menor do que em um atacarejo.
Além disso, o custo-benefício de operar lojas autônomas pode ter sido um fator crucial na decisão da varejista. Embora o conceito seja inovador e atraente, ele representa um nicho pequeno para uma empresa que fatura mais de R$ 100 bilhões ao ano.
A estrutura necessária para manter as lojas em funcionamento, combinada com a baixa rentabilidade, fez com que o modelo não fosse viável para o Carrefour. “No final do dia, o que sobra no caixa da empresa é muito pouco para justificar a operação”, disse um analista de varejo.
O futuro das lojas autônomas no Brasil
Com a saída do Carrefour, o futuro das lojas autônomas em condomínios no Brasil é incerto. Apesar dos desafios, o modelo continua a atrair o interesse de startups e redes menores, que enxergam uma oportunidade de oferecer conveniência e praticidade a consumidores que vivem em grandes centros urbanos.
No entanto, especialistas alertam que o sucesso nesse formato depende de uma estrutura ágil e custos operacionais baixos. Empresas como o Hirota, que já possuem uma forte presença no segmento, podem se beneficiar da saída do Carrefour e expandir suas operações, mas terão que enfrentar as mesmas dificuldades que levaram a varejista francesa a desistir.
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A desistência do Carrefour revela que, apesar do potencial, as lojas autônomas ainda precisam de ajustes para se consolidarem como um modelo de negócio viável e lucrativo no Brasil. O caminho para o sucesso nesse segmento parece estar nas mãos de empresas menores e mais focadas, que conseguem adaptar suas operações às peculiaridades do mercado local.
A decisão do Carrefour de abandonar o modelo de lojas autônomas em condomínios marca um ponto de inflexão no varejo brasileiro. Enquanto alguns enxergavam o formato como o futuro das compras, o fracasso da maior rede de supermercados do país nesse nicho sugere que o caminho pode ser mais complexo do que parecia inicialmente. Empresas como o Hirota continuam apostando nesse modelo, mas terão que enfrentar os desafios logísticos e operacionais que levaram o Carrefour a desistir.