Como o retorno ao presencial afeta a produtividade no trabalho?

Com a flexibilização das medidas adotadas durante a pandemia de Covid-19, muitas empresas passaram a adotar o modelo híbrido de trabalho, que permitia uma combinação entre home office e dias presenciais.

No entanto, o retorno total ao escritório, como a decisão recente da Amazon, tem causado preocupações entre funcionários e especialistas. O impacto desse retorno ao modelo presencial completo vai além de uma simples mudança de rotina. Ele afeta diretamente a produtividade, o engajamento e até mesmo políticas de diversidade nas empresas.

A insatisfação com o retorno total ao presencial

Em setembro, a decisão da Amazon, anunciada pelo CEO Andy Jassy, de exigir que os funcionários compareçam ao escritório cinco dias por semana, gerou insatisfação imediata. Antes, os trabalhadores precisavam estar no escritório apenas três dias na semana, o que oferecia maior flexibilidade.

De acordo com uma pesquisa realizada pela rede social profissional Blind, 91% dos profissionais da empresa afirmaram estar insatisfeitos com o retorno completo ao trabalho presencial, e 73% já estão procurando novos empregos devido à medida.

Essa situação não é exclusiva da Amazon. Outras grandes empresas, como Boeing, Goldman Sachs e Dell, também estão exigindo que seus funcionários retornem ao escritório de segunda a sexta-feira. No entanto, essa imposição vai contra uma tendência que, nos últimos anos, tem mostrado que a flexibilidade é um dos principais fatores para a atração e retenção de talentos.

Segundo a consultoria Robert Half, mais de 70% dos profissionais afirmam que a flexibilidade no trabalho é essencial para suas escolhas de carreira.

Perda de talentos e impacto na produtividade

Um dos maiores efeitos negativos do retorno ao trabalho presencial é a perda de talentos, especialmente entre mulheres e profissionais de alto desempenho. Modelos de trabalho flexíveis têm sido fundamentais para a permanência de mulheres no mercado, sobretudo aquelas que equilibram a carreira com a responsabilidade de cuidar dos filhos.

De acordo com o relatório Women in the Workplace, da McKinsey, quase 40% das mães de crianças pequenas precisariam deixar seus empregos ou reduzir suas horas de trabalho se tivessem que trabalhar no escritório todos os dias.

Além disso, o relatório revela que 63% das lideranças que implementaram o retorno ao presencial constataram que as mulheres estão deixando seus cargos em maior proporção do que os homens, resultando em uma queda geral de produtividade. A pesquisa da Gartner também mostra que profissionais de alto desempenho têm menos interesse em permanecer na empresa quando o trabalho presencial é imposto, e os millennials, geração que mais compõe a força de trabalho atualmente, estão cada vez mais inclinados a buscar novas oportunidades.

Microgerenciamento e monitoramento: impactos na motivação

Outro problema apontado com o retorno ao escritório é o aumento do microgerenciamento. Muitas empresas adotaram o monitoramento dos funcionários para garantir o cumprimento da política de trabalho presencial. Organizações como Google e Amazon, por exemplo, utilizam dados de controle de acesso para verificar a presença dos funcionários nos escritórios. No entanto, esses mecanismos não medem a produtividade real, apenas a presença física no ambiente de trabalho.

Estudos mostram que esse tipo de monitoramento pode gerar ressentimento e insatisfação nos profissionais. Segundo a Harvard Business Review, o microgerenciamento afeta diretamente o desempenho dos funcionários, pois eles se sentem vigiados e menos valorizados em suas atividades. Em vez de medir resultados com base na eficiência e qualidade do trabalho entregue, o foco excessivo em questões como o horário de entrada e saída desmotiva a equipe, criando um ambiente menos produtivo.

Engajamento e diversidade em risco

 A pesquisa da Gartner também mostra que profissionais de alto desempenho têm menos interesse em permanecer na empresa quando o trabalho presencial é imposto, e os millennials, geração que mais compõe a força de trabalho atualmente, estão cada vez mais inclinados a buscar novas oportunidades. | Foto: Reprodução/Canva
A pesquisa da Gartner mostra que profissionais de alto desempenho têm menos interesse em permanecer na empresa quando o trabalho presencial é imposto. | Foto: Reprodução/Canva

A obrigatoriedade de estar no escritório também afeta o engajamento dos funcionários. De acordo com um estudo realizado pela Great Place to Work, profissionais que têm a opção de escolher seu modelo de trabalho tendem a se engajar mais, superando expectativas e mantendo uma relação mais saudável com seus gestores. A pesquisa, que contou com a participação de mais de 4 mil trabalhadores nos Estados Unidos, destaca que a flexibilidade no trabalho melhora significativamente a satisfação dos funcionários, contribuindo para um ambiente de trabalho mais colaborativo e produtivo.

Leia também: Treinamento para funcionários: especialistas explicam a importância

Além disso, a imposição do trabalho presencial pode prejudicar iniciativas de diversidade e inclusão. Profissionais que dependem de flexibilidade, como mulheres, pessoas com deficiência, trabalhadores mais velhos ou aqueles que vivem em regiões distantes, são diretamente impactados por essas políticas. Ao exigir que todos os funcionários estejam no escritório, as empresas restringem a participação de grupos que precisam de modelos de trabalho mais adaptáveis.

Dificuldade na atração de novos talentos

Outro impacto significativo do retorno ao presencial é a dificuldade na atração de novos talentos. No cenário atual, a flexibilidade deixou de ser um benefício e se tornou uma necessidade para muitos profissionais. O relatório Global Workplace Insights, da Unispace, revela que quase um terço das organizações que impuseram o retorno ao escritório enfrentam desafios no recrutamento de novos funcionários. Candidatos que valorizam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional estão priorizando empresas que oferecem modelos de trabalho flexíveis.

Essa questão é especialmente relevante em um mercado de trabalho onde a competição por talentos qualificados é intensa. Empresas que não se adaptam às novas demandas correm o risco de perder não apenas funcionários experientes, mas também a capacidade de atrair profissionais talentosos que preferem trabalhar em empresas mais alinhadas com suas expectativas.

Ou seja, o que as empresas devem fazer?

Em vez de impor um retorno total ao escritório, as empresas devem ouvir seus funcionários e considerar suas necessidades. O modelo de trabalho ideal não é o mesmo para todos, e as organizações que oferecem flexibilidade e personalização em suas políticas de trabalho tendem a ser mais bem-sucedidas. O foco deve estar em resultados e produtividade, e não apenas na presença física no escritório.

Adaptar-se às necessidades dos funcionários, especialmente em um cenário pós-pandemia, é essencial para manter a motivação e o engajamento, além de promover um ambiente de trabalho mais diverso e inclusivo.

Atualize-se.
Receba Nossa Newsletter Semanal

Sugestões para você