O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou na terça-feira, 21 de janeiro, que planeja impor tarifas sobre produtos da China e da União Europeia (UE) para corrigir desequilíbrios comerciais.
Trump sugeriu uma tarifa de 10% sobre produtos chineses a partir de 1 de fevereiro, menor que os 60% prometidos durante sua campanha, justificando a medida pelo envio de fentanil da China para o México e o Canadá. O opioide é uma das principais causas de morte por overdose nos EUA.
Ele também criticou a China por práticas comerciais “abusivas”. Em resposta, a porta-voz chinesa Mao Ning afirmou que o país protegerá seus interesses e destacou que guerras comerciais “não têm vencedores”.
A UE também será alvo de tarifas. Trump classificou a relação comercial com o bloco como injusta e defendeu que as taxas são a única forma de obter “justiça”. As medidas reforçam a postura agressiva do presidente e podem agravar tensões econômicas globais.
No entanto, a segunda maior economia do mundo tem desafios para além das tarifas de Trump. A economista e professora da Universidade Cruzeiro do Sul, Izabel Rosa, pontua alguns obstáculos que a China enfrenta atualmente, como crises no setor imobiliário e desemprego entre a população jovem.
1. Impacto da crise no setor imobiliário na economia chinesa
A professora explica que a crise no setor imobiliário impacta fortemente a economia da China, já que esse mercado representa cerca de um terço da atividade econômica do país, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e emprega milhões de pessoas.
“A retração nesse setor, resultou em excesso de propriedades vazias, pressionando os preços para baixo. O consumo doméstico, relacionado à confiança do mercado, também foi afetado, com uma queda significativa na participação no PIB” pontua.
Soluções para estabilizar o setor incluem reformas estruturais, como investimentos em infraestrutura urbana para reutilizar propriedades comerciais, incentivos à compra de imóveis residenciais por meio de subsídios e maior regulação para evitar bolhas especulativas
2. Adoção de estratégias para reduzir a dependência de mercados
O país busca novas maneiras de comercializar seus produtos. Em vez de depender exclusivamente de nações ricas, também pretende expandir suas vendas para mercados em desenvolvimento, mesmo que a demanda desses países seja menor.
“A China também pode se tornar um país líder em tecnologias novas, como energia solar e eólica e carros elétricos. Além disso, o país pode aumentar o comércio com os países da Ásia e fazer mais negócios com países da África e da América Latina. Para criar mais empregos e menos depender de outros países, a China pode investir em ideias novas e ajudar empresas pequenas a crescer”, ressalta Izabel.
3. Desemprego entre os jovens
Outro problema interno é que muitos jovens estão desempregados e os salários não estão aumentando. Isso faz com que as pessoas comprem menos coisas, o que prejudica a economia do país. Como os jovens não estão trabalhando e ganhando dinheiro, eles não podem comprar muitas coisas. Isso faz com que a economia cresça menos.
A economista disse que é preciso criar mais empregos, principalmente em áreas novas, como tecnologia. Além disso, as pessoas precisam ganhar mais dinheiro e os jovens precisam estudar mais para conseguir bons empregos.
4. Atração de novos investimentos
Segundo Rocha, outro desafio são as tensões geopolíticas, as tarifas de mercados desenvolvidos e a falta de confiança de investidores na estabilidade econômica do país. Ainda assim, a China tem potencial em áreas como energias renováveis, tecnologia avançada e exportação de carros elétricos. “Para atrair mais investidores, o país poderia oferecer benefícios fiscais, melhorar a proteção aos direitos de propriedade intelectual e tornar as regras mais claras e confiáveis”, sugere.
5. Limitações dos programas de incentivo
A economista destaca que programas como a troca de eletrodomésticos têm efeito limitado e não resolvem a queda no consumo interno.
“É necessário adotar soluções mais abrangentes, como aumentar os salários, estimular o mercado de trabalho e fazer reformas no setor imobiliário. Investir em inovação e incentivar o setor privado também ajudaria a fortalecer a economia e recuperar a confiança das pessoas para voltar a consumir”, concluiu.
A nova guerra comercial com Trump
Desde 2018, quando os EUA aumentaram impostos sobre produtos chineses, iniciou-se uma guerra comercial que enfraqueceu a relação econômica entre os dois países. A economia chinesa, antes robusta, enfrenta agora problemas como o setor imobiliário em crise, empresas endividadas e crescimento mais lento.
Apesar disso, a China tem se preparado para lidar com desafios, incluindo possíveis tarifas mais altas prometidas por Donald Trump. O país tem dificultado operações de empresas americanas, a partir da promoção do consumo interno e da diversificação suas cadeias de produção e fornecedores, com objetivo de reduzir a dependência dos EUA.
Embora o governo chinês crie novos mecanismos para fortalecer a economia, especialistas alertam que medidas drásticas, como vender títulos americanos ou desvalorizar o yuan, podem ser prejudiciais para o próprio país.
A percepção mundial sobre a economia chinesa
Um estudo do Instituto de Pesquisa do Global Times, realizado entre agosto e novembro de 2024, em 46 países, mostrou que a influência da China é amplamente reconhecida, especialmente nos setores econômico (77%), financeiro (75%) e tecnológico (72%). Jovens destacaram confiança no avanço tecnológico do país. Com 51.332 respostas válidas, o levantamento foi o maior já feito pela China, abrangendo países do G20, Brics e Asean.
Reconhecimento global e posição de liderança
Mais de 70% das pessoas entrevistadas em regiões como África, Brics e Oriente Médio acham que a China tem um papel muito importante no cenário global. Essa opinião também é compartilhada por 60% das pessoas na Europa e nos países da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), além de mais da metade dos entrevistados em nações desenvolvidas.
No ranking das maiores potências globais, a China está em segundo lugar, atrás dos Estados Unidos, que lideram com 47%. Cerca de 20% consideram a China a maior potência, 27% a colocaram em segundo lugar, e 17% em terceiro.
Sobre o crescimento econômico, 80% dos entrevistados confiam na economia da China. Mais de 90% acreditam que ela continuará crescendo nos próximos dez anos, e cerca de 60% veem a China como a principal força do crescimento econômico mundial.
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