Trump anuncia tarifas e novas taxas para outros países

Durante seu discurso de posse nesta segunda-feira, 20 de janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou medidas ambiciosas voltadas para a economia do país. Ele prometeu tarifar e taxar outros países como parte de sua estratégia para enriquecer os norte-americanos e declarou que irá revisar o sistema comercial vigente.

Donald Trump discursando sobre tarifas em evento oficial
Donald Trump anunciou novas tarifas e taxas para outros países, priorizando a economia dos EUA e provocando reações no comércio global  |Foto: Reprodução/Getty Images

Entre as novidades, Trump revelou a criação de um “serviço de receita externa”, responsável por coletar tarifas, taxas e outras receitas provenientes de transações com nações estrangeiras. “Estamos estabelecendo o serviço de receita externa para coletar todas as tarifas, taxas e receitas. Serão enormes quantias de dinheiro que entrarão em nosso Tesouro, provenientes de fontes estrangeiras”, afirmou durante o discurso de posse.

Essa abordagem, que marca um movimento mais protecionista na política econômica norte-americana, busca fortalecer a posição dos Estados Unidos no comércio global, ao mesmo tempo em que gera receitas para o Tesouro.

As declarações geraram reações mistas no cenário internacional, com analistas avaliando os potenciais impactos nas relações comerciais globais e nas cadeias de suprimentos. Com essas medidas, Trump dá o tom de sua gestão, priorizando o crescimento econômico interno e a redução da dependência de importações estrangeiras.

Tarifas dos EUA podem prejudicar economia global, alerta Banco Mundial

O Banco Mundial alertou na última quinta-feira, 16 de janeiro, sobre os possíveis impactos das tarifas de 10% propostas pelos Estados Unidos, destacando que elas podem reduzir em 0,3 ponto percentual o crescimento global projetado em 2,7% para 2025. Isso se agravaria caso parceiros comerciais dos EUA adotem tarifas retaliatórias.

Segundo o relatório, essas medidas, defendidas pelo presidente eleito Donald Trump, podem afetar também o crescimento econômico dos EUA, que pode cair de 2,3% para 1,4% em 2025, caso haja retaliações. Em contrapartida, o crescimento norte-americano pode aumentar em 0,4 ponto percentual em 2026, caso sejam prorrogados cortes de impostos propostos por Trump.

O presidente eleito sugere a aplicação de tarifas de 10% sobre importações globais e taxas mais altas, como 25% sobre produtos do Canadá e México, caso esses países não reforcem medidas contra o tráfico de drogas e imigração ilegal. Além disso, ele propôs uma tarifa de 60% para produtos chineses.

O relatório do Banco Mundial, intitulado Perspectiva Econômica Global, projeta um crescimento mundial de 2,7% em 2025 e 2026, repetindo a previsão de 2024. No entanto, aponta que as economias em desenvolvimento enfrentam o menor crescimento de longo prazo desde o ano 2000.

Entre as causas, destaca-se o declínio nos investimentos estrangeiros diretos, que caíram para metade dos níveis do início dos anos 2000, e o aumento das barreiras comerciais, que quintuplicaram em relação à média de 2010 a 2019.

O crescimento nas economias em desenvolvimento está previsto para 4% em 2025 e 2026, abaixo das estimativas anteriores à pandemia. Esses números refletem o impacto de fatores como altos níveis de endividamento, baixa produtividade, investimentos insuficientes e custos crescentes relacionados às mudanças climáticas.

Indermit Gill, economista-chefe do Banco Mundial, prevê que os próximos 25 anos serão desafiadores para as economias em desenvolvimento. Ele destacou a necessidade de reformas internas que incentivem os investimentos e fortaleçam as relações comerciais.

O estudo também revelou uma desaceleração no crescimento das economias em desenvolvimento: de 6% na década de 2000 para 5,1% na década de 2010, e agora para cerca de 3,5% na década de 2020. Além disso, a desigualdade entre economias ricas e pobres está se ampliando, com países em desenvolvimento (exceto China e Índia) registrando um crescimento per capita inferior ao das nações desenvolvidas desde 2014.

O Banco Mundial alertou ainda que a instabilidade política global, tensões comerciais e inflação persistente podem trazer novos desafios para as economias emergentes nos próximos dois anos.

Trump e as tarifas: quais os impactos para o Brasil?

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizou no final de novembro de 2024 que pretende aplicar tarifas de 100% sobre produtos de países do Brics, bloco que inclui o Brasil, como resposta à tentativa desses países de substituir o dólar por outra moeda em transações internacionais.

Em uma publicação em sua plataforma Truth Social, Trump afirmou que o tempo de tolerar os países do Brics tentando afastar-se do dólar havia acabado. Ele pediu que essas nações se comprometessem a não criar ou apoiar uma moeda alternativa ao dólar. Caso contrário, eles enfrentariam tarifas elevadas e perderiam acesso ao mercado americano.

Trump também mencionou que, caso o Brics tentasse substituir o dólar no comércio internacional, essas nações precisariam procurar outro parceiro econômico, pois não haveria possibilidade de substituir o dólar americano.

Além do Brasil, os países que compõem o BRICS são a África do Sul, China, Índia, Rússia, Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia. O Brasil assumirá a presidência do bloco em janeiro de 2025.

Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China, e o principal mercado para produtos manufaturados. Em 2023, o Brasil exportou US$ 36,9 bilhões (cerca de R$ 184,5 bilhões) para os EUA, enquanto as exportações para a China somaram US$ 104,3 bilhões (aproximadamente R$ 521,5 bilhões). No mesmo ano, as importações dos Estados Unidos para o Brasil totalizaram US$ 38 bilhões (cerca de R$ 190 bilhões).

Caso o presidente Trump realmente coloque em prática a sua ameaça, as tarifas de 100% poderiam dificultar o acesso de produtos brasileiros ao mercado dos Estados Unidos. Isso resultaria em aumento de preços e reduziria a competitividade dos produtos brasileiros.

Essas declarações fazem parte de um padrão de ameaças tarifárias de Trump a diversos parceiros comerciais. O presidente eleito também indicou que pode impor tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México, além de 10% sobre produtos da China, como parte de uma estratégia para pressionar esses países a adotarem medidas mais rigorosas no controle do tráfico de drogas e da imigração ilegal. Durante seu primeiro mandato, Trump esteve no centro de uma intensa guerra comercial com a China.

Novas tarifas para México, Canadá e China

Donald Trump tem defendido de forma constante, ao longo dos últimos meses, o aumento das tarifas sobre produtos estrangeiros, argumentando que essa estratégia será fundamental para proteger a economia dos Estados Unidos.

Em diversas ocasiões, ele expressou um apreço pessoal por tarifas, chegando a afirmar que, para ele, a palavra “tarifa” é uma das mais importantes e apreciadas do vocabulário, destacando sua crença de que as tarifas desempenham um papel central na preservação da força econômica americana.

Dentro de suas propostas, Trump anunciou que, se for mantido em seu cargo, estabelecerá uma tarifa de 25% sobre todos os produtos importados do México e do Canadá, como parte de uma série de medidas para melhorar os acordos comerciais com esses países.

Além disso, ele propôs uma tarifa de 10% sobre as mercadorias originadas da China, com a condição de que o país tome medidas mais rigorosas para reduzir a entrada de fentanil nos Estados Unidos. Essa medida tem o objetivo de combater a crise relacionada ao abuso de substâncias, particularmente o fentanil, que é uma droga sintética altamente perigosa.

Embora Trump não tenha fornecido muitos detalhes sobre como as tarifas serão aplicadas ou sobre a estrutura exata do processo, acredita-se que um novo órgão, o Serviço de Receita Externa, será o responsável por administrar e cobrar essas tarifas, caso elas sejam implementadas conforme anunciado. Esse órgão seria encarregado de garantir que os países afetados pelas tarifas paguem a quantia devida, com base nas políticas comerciais e nas tarifas que o governo dos Estados Unidos decide aplicar.

Leia também: Trump: entenda o impacto do retorno do presidente na economia global

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