O lucro da varejista online chinesa Shein sofreu uma queda expressiva em 2024, diminuindo mais de um terço em relação ao ano anterior. Esse resultado financeiro mais fraco agravou os desafios da empresa antes de sua aguardada entrada na Bolsa de Valores de Londres, conforme noticiado pelo Financial Times neste domingo, 23 de fevereiro.
Fontes próximas ao assunto informaram ao jornal que o lucro líquido da Shein despencou quase 40%, ficando em torno de US$ 1 bilhão (R$ 5,73 bilhões) no último ano. Apesar de um crescimento de 19% na receita anual, que alcançou US$ 38 bilhões (R$ 217,74 bilhões), os resultados ainda ficaram abaixo das expectativas internas. Os dados mencionados são baseados em projeções preliminares antes do fechamento oficial das contas.
A Shein não divulgou uma previsão oficial de seus resultados financeiros. No entanto, segundo o Financial Times, os números de 2024 ficaram muito abaixo das estimativas anteriores. Em uma apresentação analisada pelo jornal, a empresa inicialmente previa um lucro líquido de US$ 4,8 bilhões (R$ 27,50 bilhões) e receitas na casa dos US$ 45 bilhões (R$ 257,85 bilhões) para o período.
Além das dificuldades financeiras, a empresa também teve problemas para levar adiante seu plano de venda de ações na bolsa de valores. O IPO (Oferta Pública Inicial) é quando uma empresa começa a oferecer suas ações ao público pela primeira vez, permitindo que os investidores comprem uma parte do negócio.
Conforme a Reuters, a Shein pode reduzir em quase 25% o valor estimado para sua entrada na Bolsa de Londres, avaliando a empresa em cerca de US$ 50 bilhões (R$ 286,50 bilhões). Já a Bloomberg informou na semana passada que a pressão para diminuir ainda mais esse valor está aumentando, podendo chegar a aproximadamente US$ 30 bilhões (R$ 171,90 bilhões).
Tarifas dos EUA impactam Shein e Temu
As tensões comerciais entre Estados Unidos e China continuam a impactar os mercados globais, especialmente nos setores de moda e tecnologia. Essa disputa iniciou no governo de Donald Trump, quando ele impôs tarifas sobre produtos chineses para tentar reequilibrar a balança comercial entre os dois países. No entanto, essa estratégia desencadeou uma série de represálias, resultando em um ciclo de sanções que afeta empresas ao redor do mundo.
Atualmente, duas das maiores empresas chinesas do setor de e-commerce, Shein e Temu, estão entre as principais afetadas pelas tarifas impostas pelos EUA. O aumento das restrições pode dificultar suas operações no mercado norte-americano, prejudicando seu crescimento e competitividade.
Em resposta, a China também adotou medidas contra empresas ocidentais. A PVH Corp, gigante da moda e proprietária de marcas como Calvin Klein e Tommy Hilfiger, foi incluída na lista chinesa de “entidades não confiáveis”, o que representa uma forma de retaliação às políticas comerciais dos Estados Unidos.
Esse cenário reflete as consequências da guerra comercial iniciada nos últimos anos. O embate entre as duas potências econômicas não apenas afeta diretamente empresas dos dois países, mas também gera instabilidade nos mercados internacionais, influenciando cadeias de suprimentos e estratégias de expansão global.
Novas tarifas de Trump
No início de fevereiro, Donald Trump assinou um decreto que estabelece uma tarifa de 10% sobre todos os produtos importados da China. A medida tem um impacto significativo no comércio eletrônico nos Estados Unidos, afetando mais de 80% das importações realizadas por consumidores norte-americanos por meio de plataformas digitais.
Um dos principais efeitos dessa decisão é o fim da autorização conhecida como “minimis”, que permite a entrada de produtos de baixo custo sem a incidência de tarifas, desde que o valor do envio não ultrapassasse US$ 800 (R$ 3.960) por destinatário a cada dia.
Empresas como Shein e Temu se beneficiaram amplamente dessa regra, conseguindo expandir suas operações nos EUA sem arcar com altos custos tarifários. Esse modelo de negócio se tornou concorrente direto da Amazon, desafiando o gigante do comércio eletrônico no mercado americano.
Durante o primeiro mandato de Trump, essa brecha impulsionou o crescimento do comércio online entre China e EUA, levando as exportações chinesas de US$ 5,3 bilhões (cerca de R$ 19,5 bilhões em 2018) para US$ 66 bilhões (R$ 330 bilhões em 2023).
A Shein e a Temu desempenharam um papel essencial nesse crescimento, representando atualmente cerca de 17% do volume de envios para os Estados Unidos. A Shein, por exemplo, não tem sede na China, mas trabalha com fábricas chinesas para produzir suas roupas e enviá-las diretamente aos consumidores ao redor do mundo.
Para evitar impactos negativos das tarifas, sua controladora está sediada em Singapura, estratégia que ajuda a driblar algumas restrições comerciais impostas pelos EUA. Já você optou por transferir sua sede legal da China para a Irlanda, provavelmente para fortalecer sua atuação na Europa e minimizar os efeitos das novas tarifas americanas.
Reações da China
Enquanto os Estados Unidos impõem restrições comerciais, o governo chinês tem respondido com medidas retaliatórias contra empresas ocidentais, afetando algumas das marcas mais influentes do mundo. Um dos alvos dessa retaliação foi a PVH Corp, controladora das grifes Calvin Klein e Tommy Hilfiger, que recentemente foi adicionada à lista de “entidades não confiáveis” da China.
Conforme o Ministério do Comércio chinês, a decisão foi motivada por supostas “medidas discriminatórias” adotadas pela empresa contra companhias chinesas, comprometendo seus direitos e interesses comerciais.
A acusação pode estar ligada à posição da PVH em relação ao boicote do algodão proveniente de uma determinada região da China, um tema que tem sido objeto de investigações por autoridades chinesas desde setembro de 2024.
A inclusão da PVH nessa lista pode acarretar consequências severas para a empresa, como penalidades financeiras, restrições comerciais e até mesmo a revogação de permissões de trabalho para seus funcionários estrangeiros no território chinês.
A China representa um mercado crucial para a PVH. Em 2023, cerca de 6% de sua receita total e 16% de seu lucro operacional antes de impostos e juros vieram das operações no país. Com as sanções, a empresa já começa a sentir os impactos negativos em suas vendas, investimentos e na continuidade de suas atividades na região, o que pode levar a uma redução significativa de sua presença no mercado chinês.
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