Em 2023, o turismo brasileiro mostrou sinais robustos de recuperação após a crise sanitária da Covid-19. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) – Turismo 2023, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram realizadas 21,1 milhões de viagens, um aumento de 71,5% em relação a 2021.
O número superou o registrado antes da pandemia, em 2019, quando 20,934 milhões de viagens foram contabilizadas. Apesar dessa retomada, uma grande parcela da população brasileira ainda não viaja, especialmente em lares de menor renda.
Impacto da pandemia e recuperação do setor de turismo
Com o fim da emergência sanitária, o turismo começou a recuperar terreno perdido. Em 2020, no auge da pandemia, o número de viagens despencou para 13,578 milhões, caindo ainda mais em 2021, para 12,337 milhões. O ano de 2023, portanto, marcou o primeiro período completo de retomada do turismo após a crise sanitária, com o retorno de viagens tanto para destinos nacionais quanto internacionais. Vale ressaltar que a pesquisa de 2022 não foi realizada devido a problemas no convênio entre o IBGE e o Ministério do Turismo.
Apesar desse crescimento significativo, 80,2% dos lares brasileiros, o equivalente a 62,1 milhões de domicílios, não registraram nenhuma viagem ao longo do ano passado. Isso mostra que, embora o turismo tenha se reerguido, a grande maioria da população ainda está alheia a essa recuperação.
Fatores que limitam as viagens
A relação entre renda familiar e a realização de viagens é evidente. Em 2023, 46% dos lares com rendimento domiciliar per capita de quatro ou mais salários mínimos realizaram alguma viagem. Em contrapartida, entre as famílias com rendimento menor que meio salário mínimo, apenas 11,6% dos lares reportaram viagens.
A falta de dinheiro é o principal motivo para a ausência de viagens, citado por 40,1% dos entrevistados. Outros motivos incluem a falta de necessidade (19,1%), falta de tempo (17,8%), falta de interesse (9,1%) e problemas de saúde (3,9%). Ainda, 7% das pessoas disseram que viajar não era uma prioridade.
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Esses dados destacam as desigualdades no acesso ao turismo no Brasil. Embora o setor tenha apresentado sinais de recuperação, ainda está longe de ser uma realidade acessível para uma parcela significativa da população.
Finalidades das viagens e destinos preferidos
Entre as viagens realizadas em 2023, 85,7% tiveram finalidade pessoal, enquanto 14,3% foram para fins profissionais. No âmbito pessoal, o lazer foi o principal motivo apontado (38,7%), seguido por visitas a familiares ou eventos sociais (33,1%). Sol e praia continuaram sendo as principais atrações para viagens de lazer, com 46,2% das viagens desse tipo relacionadas a esses destinos.
Nas viagens profissionais, 82,4% foram motivadas por negócios ou trabalho, enquanto 11,6% foram para eventos ou cursos de desenvolvimento profissional.
A maioria das viagens em 2023 foi para destinos nacionais, com 97% do total, ou 20,418 milhões de viagens, ocorrendo dentro do Brasil. O número de viagens internacionais, embora pequeno em comparação, também cresceu: foram realizadas 641 mil viagens para o exterior, mais que o dobro das 276 mil registradas em 2020.
Distribuição regional e gastos com viagens
A pesquisa também revelou a distribuição regional das viagens. O Sudeste foi a origem da maior parte delas (45,9%), seguido pelo Nordeste (22%), Sul (17,1%), Centro-Oeste (8,2%) e Norte (6,8%). Em relação aos destinos, a divisão foi similar, com o Sudeste recebendo 43,4% das viagens, seguido pelo Nordeste (25,3%), Sul (17,4%), Centro-Oeste (7,5%) e Norte (6,4%).
O turismo também impactou a economia de forma significativa. Os gastos totais com viagens nacionais com pernoite atingiram R$ 20 bilhões em 2023, um aumento de 78,6% em relação a 2021. O gasto médio por viagem subiu de R$ 1.525 para R$ 1.639.
Os destinos do Sudeste concentraram a maior parte desses gastos, com R$ 8 bilhões, seguidos pelo Nordeste (R$ 6,4 bilhões), Sul (R$ 3,4 bilhões), Centro-Oeste (R$ 1,5 bilhão) e Norte (R$ 839 milhões).
Perspectivas para o turismo no Brasil
O crescimento do turismo em 2023 reflete uma demanda reprimida, após anos de restrições devido à pandemia, e aponta um cenário otimista para os próximos anos. Segundo o IBGE, o setor tem potencial para continuar crescendo, desde que as condições econômicas e sociais permitam que mais brasileiros possam viajar.
No entanto, o desafio de tornar o turismo acessível a uma maior parcela da população ainda persiste. Com a maioria dos lares sem condições de realizar viagens, políticas públicas voltadas para a democratização do turismo e o aumento da renda familiar serão essenciais para que o setor continue em expansão.