O mercado automotivo brasileiro apresentou um desempenho robusto em agosto de 2024, com a venda de veículos registrando uma alta de 14,3% em comparação ao mesmo mês de 2023, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Ao todo, foram emplacadas 237,4 mil unidades, o que fez de agosto o melhor mês do ano em termos de média diária de vendas, com 10,8 mil unidades comercializadas por dia.
Esse crescimento reflete uma recuperação importante no setor, que desde o início da pandemia enfrentou dificuldades com a interrupção da cadeia produtiva, crises econômicas e incertezas no mercado. Em 2024, os números sinalizam uma retomada mais sólida, sendo o melhor desempenho desde 2019.
Produção e exportação em alta
A produção de veículos também seguiu um ritmo constante, com 259.613 unidades fabricadas em agosto. Isso representa um crescimento de 5,2% em relação a julho deste ano e de 14,4% na comparação com agosto de 2023. Segundo o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, o setor conseguiu manter um ritmo estável, mesmo diante de desafios como a paralisação de fornecedores devido às enchentes no Rio Grande do Sul.
“O crescimento da produção nos coloca em um ritmo consistente, que é motivo de celebração para o setor automotivo no Brasil”, afirmou Leite em uma coletiva de imprensa para apresentar os números.
Outro fator que impulsionou o mercado foi a exportação de 38,2 mil veículos, o que, apesar de uma leve queda em relação ao mês de julho (39 mil), representa o segundo maior volume de exportações do ano. Esse recuo pode ser explicado pelo fato de agosto ter contado com um dia útil a menos, o que afetou diretamente o volume exportado.
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Leite destacou ainda que países como Argentina, Chile, Colômbia e México apresentaram crescimento em seus mercados internos, o que favoreceu as exportações brasileiras para esses destinos. Entretanto, no acumulado do ano, as vendas externas apresentaram uma queda de 17,9%, reflexo da retração do mercado em algumas nações.
Importação de veículos chineses
Um fenômeno que também chama a atenção no setor automotivo brasileiro é a crescente participação dos veículos importados, principalmente de origem chinesa. Em agosto, o Brasil importou 41 mil unidades, com os veículos importados representando 17,2% do mercado interno no acumulado do ano.
A principal explicação para o aumento nas importações de veículos chineses é a decisão do governo brasileiro, em novembro do ano passado, de retomar progressivamente o Imposto de Importação sobre veículos elétricos e híbridos até 2026. Essa medida levou a um acúmulo de estoque de veículos chineses, que buscam se beneficiar da alíquota reduzida antes que as taxas voltem a ser elevadas.
Estima-se que o estoque de veículos chineses no Brasil esteja em torno de 81 mil unidades, um aumento significativo desde dezembro de 2023, quando o número era de 13,2 mil. Para Leite, esse acúmulo de estoque é um desequilíbrio no mercado, já que a indústria nacional também enfrenta desafios com excesso de produção. O estoque total de veículos no Brasil (incluindo fábricas e concessionárias) fechou agosto com 268,9 mil unidades.
A Anfavea defende que o governo reavalie a retomada progressiva da alíquota de importação para evitar danos à indústria automotiva brasileira. “Nós pedimos a recomposição imediata da alíquota máxima, pois esse volume de importações pode prejudicar o equilíbrio do mercado interno”, afirmou Leite.
Descarbonização e COP30
Durante a coletiva de imprensa, a Anfavea também apresentou um estudo sobre descarbonização, intitulado Avançando nos Caminhos da Descarbonização Automotiva no Brasil. O estudo será levado à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, em 2025.
Atualmente, o setor automotivo no Brasil é responsável por 13% das emissões totais de CO² no país, o que representa cerca de 242 milhões de toneladas anuais. De acordo com o estudo, se o ritmo atual de crescimento for mantido, as emissões poderão chegar a 256 milhões de toneladas até 2040.
Para reverter essa projeção, a Anfavea propõe a intensificação do uso de novas tecnologias de propulsão desenvolvidas por fabricantes brasileiros, em conjunto com o aumento da utilização de biocombustíveis. A entidade acredita que essas iniciativas podem reduzir até 280 milhões de toneladas de CO² até 2040.
“A descarbonização do setor automotivo é uma oportunidade para o Brasil liderar, utilizando novas tecnologias e biocombustíveis para transformar a indústria e reduzir as emissões de carbono”, concluiu Leite.
O crescimento nas vendas de veículos no Brasil em agosto de 2024 reflete uma recuperação sólida do setor, impulsionada por novos lançamentos, exportações consistentes e uma produção estabilizada, mesmo diante de adversidades. Ao mesmo tempo, a crescente importação de veículos chineses e a busca pela descarbonização apontam para desafios e oportunidades que moldarão o futuro da indústria automotiva brasileira.