A eletrificação do transporte público no Brasil tem ganhado destaque nas discussões eleitorais e no planejamento das prefeituras, especialmente em 2024, com o aumento das preocupações sobre a poluição urbana e as mudanças climáticas.
No entanto, apesar dos benefícios óbvios dos ônibus elétricos para a saúde pública e o meio ambiente, a transição para essa tecnologia enfrenta diversos entraves. Entre eles estão os altos custos de aquisição dos veículos, a infraestrutura limitada e a inércia das montadoras que tradicionalmente operam com veículos a diesel.
O estado atual da eletrificação no Brasil
Atualmente, o Brasil possui 602 ônibus elétricos em operação, de acordo com a plataforma E-Bus Radar, que monitora a eletrificação do transporte público na América Latina. Essa frota é distribuída em pelo menos 20 municípios, com destaque para São Paulo, que lidera com 381 ônibus elétricos. Em comparação ao total de mais de 107 mil ônibus em circulação no país, os veículos elétricos representam apenas 0,56%. Esse percentual demonstra o quanto o país ainda precisa avançar para eletrificar de forma significativa o transporte público.
Os ônibus elétricos se dividem em duas categorias principais: trólebus, que operam conectados a redes aéreas de energia, e ônibus a bateria, que oferecem maior flexibilidade operacional. A baixa penetração de ônibus elétricos no Brasil revela que, embora existam iniciativas municipais e federais para promover a transição energética no setor de transporte, ainda há muito a ser feito.
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Vantagens ambientais e de saúde
A principal motivação para a adoção de ônibus elétricos é a redução da poluição urbana. O setor de transportes é responsável por 9,3% das emissões totais de gases de efeito estufa no Brasil, segundo o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases (Seeg). Além disso, os ônibus movidos a diesel emitem substâncias nocivas, como material particulado e óxidos de nitrogênio (NOx), que afetam diretamente a qualidade do ar e a saúde das pessoas nas áreas urbanas.
Os ônibus elétricos, por outro lado, eliminam as emissões durante sua operação. Estima-se que os 602 veículos elétricos atualmente em circulação no Brasil tenham evitado a emissão de 564,67 quilotoneladas de CO2 equivalente. Mesmo quando se considera o impacto ambiental da produção de baterias e da geração de eletricidade, os ônibus elétricos oferecem uma vantagem clara em termos de redução de poluentes.
Entraves financeiros e estruturais
O maior obstáculo à eletrificação das frotas de ônibus no Brasil é o alto custo inicial dos veículos elétricos. Cidades menores, com orçamentos limitados, enfrentam dificuldades para arcar com os custos da transição. Embora os ônibus elétricos possam ser mais baratos em termos de manutenção e abastecimento no longo prazo, o investimento inicial elevado tem sido uma barreira significativa.
Algumas cidades, como São Paulo, têm conseguido superar esse desafio com apoio financeiro de bancos de desenvolvimento. A capital paulista, por exemplo, está captando recursos para adicionar mais de 1.000 ônibus elétricos à sua frota até 2025. Iniciativas do governo federal, como o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), também têm oferecido linhas de crédito para a compra de ônibus elétricos em cidades como Curitiba, Fortaleza e Porto Alegre.
Outro desafio importante é a falta de infraestrutura adequada para a operação desses veículos. Muitos municípios ainda precisam construir estações de recarga nas garagens e nos terminais. Além disso, o descarte das baterias dos ônibus elétricos, após o fim de sua vida útil, é uma preocupação crescente. No entanto, especialistas apontam que as baterias podem ser reutilizadas e recicladas, o que minimizaria os impactos ambientais desse processo.
Papel dos governos locais
A transição para frotas de ônibus elétricos depende, em grande parte, da ação dos governos municipais. Prefeitos e vereadores têm o poder de incluir o tema no orçamento público, criar metas de descarbonização e buscar recursos para financiar a nova frota. Em São Paulo, por exemplo, a Política Municipal de Mudança Climática estabelece metas de redução de emissões, obrigando a cidade a substituir progressivamente seus ônibus a diesel por veículos menos poluentes.
Outras cidades brasileiras, no entanto, ainda não avançaram tanto nesse processo. Algumas prefeituras não aproveitaram as linhas de crédito oferecidas pelo PAC, o que pode retardar a eletrificação das frotas. Além disso, a pressão da sociedade e de leis municipais pode acelerar a adoção de tecnologias mais limpas no transporte público.
O futuro da eletrificação no Brasil
Apesar dos desafios, a eletrificação do transporte público no Brasil tem potencial para se expandir nos próximos anos. A oferta de ônibus elétricos ainda é limitada, mas o aumento da demanda pode estimular a indústria nacional e reduzir os custos. Além disso, a modernização do transporte público com a eletrificação traz outros benefícios, como a redução da poluição sonora e a introdução de veículos mais confortáveis, com ar-condicionado e entradas USB.
Com os novos incentivos financeiros e a pressão para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o Brasil está em um ponto de inflexão. A eletrificação das frotas de ônibus não apenas melhora a qualidade de vida nas cidades, mas também posiciona o país como líder na transição para um futuro mais sustentável.