O impacto econômico dos streamings no cinema: desafios e mudanças

Nos últimos anos, o setor de entretenimento tem passado por uma transformação profunda com a ascensão dos serviços de streaming. Plataformas como Netflix, Amazon Prime, Disney+, e HBO Max não apenas revolucionaram a forma como o público consome conteúdo, mas também trouxeram mudanças significativas para a economia do cinema tradicional. A pandemia de COVID-19 acelerou essa transição, impactando bilheterias, distribuidores, produtores e o mercado cinematográfico global.

Neste artigo, exploraremos o impacto econômico que os streamings tiveram no cinema, os desafios enfrentados pelas salas de exibição e como as duas formas de entretenimento estão se adaptando para coexistir em um cenário cada vez mais digital.

O impacto dos streamings nas bilheterias

O principal impacto econômico dos serviços de streaming no cinema tradicional se reflete nas bilheterias. Historicamente, a exibição em salas de cinema era a maior fonte de receita para os estúdios, e filmes de grande orçamento contavam com as bilheterias globais para recuperar os investimentos.

Cinema é impactado por serviços de streaming. Foto: reprodução/canva
Cinema é impactado por serviços de streaming. Foto: reprodução/canva

Contudo, a crescente popularidade das plataformas de streaming criou uma nova forma de consumir filmes: sem precisar sair de casa e com um custo mensal fixo, o público passou a ter acesso a uma vasta quantidade de títulos a qualquer momento.

Em 2020, a pandemia acelerou a migração para o digital, com cinemas fechados ao redor do mundo. Serviços de streaming aproveitaram essa oportunidade, lançando grandes produções diretamente em suas plataformas, o que quebrou o tradicional ciclo de lançamento. Filmes como Soul (Disney+) e Mulher-Maravilha 1984 (HBO Max) foram lançados diretamente no streaming, desafiando a lógica das estreias exclusivas nas salas de cinema.

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Os números confirmam essa tendência: de acordo com a Motion Picture Association (MPA), a receita global de bilheteria caiu drasticamente de US$ 42,5 bilhões em 2019 para apenas US$ 12 bilhões em 2020, durante o auge da pandemia. Embora a reabertura gradual dos cinemas tenha ocorrido, o impacto econômico dos streamings já estava consolidado, com uma nova dinâmica entre lançamentos e janelas de exibição sendo estabelecida.

Produção de conteúdo: novos investimentos

Embora o cinema tradicional tenha sofrido uma queda nas receitas de bilheteria, o setor de produção de filmes e séries se beneficiou do aumento no consumo via streaming. As grandes plataformas começaram a investir bilhões em produções originais para atrair e manter assinantes. Netflix, por exemplo, destinou mais de US$ 17 bilhões em 2021 para a criação de conteúdo original, de séries a filmes de grande orçamento, como Alerta Vermelho e O Irlandês.

Esses investimentos têm impulsionado novas oportunidades econômicas na indústria de entretenimento, com mais empregos sendo gerados para roteiristas, diretores, atores e toda a equipe técnica envolvida na produção de conteúdo audiovisual. Além disso, o sucesso de séries como Stranger Things e The Mandalorian provou que as plataformas de streaming são capazes de rivalizar com produções de Hollywood em termos de audiência e impacto cultural, criando uma economia mais diversificada dentro do setor.

Por outro lado, estúdios tradicionais enfrentam o dilema de adaptar seus modelos de negócio para competir com essas plataformas. Muitos estúdios lançaram seus próprios serviços de streaming, como a Disney com o Disney+ e a Warner Bros. com o HBO Max, buscando uma fatia do mercado digital.

A mudança no modelo de distribuição

A ascensão do streaming também provocou uma mudança significativa no modelo de distribuição cinematográfica. Antes, a janela de lançamento de um filme seguia uma ordem: estreia nas salas de cinema, depois em formatos físicos como DVD e Blu-ray, e, por fim, no streaming ou TV por assinatura. Hoje, essa ordem foi alterada, com muitos filmes sendo lançados simultaneamente nas plataformas de streaming e nos cinemas, ou mesmo indo direto para o digital.

Essa mudança afeta diretamente o lucro dos cinemas que dependiam exclusivamente da exibição de filmes para atrair o público. Com a opção de assistir a lançamentos em casa no mesmo dia da estreia, muitos espectadores preferem o conforto do streaming, diminuindo a receita das bilheterias e pressionando as redes de cinema a repensarem suas estratégias.

Os estúdios também se beneficiam dessa nova abordagem de distribuição, já que reduzem custos relacionados à exibição física, como cópias do filme e promoção em cinemas. Além disso, eles conseguem acessar uma base de assinantes já estabelecida, o que garante uma receita imediata e consistente.

O impacto nas redes de cinema e a busca por inovação

As redes de cinema enfrentaram grandes dificuldades econômicas com a popularização do streaming, sendo forçadas a encontrar formas de inovar e atrair o público de volta para as salas de exibição. Muitos cinemas investiram em experiências imersivas, como salas de cinema 4D, exibições com tecnologia IMAX e eventos ao vivo para oferecer algo que o streaming não pode reproduzir.

Promoções, clubes de fidelidade e melhorias na experiência do cliente – desde cadeiras mais confortáveis até cardápios gourmet – se tornaram estratégias para tentar competir com a conveniência do streaming. No entanto, a recuperação das redes de cinema tem sido lenta, especialmente após os fechamentos provocados pela pandemia.

Em contrapartida, há indícios de que a coexistência entre os dois formatos pode ser possível. Em 2023, o sucesso de filmes como Oppenheimer e Barbie demonstrou que blockbusters ainda têm o poder de atrair milhões de pessoas para os cinemas, mesmo com a presença forte do streaming. O fenômeno conhecido como Barbenheimer fez com que as bilheterias alcançassem níveis recordes, evidenciando que a experiência cinematográfica continua sendo única para muitos espectadores.

O futuro da indústria cinematográfica

O impacto econômico do streaming no cinema tradicional trouxe desafios, mas também abriu novas oportunidades. A relação entre os dois formatos ainda está em fase de adaptação, com estúdios e cinemas buscando formas de coexistir em um mercado que se tornou híbrido. O público, por sua vez, tem mostrado que há espaço tanto para o consumo em casa quanto para a experiência imersiva nas salas de cinema.

A longo prazo, o sucesso da indústria cinematográfica dependerá da capacidade de inovar e se adaptar às mudanças tecnológicas e de consumo. Enquanto isso, os serviços de streaming continuarão a crescer, impulsionando novas formas de distribuição, produção e consumo de conteúdo audiovisual.

Os serviços de streaming transformaram a economia do cinema, trazendo desafios para as bilheterias e as redes de cinema, mas também gerando uma nova onda de investimentos em conteúdo original. Embora o streaming tenha se consolidado como uma força dominante, o cinema tradicional ainda tem seu lugar no mercado, especialmente em grandes lançamentos e experiências imersivas. O futuro da indústria será definido pela capacidade de equilibrar esses dois formatos e atender às demandas de um público em constante transformação.

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