Apesar da Black Friday estar oficialmente marcada para a próxima sexta-feira (29), diversas lojas anteciparam suas promoções, oferecendo descontos consideráveis e atraindo um grande número de consumidores. Contudo, paralelamente a essas ofertas atrativas, criminosos aproveitam essa época para intensificar suas atividades fraudulentas.
De acordo com especialistas consultados pela BBC News Brasil, é durante períodos como este e em datas comemorativas que os crimes cibernéticos tendem a aumentar.
Deep fake e áudios de famosos
A era digital, marcada por avanços tecnológicos cada vez mais rápidos, também tem sido palco de uma nova geração de golpes, cada vez mais sofisticados e de difícil detecção. Uma das táticas mais recentes e perigosas utilizadas por cibercriminosos é a criação de deepfakes, vídeos ou áudios falsos gerados por inteligência artificial que simulam a aparência e a voz de pessoas reais.
Ao utilizar a imagem de celebridades, por exemplo, os golpistas conseguem criar um senso de credibilidade e confiança nas vítimas, induzindo-as a clicar em links maliciosos ou a fornecer dados pessoais sensíveis.
Com o avanço da inteligência artificial, criminosos têm encontrado novas formas de manipular a realidade. Uma delas consiste em utilizar como base fotos ou vídeos já existentes de artistas ou influenciadores digitais, que são amplamente divulgados em redes sociais e outros meios de comunicação.
A partir desse material original, softwares especializados são empregados para realizar uma espécie de “cirurgia digital”. Esses programas permitem a sobreposição de rostos e corpos, criando montagens extremamente realistas.
Em outras palavras, a inteligência artificial é capaz de sincronizar o rosto de uma pessoa com o corpo de outra, gerando um vídeo ou imagem completamente novos, nos quais é praticamente impossível distinguir o que é real do que é falso.
“Aquela pessoa famosa passa credibilidade por empatia do público e utilizar essa técnica faz com que a vítima acabe comprando algo que aquela celebridade desconhece totalmente a procedência”, alerta Marcelo Nagy, perito digital e professor de pós-graduação da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Embora a imagem seja bem realista, Fábio Diniz, presidente do Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime (INCC), destaca que alguns golpistas ainda apresentam falhas ao gerar seres humanos com recursos de IA.
“Há indivíduos com características irreais, como seis dedos ou pele perfeita. A voz também pode não acompanhar a velocidade com que ele abre a boca, entre outros”, diz.
É fundamental que os consumidores estejam atentos a cada detalhe ao se depararem com anúncios de personalidades públicas que prometem descontos exorbitantes ou preços muito abaixo do valor de mercado. Ofertas que parecem boas demais para ser verdade, geralmente são. É preciso desconfiar de propagandas que utilizam a imagem de pessoas famosas para induzir a compra de produtos ou serviços de qualidade duvidosa.
O especialista alerta também para a importância de observar o tom das mensagens. Discursos inflamados, que incitam o ódio ou a intolerância, são um forte indicativo de que a propaganda pode ser falsa. Essas táticas são frequentemente utilizadas por criminosos para manipular as emoções das pessoas e levá-las a tomar decisões impulsivas.
Além disso, a tecnologia de inteligência artificial tem sido usada por criminosos para criar áudios falsos de alta qualidade. É cada vez mais comum encontrar mensagens de voz que imitam perfeitamente a voz de artistas, políticos ou até mesmo de familiares das vítimas.
Essas gravações são utilizadas para disseminar informações falsas e enganar os consumidores. Um exemplo comum é a criação de áudios falsos em que uma pessoa famosa indica um produto milagroso para emagrecer ou ganhar dinheiro rapidamente.
“Um golpista pode pegar um vídeo de um parente próximo em uma rede social para treinar a inteligência artificial a falar igual àquele seu parente, para posteriormente gerar esses áudios recomendando uma compra em um site falso, por exemplo”, destaca Nagy.
Além disso, ainda de acordo com os especialistas, já é possível iniciar uma conversa em tempo real com esses recursos de voz, o que pode diminuir qualquer suspeita.
Sites falsos, phishing e sorteios
A proliferação de sites falsos é um problema recorrente, especialmente em períodos de alta demanda como a Black Friday. Apesar de ser uma prática antiga, muitos consumidores ainda são vítimas desses golpes.
Criminosos são cada vez mais sofisticados na criação de URLs que se assemelham às originais, enganando os usuários por meio de pequenas alterações na escrita. Essa estratégia é bastante eficaz, pois, em meio à euforia das compras, muitos consumidores não percebem as diferenças e acabam adquirindo produtos em sites fraudulentos.
Um estudo recente da Redbelt Security revelou um aumento significativo na criação de páginas falsas nos últimos dias que antecederam a Black Friday. Segundo a pesquisa, foram criadas mais de 4.500 novas páginas falsas com o objetivo de ludibriar os consumidores.
“Os golpistas utilizam artifícios simples, como a adição ou substituição de um caractere na URL, para confundir os usuários”, explica Grazielle Viana, especialista em segurança da informação. “Diante de qualquer suspeita, é fundamental verificar a autenticidade da página, comparando-a com o site oficial do vendedor”, recomenda a especialista.
Outra tática muito utilizada pelos criminosos é o phishing, que consiste em se passar por empresas confiáveis para obter dados pessoais dos usuários. Através de e-mails, mensagens de texto ou redes sociais, os golpistas oferecem promoções irresistíveis ou solicitam informações pessoais em troca de prêmios, com o objetivo de aplicar golpes financeiros.
Sorteios falsos também são uma prática comum nessa época do ano. Criminosos criam perfis falsos em redes sociais, se passando por empresas conhecidas, e oferecem produtos e serviços a preços muito abaixo do mercado em troca de um cadastro ou compartilhamento da publicação. Ao aceitar a oferta, o usuário pode ter seus dados pessoais expostos ou ser induzido a realizar pagamentos indevidos.
Como não cair em golpes
Embora as tecnologias de segurança estejam em constante evolução, é fundamental que os consumidores estejam atentos para não caírem nas armadilhas dos fraudadores. Ao seguir algumas dicas simples, é possível aumentar significativamente a proteção contra golpes online.
1. Desconfie de ofertas irresistíveis
Promoções que parecem boas demais para ser verdade, com descontos exorbitantes ou benefícios mirabolantes, devem acender um sinal de alerta. É crucial verificar a autenticidade dessas ofertas diretamente no site oficial da empresa, evitando clicar em links enviados por e-mail ou mensagem, que podem direcioná-lo a páginas falsas.
2. Preste atenção na URL
O endereço eletrônico de um site é uma pista importante para identificar fraudes. Verifique se a URL está correta e se corresponde ao domínio oficial da empresa. Pequenas alterações, como um número a mais ou um símbolo diferente, podem indicar um site falso criado para coletar seus dados.
3. Pesquise a reputação do vendedor
Antes de realizar uma compra online, dedique alguns minutos para pesquisar a reputação da loja em plataformas de avaliação como o Consumidor.gov e o Reclame Aqui. As opiniões de outros consumidores e a análise de especialistas podem te ajudar a identificar lojas confiáveis e evitar cair em golpes.
4. Opte por métodos de pagamento seguros
Evite realizar pagamentos por Pix em compras desconhecidas ou em sites que não inspiram confiança. O cartão de crédito virtual é uma excelente alternativa, pois oferece maior segurança. Ao contrário do cartão físico, o cartão virtual é gerado exclusivamente para uma compra específica, com um código de segurança único e validade limitada, dificultando a sua utilização por terceiros em caso de vazamento de dados.
5. Evite pagar por boletos
O pagamento por boleto, embora seja uma forma comum de pagamento, apresenta riscos maiores de fraude. Boletos falsos podem ser gerados para simular cobranças de serviços não contratados, e o processo de contestação é mais complexo do que em um cartão de crédito. Por isso, sempre que possível, opte por outras formas de pagamento mais seguras.
Não compartilhe dados pessoais com estranhos: para se proteger de golpes, nunca compartilhe dados bancários ou informações pessoais por telefone, e-mail ou redes sociais.
Além disso, não acredite em funcionários que ligam se passando por bancos ou instituições não autorizadas e que peçam a sua senha ou outro dado.
Não guarde senhas pessoais e importantes no celular. “O ideal é que só você ou alguém de confiança saibam essas senhas. Para isso, anote em um papel e guarde em cofre em um local seguro”, ressalta Diniz.
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