A cada ano, a Black Friday e a temporada de Natal se tornam mais intensas e competitivas, com consumidores correndo atrás de grandes descontos e produtos exclusivos. Contudo, essa disputa ganhou um novo e poderoso concorrente: os robôs compradores, que estão transformando a maneira como as pessoas compram online.
Esses programas automáticos, utilizados por revendedores e especuladores, fazem compras em larga escala, usando algoritmos avançados que permitem comprar produtos de forma extremamente rápida. A pandemia de COVID-19 acelerou a transição para o comércio eletrônico, o que resultou em um aumento na utilização de robôs, tornando a concorrência por itens populares ainda mais acirrada.
Enquanto os consumidores comuns enfrentam grandes dificuldades para garantir produtos como consoles de videogame de última geração ou placas de vídeo, esses robôs são capazes de vasculhar os estoques de sites de compras online em questão de segundos, comprando os produtos e, muitas vezes, elevando os preços ou criando uma falsa sensação de escassez.
O desafio dos robôs no comércio eletrônico
Nos últimos anos, o mercado de revenda de produtos, especialmente os considerados “desejáveis”, como tênis de edição limitada e eletrônicos de última geração, cresceu exponencialmente. Esse aumento na demanda por itens populares, muitas vezes impulsionado por tendências da moda e pela cultura pop, fez com que a revenda se tornasse um negócio altamente lucrativo.
O mercado de tênis, por exemplo, é um dos melhores exemplos desse fenômeno, sendo estimado em cerca de US$ 2 bilhões e com uma taxa de crescimento anual de aproximadamente 20%. A demanda crescente por esses produtos se deve a diversos fatores, como a valorização de itens exclusivos, a busca por produtos que estão fora de produção e o desejo dos consumidores de serem os primeiros a ter acesso a lançamentos de novos modelos.
Diante de tamanha competitividade, muitos consumidores começaram a adotar soluções cada vez mais sofisticadas para garantir a compra de um item desejado. A utilização de robôs ou de operadores especializados para realizar compras online em frações de segundo se tornou uma prática comum entre aqueles que querem garantir produtos limitados antes que eles se esgotem.
Essa prática, conhecida como “botting”, permite que os compradores automatizem o processo de compra, aumentando significativamente suas chances de adquirir produtos limitados rapidamente, antes que o estoque acabe.
Exemplos de robôs em ação
Em 2020, o lançamento da placa de vídeo Nvidia 3080 exemplificou um dos casos mais extremos de como os robôs funcionam no mercado de e-commerce. Menos de um segundo após o lançamento, todo o estoque disponível foi retirado pelos robôs. Os consumidores que tentaram comprar o item se depararam com a mensagem “esgotado”, enquanto os robôs já haviam adquirido todos os produtos.
Rob Burke, ex-diretor de comércio eletrônico da GameStop, revelou que os robôs sempre representaram um grande problema para as empresas, com até 60% do tráfego em sites de grandes varejistas sendo gerado por esses bots, especialmente durante o lançamento de novos produtos.
Essa situação cria um dilema ético para os varejistas: por um lado, as empresas querem vender seus produtos, não importando se o comprador é um robô ou um cliente comum, mas, por outro lado, se a maioria dos consumidores não consegue adquirir os produtos desejados, muitos deles vão buscar alternativas, o que pode gerar um impacto negativo para a marca.
Como funcionam os robôs de compra?
Os robôs de compra, também conhecidos como bots, são programas de computador que automatizam o processo de compras online, realizando tarefas que seriam impossíveis para um ser humano fazer manualmente, como clicar em botões, preencher formulários e finalizar compras em uma fração de segundos.
Os bots chamados “sniping bots” são os mais comuns. Eles ficam monitorando constantemente os sites de e-commerce e, assim que detectam que um produto desejado foi reposicionado no estoque, eles acionam automaticamente a compra. Dessa forma, esses robôs garantem que seus usuários sejam os primeiros a conseguir o produto, antes que ele acabe.
Os robôs mais avançados vão além, analisando uma grande quantidade de dados em tempo real e identificando as melhores oportunidades de compra. Eles podem realizar transações de forma totalmente autônoma, utilizando algoritmos sofisticados para comparar preços, características dos produtos e fazer compras com base em critérios previamente definidos.
Embora os robôs de compra tenham sido inicialmente desenvolvidos para o mercado de tênis de edição limitada, onde a demanda é extremamente alta e a oferta de produtos é restrita, eles rapidamente se espalharam para outros segmentos, como eletrônicos, roupas e até ingressos para eventos.
A subcultura dos tênis e o uso dos robôs
A procura por produtos exclusivos, como tênis de edição limitada, gerou uma verdadeira subcultura no mercado. Comunidades online conhecidas como “grupos de cozinheiros” são formadas por pessoas que compartilham informações sobre lançamentos, datas de lançamento e estratégias de compra, além de outras dicas valiosas para conseguir os produtos desejados.
Alguns desses grupos investem em infraestrutura de ponta, alugando servidores localizados perto dos servidores dos sites de venda para reduzir ao máximo o tempo de resposta e aumentar suas chances de sucesso nas compras. Esse tipo de preparação mostra o quanto os robôs de compra são essenciais para garantir produtos altamente disputados nesse mercado.
O mercado de revenda e seu impacto
A prática de revender produtos, como tênis de marca e eletrônicos de última geração, virou um fenômeno global e extremamente lucrativo. O mercado de tênis, por exemplo, cresceu significativamente nos últimos anos e está avaliado em cerca de US$ 2 bilhões, com uma taxa de crescimento de 20% ao ano. Essa crescente demanda é impulsionada pela busca por itens exclusivos, pelo valor agregado a marcas de renome e pela cultura de consumo, que tornou a revenda uma prática comum entre os consumidores.
Com a dificuldade de encontrar produtos desejados, especialmente lançamentos limitados que se esgotam rapidamente, muitos consumidores começaram a adotar alternativas cada vez mais sofisticadas para garantir que possam adquirir esses produtos. Uma dessas alternativas é o aluguel de robôs ou softwares especializados que fazem compras online de forma automática, assegurando que o consumidor seja um dos primeiros a conseguir os produtos antes que eles desapareçam.
Outra prática bastante comum é a contratação de operadores humanos que realizam as compras online em nome dos clientes. Isso gerou até uma nova categoria de profissionais especializados em garantir a aquisição de produtos disputados.
O impacto da Black Friday e das compras de Natal
A Black Friday e o Natal são períodos de grande movimentação no comércio e trazem com eles desafios e oportunidades únicas. A alta demanda por produtos, impulsionada por promoções irresistíveis, torna ainda mais difícil para os consumidores comuns conseguirem os produtos que desejam.
Quando há escassez de itens populares, especialmente os que estão com grandes descontos, surgem frustrações, e o mercado de revenda se torna ainda mais atrativo, já que produtos comprados por preços baixos são revendidos por valores mais altos.
Essa prática de revenda, facilitada pela automação dos processos de compra através dos robôs, pode distorcer a dinâmica de mercado e dificultar o acesso de consumidores comuns aos produtos em promoção.
Contudo, o uso de robôs de “scraping”, que monitoram os preços dos concorrentes, pode ter um efeito positivo, pois ajuda a estimular a competição entre os varejistas e garantir que os consumidores encontrem as melhores ofertas.
A dinâmica desse mercado, que combina alta demanda, escassez de produtos e avanços tecnológicos, exige que os consumidores fiquem atentos e bem informados, para aproveitarem ao máximo as oportunidades durante essas datas especiais.
O que está sendo feito para combater os robôs?
Embora o uso de robôs no comércio eletrônico ainda não seja amplamente regulamentado, algumas empresas estão criando soluções criativas para combater essa prática. Um exemplo é a varejista britânica Currys PC World, que, durante o lançamento do PlayStation 5 e do Xbox Series X em 2020, enganosamente ofereceu preços mais altos inicialmente. No entanto, os consumidores que haviam feito pré-encomendas receberam um código de desconto manual, garantindo que pagassem o preço correto.
Além disso, alguns varejistas começaram a implementar medidas como cobrar antecipadamente dos clientes para garantir seu lugar na fila de espera, ou até rastrear compras suspeitas, como múltiplos pedidos vindos de um mesmo endereço, para cancelar transações que apresentem sinais de fraude.
Com a disputa entre consumidores e robôs cada vez mais intensa, a Black Friday de 2024 promete ser um verdadeiro campo de batalha digital, exigindo que os consumidores estejam mais preparados do que nunca para lidar com essas novas dinâmicas do mercado online.
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