A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), agência do governo, anunciou, nesta sexta-feira, 24 de janeiro, a suspensão do pagamento pela coleta de íris no Brasil, realizado pela empresa Tools for Humanity por meio de criptomoedas.
A decisão, válida a partir deste sábado, 25 de janeiro, é uma medida preventiva da Coordenação-Geral de Fiscalização (CGF), que classificou o tratamento de dados biométricos como “particularmente grave”.
Segundo a ANPD, a empresa não oferece mecanismos para exclusão dos dados coletados, tornando irreversível a revogação do consentimento. Além disso, determinou-se que a Tools for Humanity identifique claramente, em seu site, os processos de tratamento de informações pessoais.
A CGF destacou que a compensação financeira oferecida pela empresa pode comprometer a livre manifestação de vontade dos indivíduos, especialmente em situações de vulnerabilidade. De acordo com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), o consentimento para tratamento de dados sensíveis, como os biométricos, deve ser livre, informado, inequívoco e específico para finalidades claras.
A decisão ocorre após um pedido do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que solicitou ao Ministério Público Federal a investigação da empresa por possíveis violações à LGPD. A ANPD já havia instaurado um processo de fiscalização em novembro de 2024.
A Tools for Humanity afirmou, em comunicado, operar em conformidade com as leis brasileiras e declarou estar em diálogo com a ANPD para assegurar a continuidade de sua rede no Brasil.
Brasileiros recebem até R$ 700 por cadastro de íris
O projeto World, criado por Alex Blania e Sam Altman, CEO da OpenAI, visa criar um “passaporte de humanidade” chamado World ID. Ele usa o escaneamento ocular para diferenciar pessoas de robôs e inteligências artificiais. Recentemente, vídeos no TikTok mostraram brasileiros em São Paulo participando do projeto e recebendo R$ 700, gerando debates sobre a expansão da iniciativa no país.
Lançado em 2023, o World já registrou mais de 100 mil usuários no Brasil em menos de dois meses e atingiu 10 milhões de participantes ao redor do mundo. Para isso, o projeto utiliza um aparelho chamado Orb, que escaneia a íris e cria uma identidade digital para comprovar que o usuário é humano.
Recompensas financeiras e criptomoedas como incentivo
O maior atrativo do projeto é o pagamento em criptomoedas, que funciona como recompensa para quem participa. Depois de escanear suas íris, os usuários recebem uma moeda digital chamada “worldcoin”, criada especialmente para essa iniciativa. O pagamento é feito em partes: uma parte é liberada logo após o registro, e o restante é pago ao longo de 12 meses, para manter os usuários ligados ao projeto.
Atualmente, cada worldcoin vale cerca de 2 dólares, o que a coloca entre as 75 criptomoedas mais valiosas do mundo. O projeto já atingiu um valor de mercado estimado em 1,7 bilhão de dólares, o que mostra sua força no mercado financeiro.
Esse modelo tem atraído muitas pessoas, principalmente em países onde a economia enfrenta dificuldades, como Brasil e Argentina. Para muitos, é uma oportunidade de ganhar um dinheiro extra. Além disso, o processo para sacar as recompensas é fácil e pode ser feito pelo aplicativo oficial do projeto, o que torna tudo mais acessível.
Enquanto algumas pessoas veem o projeto como uma maneira rápida de ganhar dinheiro, outras estão preocupadas com questões de privacidade e ética. Mesmo assim, a ideia continua a se popularizar, impulsionada pelas promessas de inovação e pelos benefícios financeiros oferecidos.
Controvérsias e preocupações
Apesar do crescimento rápido e da popularidade do projeto World, ele tem causado críticas e polêmicas em várias partes do mundo. Governos e autoridades estão preocupados com a privacidade e a segurança dos dados biométricos coletados durante o cadastro.
No Quênia, por exemplo, o governo decidiu parar temporariamente o registro de novos usuários, por temer que as informações pessoais possam ser usadas de forma errada. Na Espanha, a Suprema Corte também suspendeu o projeto por enquanto, questionando se os dados coletados estão realmente seguros.
A empresa Tools for Humanity, que criou o projeto, afirma que ele é transparente e tem objetivos bem definidos. Segundo a empresa, o registro da íris não é uma “venda” de dados, mas uma forma de envolver as pessoas, oferecendo recompensas financeiras como incentivo.
Eles também apresentam o projeto como parte de um novo modelo de internet chamado Web3, onde os dados dos usuários são usados de forma que eles recebam algo em troca, criando novas maneiras de interação digital.
Mesmo sendo popular em países com economias mais frágeis, como Brasil e Argentina, o projeto enfrenta muitas discussões sobre privacidade, ética e segurança. Essas questões podem afetar o futuro do World no mercado global de tecnologia.
Worldcoin e investimentos no mercado
A Worldcoin (WLD) é uma criptomoeda criada por Sam Altman, CEO da OpenAI, com o objetivo de criar uma rede global de identidades digitais. O projeto utiliza um aparelho chamado Orb, que escaneia a íris das pessoas para gerar uma identidade digital única, chamada World ID.
Existem duas formas principais de conseguir a Worldcoin (WLD): participando diretamente do projeto ou comprando a criptomoeda em plataformas de negociação especializadas.
Essas opções foram pensadas para atender diferentes tipos de usuários, oferecendo flexibilidade para quem deseja acessar a moeda digital.
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