Qual o futuro da inteligência artificial em 2025?

A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos trouxe mudanças significativas no cenário da inteligência artificial (IA). Entre as primeiras medidas do novo governo, destaca-se o anúncio do Stargate, uma iniciativa privada que prevê investimentos de US$ 500 bilhões, equivalente a R$ 2,88 trilhões, em infraestrutura de IA nos próximos quatro anos.

O projeto, liderado pelo CEO do SoftBank, Masayoshi Son, tem como parceiros empresas como OpenAI, Oracle, MGX, Nvidia, Arm e Microsoft. A construção de dez datacenters já foi iniciada no Texas, consolidando os EUA como potência tecnológica.

Corrida tecnológica global

Especialistas apontam que a movimentação americana se assemelha à corrida armamentista do passado, substituindo o poderio bélico pela busca pelo domínio tecnológico. “O que se prenuncia é uma corrida tecnológica em busca de uma capacidade de IA cada vez maior”, afirma Marcos Facó, diretor de comunicação e marketing da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em entrevista para o Meio & Mensagem.

Além disso, Trump reforça sua aproximação com as big techs, evidenciada pela presença de líderes da Google, Meta, Microsoft e Amazon em sua cerimônia de posse. Cada uma dessas empresas contribuiu com US$ 1 milhão (equivalente a R$ 5.760.000,00), para o evento, sinalizando uma aliança estratégica que pode impactar diretamente o desenvolvimento e a regulamentação da tecnologia.

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Desregulamentação e seus impactos

Uma das decisões mais polêmicas do governo Trump foi a revogação da ordem executiva assinada por Joe Biden em 2023, que impunha limites éticos ao desenvolvimento da IA. Em um papo com os jornalistas do Meio&Mensagem, Leandro Tessler, professor da Unicamp, explica que essa decisão levanta preocupações sobre os riscos potenciais da tecnologia, como a falta de transparência e o uso inadequado por grupos mal-intencionados.

A medida revogada exigia que desenvolvedores de sistemas de IA que pudessem representar riscos à segurança nacional, à economia ou à saúde pública compartilhassem os resultados de seus testes com o governo. Sem essas regras, o avanço da tecnologia pode ocorrer sem monitoramento adequado, o que pode gerar desafios futuros para governos e sociedades.

EUA vs. China: a batalha tecnológica de inteligência artificial

O cenário global da inteligência artificial também está sendo influenciado pela rivalidade entre Estados Unidos e China. Recentemente, a startup chinesa DeepSeek surpreendeu o mercado ao lançar uma IA altamente avançada com um custo de desenvolvimento de menos de US$ 6 milhões. O desempenho da DeepSeek chamou atenção, gerando receios sobre a supremacia tecnológica americana.

A DeepSeek foi criada com o objetivo de tornar a inteligência artificial mais acessível | Foto: Reprodução/Divulgação
A DeepSeek foi criada com o objetivo de tornar a inteligência artificial mais acessível | Foto: Reprodução/Divulgação

Trump já adotou medidas para conter a influência chinesa na tecnologia. O governo americano impôs uma tarifa de 10% sobre importações chinesas e ameaça adquirir o TikTok para evitar riscos à segurança nacional. Além disso, empresas como a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co (TSMC) foram impedidas de fornecer chips de IA para clientes chineses, o que pode desacelerar o avanço da tecnologia na China.

Para Eric Messa, coordenador dos cursos de Publicidade e Relações Públicas da FAAP, a postura protecionista de Trump pode criar um ambiente de desconfiança em relação às tecnologias chinesas, afetando o mercado global. “É possível que o governo Trump construa uma narrativa de insegurança sobre tecnologias vindas da China, reduzindo a influência do país na IA”, analisa Messa.

O que muda para o Brasil?

O Brasil tem avançado nos investimentos em IA, com um financiamento que já ultrapassa os R$ 2 bilhões e a previsão de destinar R$ 23 bilhões à agenda tecnológica até 2028. No entanto, o país ainda enfrenta desafios para se posicionar na disputa global.

Segundo Marcos Facó, a tendência é que o Brasil precise definir suas parcerias estratégicas. Se as relações com as empresas americanas se tornarem menos favoráveis, o país pode buscar apoio da China, fortalecendo laços no BRICS. “A escolha de parceiros será mais empresarial do que governamental, dependendo dos interesses de grandes empresas e bancos brasileiros”, explica.

Outro desafio apontado por especialistas é a necessidade de regulamentação da IA no Brasil. Com a crescente influência da tecnologia em diversas áreas, é fundamental estabelecer diretrizes que garantam um uso seguro e ético, evitando impactos negativos para a sociedade.

O futuro da IA e o papel das big techs

Com a concentração de poder nas mãos de grandes empresas de tecnologia, o cenário da internet pode sofrer transformações profundas. Facó alerta para o fato de que, no futuro, a busca por informações pode ser dominada por agentes de IA conversando entre si, em vez de pesquisas tradicionais feitas por usuários. “O grande problema será o viés dos algoritmos, que podem manipular a forma como consumimos informações e produtos”, destaca.

Diante desse novo contexto, empresas precisarão se adaptar a uma nova dinâmica de mercado, em que marcas venderão diretamente para agentes de IA em vez de consumidores finais. Esse modelo pode redefinir estratégias de marketing e publicidade, exigindo novos formatos de interação digital.

A volta de Trump ao poder trouxe mudanças significativas para a inteligência artificial, impulsionando investimentos bilionários e flexibilizando regulações. A rivalidade com a China e a concentração de poder nas big techs apontam para um futuro em que a IA será peça-chave na geopolítica e na economia global.

Para o Brasil, o desafio será equilibrar investimentos e regulamentação, buscando parcerias estratégicas que garantam competitividade no setor. Enquanto isso, a sociedade precisa acompanhar de perto os impactos da IA, garantindo que seu avanço seja benéfico para todos.

*Entrevistas concedidas ao Meio&Mensagem

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