Redes da Meta facilitam aplicação de golpes financeiros, aponta estudo

Um estudo feito pelo Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostrou que as redes sociais da Meta, como Facebook, Instagram e WhatsApp, estão sendo muito usadas para aplicar golpes financeiros no Brasil. Isso tem causado grandes preocupações sobre a segurança dessas plataformas e o impacto desses crimes na vida das pessoas.

Redes da Meta são usadas para aplicar golpes financeiros no Brasil
79,3% dos golpes financeiros no Brasil acontecem nas plataformas da Meta, com o WhatsApp sendo o aplicativo mais usado para espalhar fraudes (39%)  |Foto: Reprodução/Freepik

O relatório, publicado na quarta-feira, 5 de fevereiro, tem o objetivo de ajudar a entender melhor a publicidade enganosa, que tem se tornado uma das principais formas de golpistas enganarem muitos brasileiros.

Segundo a pesquisa, em vez de ajudar a evitar fraudes, as plataformas da Meta acabam criando um ambiente onde os golpistas conseguem agir com mais facilidade, espalhando esses crimes de forma rápida e atingindo milhões de pessoas de maneira cada vez mais sofisticada.

Como o estudo foi realizado

O estudo foi feito entre os dias 10 e 21 de janeiro de 2025, durante um momento em que uma norma polêmica da Receita Federal estava gerando muita confusão no Brasil. A Instrução Normativa 2.219/2024 exigia que operadoras de cartão de crédito e outras instituições de pagamento enviassem relatórios semestrais sobre as transações financeiras dos cidadãos, o que fez com que várias notícias falsas começassem a circular.

Uma das mentiras mais comuns dizia que o governo iria cobrar taxas sobre as transações feitas via Pix, o que gerou bastante confusão entre as pessoas. Como resposta, o governo cancelou a norma no dia 15 de janeiro, tentando tranquilizar a população.

No entanto, o estudo do NetLab mostrou que essa mudança não teve o efeito esperado de diminuir as mentiras, e, na verdade, ajudou a aumentar os golpes. Depois que a norma foi revogada, o número de anúncios fraudulentos nas plataformas da Meta subiu 35%. Isso mostra que a mudança na norma não foi suficiente para parar a propagação de conteúdos falsos e golpes nas redes sociais.

Como os golpes funcionam

Durante a análise, os pesquisadores identificaram um total de 151 anunciantes que espalharam 1.770 anúncios fraudulentos. Esses anúncios levavam os usuários a 87 sites de caráter ilícito, ou seja, sites que visavam enganar e prejudicar as vítimas.

Muitos desses anúncios se passavam por páginas oficiais de instituições públicas ou privadas e, em 40,5% dos casos, fingiam ser comunicados do governo federal. A estratégia era criar uma sensação de urgência ou oportunidade única para convencer as pessoas a se envolverem no golpe.

Os anúncios frequentemente ofereciam acesso a programas de benefícios sociais, tanto reais quanto inventados, como o “Resgata Brasil”, “Benefício Cidadão” e “Compensação da Virada”. Prometiam que os usuários poderiam receber resgates financeiros ou identificar valores que estariam para serem pagos a eles. Para ter acesso a esses “benefícios”, as pessoas eram induzidas a pagar taxas antecipadas, caracterizando um golpe clássico de estelionato, onde o criminoso engana a vítima para obter uma vantagem financeira indevida.

Falhas na verificação de anunciantes

Outro ponto importante destacado pelo estudo foi a falha significativa nos processos de verificação de anunciantes das plataformas da Meta. Isso permitiu que os golpistas usassem as ferramentas de marketing da empresa, que oferecem recursos como o impulsionamento de anúncios pagos e a segmentação de públicos de maneira precisa e detalhada.

Com essas ferramentas, os fraudadores foram capazes de alcançar um número muito maior de pessoas, aproveitando-se de dados demográficos, geográficos e de interesses dos usuários para direcionar os anúncios para as vítimas mais vulneráveis.

Essa capacidade de segmentação é um problema particularmente sério em um país como o Brasil, onde uma grande parte da população está em busca de ascensão social e acesso a benefícios governamentais. As fraudes se aproveitam da necessidade das pessoas por ajuda financeira e por oportunidades de melhoria em suas condições de vida, o que torna esse tipo de golpe muito eficaz, principalmente entre as camadas mais carentes da população.

Uso de inteligência artificial nos golpes

O estudo também chama atenção para o uso crescente de tecnologias avançadas, como o deepfake, nos anúncios fraudulentos. O deepfake é uma técnica de inteligência artificial que altera imagens e vídeos para criar conteúdos falsificados que parecem reais.

O estudo revelou que 70,3% dos anúncios fraudulentos analisados utilizavam essa tecnologia para manipular vídeos e fotos de figuras públicas, como políticos e celebridades, de forma a enganar os usuários.

Entre as vítimas dessa manipulação estavam o deputado Nikolas Ferreira, o ministro da Fazenda Fernando Haddad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o vice-presidente Geraldo Alckmin e até o jornalista William Bonner. Esses conteúdos alterados eram usados para dar mais credibilidade aos golpes, fazendo com que os usuários acreditassem que estavam sendo informados por fontes confiáveis.

Impacto das fraudes no Brasil

As fraudes envolvendo Pix e boletos bancários são as mais comuns no Brasil, e os prejuízos causados por esses golpes são enormes. O estudo estima que esses crimes possam causar perdas de até R$ 25,5 bilhões por ano no país.

A plataforma SOS Golpe, que coleta denúncias de vítimas de fraudes, revelou que 79,3% dos golpes financeiros no Brasil acontecem nas plataformas da Meta. O WhatsApp é o aplicativo mais usado para espalhar esses golpes (39% dos casos), seguido pelo Instagram (22,6%) e Facebook (17,7%).

Falta de controle da publicidade nas redes sociais

O estudo também aponta a falta de controle adequado sobre os anúncios nas redes sociais da Meta. A empresa tem falhado em moderar corretamente os conteúdos publicitários, permitindo que muitos golpistas usem essas plataformas para espalhar fraudes. Isso prejudica a confiança dos usuários nas redes sociais e afeta a credibilidade das instituições governamentais e outras organizações públicas. A pesquisa mostra que a Meta, ao não fazer uma boa fiscalização, expõe milhões de brasileiros a riscos financeiros.

Além disso, o NetLab se preocupa com as mudanças recentes feitas pela Meta, como o fim do programa de checagem de fatos e a redução do uso de filtros que identificam publicações fraudulentas. Essas mudanças podem piorar ainda mais o problema, já que não está claro se as novas políticas vão afetar a moderação de anúncios fraudulentos. A falta de uma estratégia clara e eficaz para combater a publicidade enganosa continua sendo uma grande preocupação.

A resposta da Meta

Em resposta às críticas, a Meta afirmou, em uma nota enviada à Agência Brasil, que a empresa não permite anúncios fraudulentos em suas plataformas e que está sempre melhorando suas tecnologias para identificar atividades suspeitas. A Meta também sugeriu que os usuários denunciem qualquer conteúdo que viole as regras da comunidade, usando as ferramentas de denúncia disponíveis nos aplicativos.

Este estudo reforça a necessidade urgente de um controle mais rigoroso sobre os anúncios nas redes sociais, especialmente nas plataformas da Meta, para evitar que mais brasileiros sejam vítimas de fraudes financeiras.

O caso mostra a necessidade de maior transparência, moderação efetiva de conteúdo e uso responsável de ferramentas de marketing digital para proteger os usuários e combater os crimes digitais. As plataformas digitais precisam ser mais responsáveis na verificação e monitoramento dos anúncios, para garantir que os usuários não sejam enganados ou explorados.

Leia também: Conheça o novo ‘golpe do CPF’ e saiba como se proteger

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