Na última divulgação do Banco Central (BC) nesta quarta-feira, 30 de outubro, a taxa média de juros no crédito livre apresentou leve alta, passando de 39,8% ao ano em agosto para 39,9% em setembro. A alta, mesmo que pequena, é significativa ao ser analisada no contexto econômico atual, onde a recuperação do mercado de crédito vem sendo desafiada por fatores como a inflação, variações na taxa Selic e mudanças nas políticas de concessão de crédito.
Esse ajuste nos juros médios reflete a situação econômica enfrentada tanto pelos consumidores quanto pelas empresas. O crédito livre abrange operações que não possuem destinação específica, como o crédito pessoal, financiamento de veículos e cheque especial, sendo um termômetro importante para a economia.
Em comparação, no mesmo mês do ano passado, a taxa de juros média do crédito livre era de 43,3%, indicando uma redução de 3,4 pontos percentuais ao longo do ano, embora ainda se mantenha elevada.
Juros para pessoas físicas e empresas

No segmento de pessoas físicas, a taxa média de juros do crédito livre subiu de 51,9% ao ano em agosto para 52,4% em setembro, o que reflete as dificuldades que muitos consumidores enfrentam para acessar crédito a custos mais baixos. Para pessoas físicas, a obtenção de crédito continua sendo uma ferramenta importante para financiar o consumo, mas com taxas elevadas, pode se tornar um peso para a renda familiar.
Já no caso das empresas, houve uma leve queda nos juros médios, que passaram de 21,0% (após revisão) para 20,7%. Esse ajuste pode indicar uma leve melhora nas condições para negócios que buscam crédito para capital de giro, expansão ou novos investimentos. Entretanto, o custo ainda elevado para o setor corporativo, especialmente para pequenas e médias empresas, continua a ser um desafio, já que impacta diretamente a disputa e a capacidade de investimento.
Cheque especial e crédito pessoal: taxas elevadas
Entre os principais tipos de crédito para consumidores, o cheque especial continua a ser o tipo de financiamento com o maior custo. Em setembro, a taxa média do cheque especial subiu de 132,9% ao ano para 137,1%. Esse tipo de crédito, que normalmente é utilizado em emergências, tem um custo alto que pode dificultar a gestão das finanças pessoais de quem recorre a ele.
Desde 2020, o Banco Central limita os juros do cheque especial em 8% ao mês (151,82% ao ano), mas as taxas ainda se mantêm elevadas. Em 2018, uma medida foi implementada para permitir o parcelamento das dívidas no cheque especial, desde que o saldo devedor seja superior a R$ 200, o que pode ajudar a reduzir os custos para os consumidores que recorrem a essa linha de crédito com frequência.
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Já a taxa do crédito pessoal, um dos produtos mais comuns para financiamento de despesas e emergências, manteve-se estável em 42,1% ao ano, o que representa uma alternativa menos onerosa em comparação ao cheque especial, mas ainda cara para muitas famílias. A estabilidade dessa taxa sugere que as condições de mercado não se alteraram substancialmente entre agosto e setembro, embora o custo continue elevado em comparação com outras linhas de crédito.
Crédito para aquisição de veículos: queda leve nos juros
A taxa média de juros para o crédito direcionado à aquisição de veículos apresentou uma leve queda, passando de 25,7% ao ano em agosto (dado revisado) para 25,5% em setembro. O financiamento de veículos é um dos principais motores para o setor automotivo e um dos componentes importantes da economia brasileira, dada a popularidade do financiamento para aquisição de carros, motos e outros veículos.
Apesar da queda discreta, o custo elevado ainda é um fator que desestimula as famílias a realizarem esse tipo de financiamento, especialmente em um contexto de alta nos preços de veículos e custos com combustíveis. Contudo, a redução das taxas para o crédito veicular pode estimular as vendas no setor e favorecer uma recuperação gradual.
Crédito total e Indicador de Custo de Crédito (ICC)
A taxa média no crédito total, incluído tanto as operações livres quanto as direcionadas (estas que recebem recursos de fontes como a poupança e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES) apresentou uma leve queda, passando de 27,7% ao ano em agosto para 27,6% em setembro. Esse índice é particularmente relevante para o mercado, pois indica o custo geral do crédito na economia, o que impacta diretamente a capacidade de consumo e investimento de indivíduos e empresas.
O Indicador de Custo de Crédito (ICC), que reflete o custo médio dos juros efetivamente pagos por consumidores e empresas, também se manteve estável em 21,8% entre agosto e setembro. O ICC calcula o custo com base no estoque de operações em andamento, considerando o valor dos juros pagos em reais, o que torna o indicador uma métrica importante para compreender o impacto do custo do crédito sobre a economia.
Cenário de juros elevados ainda desafia consumidores e empresas
Apesar de algumas quedas pontuais, o cenário de juros elevados no crédito livre permanece desafiador para consumidores e empresas no Brasil. O pequeno aumento de 39,8% para 39,9% na taxa média de crédito livre indica que o acesso ao crédito ainda é custoso, limitando o consumo e o investimento no país.
Os consumidores que recorrem a modalidades mais acessíveis, como o crédito pessoal, ainda encontram taxas relativamente altas, enquanto aqueles que utilizam o cheque especial devem lidar com juros extremamente elevados. No setor corporativo, embora a leve redução de juros possa aliviar um pouco as finanças empresariais, as taxas continuam sendo uma barreira para novos investimentos e expansão.
As taxas de juros no mercado de crédito brasileiro seguem impactadas por fatores como a inflação persistente e a política monetária, que mesmo com a recente redução na taxa Selic, ainda não trouxe impacto significativo no custo do crédito. O Banco Central, ao divulgar esses dados, permite que consumidores e empresas tenham uma visão clara das condições do mercado de crédito, o que pode auxiliar na tomada de decisões financeiras mais informadas e estratégicas.