A recente alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), que chegou a 4,77% no acumulado de 12 meses, reforça um desafio econômico no Brasil: o controle da inflação em um cenário onde a política monetária parece ter seus limites.
Apesar do aumento da taxa Selic para 11,25% ao ano, economistas avaliam que somente subir os juros não será suficiente para estabilizar os preços.
Entendendo a inflação e os juros
O IPCA-15, prévia oficial da inflação no país, acelerou 0,62% em novembro, superando a alta de 0,54% de outubro. Isso ocorre mesmo com a elevação dos juros básicos nos últimos meses pelo Comitê de Política Monetária (Copom), estratégia usada para desaquecer a economia e reduzir a pressão inflacionária.
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Contudo, especialistas alertam que o impacto da alta dos juros sobre a inflação pode ser limitado quando outras variáveis, como políticas fiscais e câmbio, também exercem pressão sobre os preços.
A opinião dos economistas
Diego Hernandez, economista e fundador da Ativa Investimentos, destaca que, sem ajustes fiscais, a alta dos juros pode se tornar ineficaz:
“A política monetária por si só não será suficiente para conter o aumento da inflação. É importante que o lado fiscal seja sanado. Caso contrário, o trabalho do novo presidente do BC será muito difícil”, afirmou Hernandez ao CNN Money.
O economista sugere que, sem cortes nos gastos do governo, os juros poderiam subir para 12%, 13% ou até 14% ao ano, sem resultados significativos na economia real.
O papel do ajuste fiscal
O controle dos gastos públicos é apontado como essencial para conter a inflação e permitir uma política de juros menos agressiva. Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, explica que a economia brasileira está aquecida, com o desemprego no menor nível em uma década, o que pressiona os preços.
O esperado pacote de ajuste fiscal, que deve ser anunciado pelo governo, é visto como uma medida essencial para desacelerar a economia e reduzir a necessidade de juros elevados. Segundo Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, é preciso “desacelerar o crescimento econômico para equilibrar o potencial do país e evitar inflação”.
Câmbio e suas implicações
Além dos gastos públicos, o câmbio é outro fator que impacta diretamente os preços. Felipe Salto, economista-chefe da Warren, destaca que as expectativas sobre a política fiscal do governo influenciam na desvalorização da moeda brasileira, o que aumenta o custo de produtos importados e, consequentemente, a inflação.
“Enquanto o governo não resolver o quadro fiscal, o câmbio continuará pressionando os preços para cima”, disse Salto.
Por que a inflação está tão alta?
Vários fatores contribuem para a inflação elevada no Brasil:
- Crescimento acima do potencial: a economia aquecida gera maior demanda por bens e serviços, elevando os preços.
- Impulso fiscal exagerado: a injeção de recursos públicos na economia intensifica esse cenário.
- Câmbio desvalorizado: produtos importados ficam mais caros, impactando setores que dependem de insumos de fora.
Alternativas para controlar a inflação
Economistas apontam que o equilíbrio entre políticas monetárias e fiscais é a chave para estabilizar os preços. Enquanto o Banco Central segue aumentando os juros, é necessário que o governo reduza os estímulos econômicos e corte gastos públicos.
A adoção de políticas “anticíclicas”, que desacelerem o crescimento econômico em momentos de aquecimento, é uma das saídas sugeridas por especialistas. Isso inclui não apenas cortes de gastos, mas também a criação de um ambiente favorável para a estabilidade do câmbio e a confiança do mercado.
O que esperar do futuro?
Com a divulgação do pacote fiscal e a continuidade da política de juros altos, espera-se que as medidas consigam conter a inflação ao longo de 2025. No entanto, o desafio está em equilibrar o crescimento econômico com a necessidade de estabilizar os preços, sem prejudicar setores produtivos ou reduzir drasticamente o poder de compra da população.
O cenário atual reforça a importância de um diálogo mais amplo entre governo, Banco Central e sociedade, para que decisões econômicas sejam tomadas com visão de longo prazo e foco na sustentabilidade fiscal e monetária.