Na última terça-feira (19), o peso argentino ultrapassou pela primeira vez a marca de 1.000 pesos por dólar, um marco que reflete a profunda desvalorização da moeda oficial em meio às políticas econômicas adotadas pelo país. Esse enfraquecimento, resultado de uma depreciação controlada pelo Banco Central da Argentina, indica os desafios enfrentados pela economia local.
A moeda fechou o dia cotada a 1.002,5 pesos por dólar, registrando uma queda de 0,35% no início das negociações após o feriado bancário na segunda-feira. A estratégia do banco central prevê uma desvalorização controlada de cerca de 2% ao mês, o que contribuiu para o acúmulo de reservas internacionais, mas também reforçou a percepção de instabilidade econômica.
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Estratégia do banco central e suas implicações
Desde que o presidente Javier Milei assumiu o cargo em dezembro passado, o banco central da Argentina adotou uma política regulatória de desvalorização gradual. Essa estratégia busca controlar a volatilidade cambial, permitindo ao governo acumular US$ 20,2 bilhões em reservas.
Embora o acúmulo de reservas seja um ponto positivo, a política tem gerado questionamentos sobre sua eficácia a longo prazo. A desvalorização contínua reduz o poder de compra da população e aumenta o custo de vida, principalmente em um contexto de inflação já elevada.
Por que o peso continua a se desvalorizar?
A economia argentina enfrenta uma combinação de fatores estruturais e conjunturais que explicam a desvalorização do peso:
- Inflação elevada: A Argentina tem uma das taxas de inflação mais altas do mundo, o que corrói o valor da moeda e reduz a confiança do mercado.
- Déficit fiscal: O governo enfrenta dificuldades para equilibrar suas contas, o que pressiona ainda mais o câmbio.
- Falta de confiança: Investidores e empresas locais preferem operar em dólares, reduzindo a demanda pelo peso argentino.
Além disso, a desvalorização controlada, embora mitigue flutuações abruptas, ainda mantém a moeda em trajetória descendente.
Impactos para a população
A marca histórica de 1.000 pesos por dólar traz impactos significativos para os argentinos. O principal deles é o aumento dos preços dos produtos importados, que se tornam mais caros à medida que a moeda local perde valor. Itens básicos, como alimentos e medicamentos, sofrem aumentos constantes, pressionando as famílias de baixa renda.
Além disso, a desvalorização aumenta os custos de viagens internacionais e dificulta o acesso a bens de consumo duráveis, como eletrônicos, que dependem de componentes importados.
O que está por trás da política de Milei?
O presidente Javier Milei, conhecido por suas ideias liberais, tem defendido medidas econômicas radicais, incluindo a possível dolarização da economia argentina. Embora controversa, essa proposta visa estabilizar a moeda e controlar a inflação ao substituir o peso pelo dólar como moeda oficial.
Porém, a dolarização enfrenta resistência de setores políticos e econômicos, já que poderia limitar a autonomia do país para implementar políticas monetárias. Além disso, para dolarizar a economia, seria necessário um nível elevado de reservas internacionais, o que ainda está longe de ser alcançado.
Cenário internacional e regional
A desvalorização do peso argentino ocorre em um contexto de desafios globais. A alta nos juros dos Estados Unidos, por exemplo, atrai capitais para o dólar, pressionando moedas emergentes.
Na América Latina, a Argentina se destaca como um dos países com maior instabilidade cambial, mas outros países também enfrentam dificuldades. No Brasil, por exemplo, o real apresenta flutuações, mas tem se mantido mais estável devido à política monetária do Banco Central brasileiro.
Expectativas para o futuro
Especialistas divergem sobre o futuro do peso argentino. Alguns acreditam que a desvalorização controlada poderá estabilizar a economia no médio prazo, enquanto outros veem a medida como paliativa, incapaz de resolver os problemas estruturais do país.
Para a população e investidores, a principal preocupação é a inflação, que continua corroendo salários e lucros. Sem medidas mais abrangentes, como reformas fiscais e tributárias, o cenário de desvalorização persistente do peso deve continuar.
A marca histórica de 1.000 pesos por dólar simboliza o momento crítico da economia argentina. Enquanto o governo tenta acumular reservas e controlar a volatilidade, os desafios econômicos estruturais permanecem. Para os argentinos, o impacto é sentido no dia a dia, com preços mais altos e um poder de compra reduzido.
A trajetória do peso e a resposta do governo nos próximos meses serão decisivas para determinar o futuro da economia argentina. Enquanto isso, a desvalorização contínua é um lembrete dos desafios enfrentados por países emergentes em contextos de instabilidade econômica e política.