Mesmo com reajustes superiores à inflação, o poder de compra do salário mínimo não deve se recuperar até 2026, apontam especialistas.
A alta real no salário mínimo, que passará a ser R$ 1.518 em 2025, enfrenta desafios como a inflação persistente, desvalorização do real e os impactos de crises globais.
O novo valor do salário mínimo de R$ 1.518 representa um aumento de 7,5%, considerando a inflação de 2024 e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores.
Porém, segundo estudo da consultoria LCA 4intelligence, o reajuste não será suficiente para melhorar o poder aquisitivo dos brasileiros em relação aos preços da cesta básica.
Dados históricos indicam que, desde outubro de 2020, o salário mínimo tem poder de compra equivalente a 1,7 cestas básicas, bem abaixo da média de duas cestas registrada entre 2010 e 2019.
Essa estagnação reflete uma combinação de fatores como alta global nos preços de commodities, pandemia de Covid-19 e guerra na Ucrânia.
Impacto da inflação e do câmbio
O economista Bruno Imaizumi, da LCA 4intelligence, explica que a inflação tem sido o principal fator que corrói o poder de compra. Além disso, a desvalorização do real frente ao dólar influencia diretamente os preços, especialmente dos alimentos, que representam a maior pressão inflacionária.
“Temos uma desvalorização contínua no câmbio que é repassada aos preços de forma semestral, o que afeta principalmente as famílias de menor renda”, destaca Imaizumi.
Entre os mais pobres, o impacto da inflação é ainda mais evidente. Segundo Matheus Dias, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), produtos que custavam R$ 100 em 2014 hoje equivalem a R$ 184, levando em conta a correção pela inflação. Essa perda acumulada agrava a desigualdade social e dificulta a recuperação do poder de compra.
Leia também: Pix de 5 mil: entenda o que é o monitoramento da Receita
O cenário global e a percepção pessimista
Eventos globais como as múltiplas ondas da pandemia e a guerra na Ucrânia contribuíram para um cenário econômico instável. Esses choques afetaram a cadeia de produção e pressionaram os preços das commodities, tornando a inflação um desafio persistente.
De acordo com pesquisa Datafolha, 67% dos brasileiros acreditam que a inflação irá piorar em 2025, um aumento significativo em relação aos 51% do ano anterior. Essa percepção reflete o impacto da alta dos preços no cotidiano da população, especialmente no setor alimentício, essencial para famílias de baixa renda.
Expectativa sob o salário para os próximos anos
Apesar das dificuldades, o modelo de valorização do salário mínimo continuará baseado na inflação do INPC e na variação do PIB. No entanto, especialistas acreditam que o poder de compra não retornará aos níveis pré-pandemia até o final de 2026.
“Não há projeções que indiquem uma recuperação significativa nos próximos dois anos”, ressalta Imaizumi. Ele explica que a continuidade da inflação e a instabilidade cambial dificultam qualquer avanço no curto prazo.
Possíveis soluções
Para reverter esse cenário, economistas sugerem que o governo adote políticas voltadas ao fortalecimento do real e à redução dos impactos cambiais. Além disso, a gestão das contas públicas deve ser mais eficiente, com foco em investimentos que estimulem o crescimento econômico sustentável.
Outro ponto é o estímulo à competitividade interna, especialmente no setor alimentício, para mitigar os efeitos da inflação sobre os mais pobres. Essas medidas podem contribuir para aliviar a pressão sobre o poder de compra do salário mínimo, mas exigem planejamento e execução consistentes.
Embora o aumento do salário mínimo para R$ 1.518 em 2025 represente uma alta real, o impacto no poder de compra será limitado. A inflação persistente, a desvalorização cambial e os efeitos de crises globais mantêm os brasileiros em um cenário de estagnação.
A recuperação do poder aquisitivo depende de medidas estruturais que enfrentem essas questões de forma eficaz e integrada.