O lema olímpico “Citius, Altius, Fortius” — mais rápido, mais alto, mais forte — tem sido um farol para atletas de todo o mundo, guiando-os em busca de superação física e mental. Contudo, quando olhamos para as Paralimpíadas, somos convidados a revisitar esse lema sob uma nova perspectiva, uma que transcende o físico e adentra os domínios do espírito humano.
Mais rápido, mais alto e mais forte: não necessariamente nesta ordem
As Paralimpíadas não são apenas uma exibição de força física ou velocidade. Elas revelam a essência mais profunda do que significa ser “mais forte”. Nesse contexto, força não é medida apenas em quilos levantados ou na potência de um sprint. É também uma força de vontade indomável, uma resiliência que enfrenta barreiras que muitos nunca imaginaram.
“Mais rápido” ganha novos contornos quando pensamos nos atletas paralímpicos. A velocidade não é apenas sobre quem cruza a linha de chegada primeiro, mas sobre a rapidez com que alguém se levanta diante da adversidade, a celeridade com que a alma responde ao desafio de superar limitações impostas por uma sociedade que muitas vezes subestima as capacidades das pessoas com deficiência.
E “mais alto”? Nas Paralimpíadas, é elevado não apenas o corpo, mas o espírito humano, que alcança novas alturas de coragem e determinação. Cada salto, cada braçada e cada volta na pista se tornam atos simbólicos de ascensão, não apenas no esporte, mas na vida.
Rodrigo Hübner Mendes, autoridade em educação de inclusão, desenvolveu ONE FLAME (uma chama) e propôs a unificação dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos para Tokyo 2020. Veja o que ele disse a época:
“Penso que a criação de um espaço específico para atletas com deficiência foi uma conquista histórica do movimento mundial em busca de garantia de direitos para tais pessoas. Indiscutivelmente, tem propiciado uma projeção global do tema, colaborando para tirá-lo da invisibilidade.
No entanto, a separação completa dos jogos, entre Olímpicos e Paralímpicos, vai na contramão da ideia de uma sociedade inclusiva. Que mensagem transmitimos ao mundo segregando os atletas pelo fato de terem, ou não, uma deficiência? Além disso, o ato de se apagar a pira Olímpica e, depois de algumas semanas, se acender a pira Paralímpica, só reforça essa mensagem negativa.”
O projeto encontrou resistências no Comitê Olímpico Internacional e não foi aprovado.
Daniel Dias, maior atleta paralímpico brasileiro: mais garra e mais determinação
Essa perspectiva é ecoada por Daniel Dias, o maior nadador paralímpico da história do Brasil, que conquistou 27 medalhas paralímpicas ao longo de sua carreira — 14 de ouro, 7 de prata e 6 de bronze.
Agora aposentado, Daniel afirmou em uma recente entrevista que, se pudesse, acrescentaria ao lema olímpico palavras que foram fundamentais em sua trajetória: mais garra e mais determinação. Para ele, esses valores são essenciais para entender a verdadeira grandeza do esporte paralímpico, onde cada conquista é marcada pela superação de desafios que vão além do físico.
Se torna cada vez mais evidente que um planejamento estratégico eficaz, aliado ao investimento contínuo, são cruciais para garantir que nossos atletas tenham as condições necessárias para alcançar o sucesso. O crescimento do esporte paralímpico no Brasil é prova de que, quando há suporte, os resultados aparecem.
A excelência na gestão do Comitê Paralímpico Brasileiro
Essa visão reflete a excelência da gestão do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que tem transformado o Brasil em uma potência mundial no esporte paralímpico. Nos Jogos de Tóquio 2020, o Brasil alcançou seu melhor desempenho da história, conquistando 72 medalhas — 22 de ouro, 20 de prata e 30 de bronze — e terminando em 7º lugar no quadro geral.
Isso é resultado de investimentos estratégicos que somaram cerca de R$ 100 milhões em 2021, além do suporte proporcionado pelo Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo, um dos mais modernos do mundo.
Programas como o “Centro de Referência Paralímpico”, que desenvolvem talentos em todo o Brasil, e o apoio financeiro contínuo através do Bolsa Atleta, que beneficiou mais de 80% dos medalhistas de Tóquio, são pilares desse sucesso.
O lema paralímpico “Espírito em Movimento” reflete perfeitamente essa jornada. As Paralimpíadas nos desafiam a expandir nosso entendimento do que significa ser um atleta, lembrando-nos que o verdadeiro poder do esporte reside na capacidade de inspirar, de transformar e de revelar a grandeza em cada ser humano, independentemente das limitações físicas. É um lembrete de que “mais rápido, mais alto, mais forte” é um ideal que vai além do físico, ecoando na força de espírito, na velocidade da resiliência e na altura dos sonhos.