A educação é amplamente reconhecida como um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento social e econômico de qualquer país.
No entanto, no Brasil, um estudo recente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), intitulado “O Círculo Vicioso da Desigualdade Racial na Educação do Brasil”, revela um quadro alarmante: estudantes pretos, pardos e indígenas têm menos acesso a escolas com infraestrutura mínima em comparação a estudantes brancos.
Leia também: Trabalho infantil cai para o menor nível desde 2016, mas ainda impacta 1,6 milhão de pessoas
Uma desigualdade que reflete o território
Os dados do BID mostram que a desigualdade racial na educação está diretamente relacionada ao território em que as escolas estão localizadas.
Em áreas urbanas, onde predominam escolas convencionais, a infraestrutura básica como água, energia elétrica e coleta de lixo é mais comum. Já em territórios como quilombos e áreas indígenas, o cenário muda drasticamente.
Nos quilombos, por exemplo, 75% dos estudantes brancos têm acesso à infraestrutura mínima, enquanto esse número cai para 52% entre estudantes pretos e 50% entre pardos. A situação é semelhante em territórios indígenas, onde apenas 69% dos estudantes indígenas têm acesso ao básico.
Leia também: Habitat 67: como a arquitetura inovadora se reflete nas periferias brasileiras?
Essa disparidade é ainda mais preocupante considerando que 86,7% dos estudantes em quilombos são pretos ou pardos, e 92,3% dos estudantes em territórios indígenas são indígenas.
Infraestrutura e desempenho acadêmico
Além da falta de infraestrutura básica, o estudo destaca que alunos pretos, pardos e indígenas frequentam menos escolas com itens essenciais como banheiros, internet, acessibilidade para pessoas com deficiência e equipamentos administrativos.
Essa falta de recursos impacta diretamente o desempenho acadêmico, refletindo-se em notas mais baixas, maiores taxas de distorção idade-série e maior evasão escolar. Outros fatores, como a necessidade de entrar precocemente no mercado de trabalho e a gravidez na adolescência, também agravam a situação.
Ciclo vicioso da desigualdade racial
O estudo aponta que a desigualdade estrutural gera um ciclo vicioso: professores pretos, pardos e indígenas, quando contratados, frequentemente trabalham em escolas com piores condições. Isso influencia negativamente o desempenho dos alunos dessas instituições, perpetuando a desigualdade educacional.
Essa dinâmica torna a educação básica, que deveria ser um meio de promover igualdade, um espaço que muitas vezes reforça as disparidades raciais e sociais já existentes.
Diversidade no corpo docente como parte da solução
Uma das soluções propostas pelo BID é o aumento da diversidade no corpo docente das escolas. Segundo o relatório, alunos que estudam com professores de características semelhantes, como cor de pele e origem social, tendem a apresentar melhor desempenho acadêmico.
No entanto, no Brasil, professores pretos, pardos e indígenas ainda enfrentam desafios significativos:
- Menor presença em contratos efetivos;
- Designação frequente a escolas com piores condições;
- Menores oportunidades de progressão na carreira.
Para reverter esse quadro, o relatório sugere medidas como:
- Atração dos melhores estudantes para carreiras na educação;
- Formação rigorosa e contínua para professores;
- Designação de professores mais qualificados para escolas desfavorecidas;
- Implementação de programas de integração e apoio ao corpo docente.
Políticas públicas são fundamentais
A superação desse cenário exige a implementação de políticas públicas que promovam equidade racial na educação. Investir em infraestrutura nas escolas de territórios quilombolas e indígenas, garantir a contratação e valorização de professores de diferentes origens e criar programas de incentivo ao ensino são passos fundamentais para romper o ciclo vicioso.
Mais do que uma questão educacional, combater a desigualdade racial na educação é uma questão de justiça social. As escolas brasileiras devem ser espaços que promovam a inclusão e preparem todos os jovens, independentemente de sua raça ou origem, para construir um futuro melhor.