O Brasil pretende apresentar na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) uma proposta para que diversidade de raça e gênero sejam considerados critérios internacionais na classificação de investimentos sustentáveis.
A informação foi dada nesta quinta-feira, 6 de fevereiro, por Cristina Reis, subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Ministério da Fazenda em entrevista à Reuters.
Desenvolvimento da taxonomia nacional
Enquanto se prepara para sediar a COP30 em Belém, em novembro, o governo brasileiro está conduzindo uma consulta pública, aberta até março, para desenvolver sua taxonomia nacional. A taxonomia é um sistema de regras que define quais atividades econômicas podem ser consideradas sustentáveis.
Com isso, o governo pretende criar um padrão para classificar setores, projetos e investimentos que realmente contribuem para a preservação do meio ambiente, facilitando a captação de recursos e atraindo investidores interessados em financiar iniciativas sustentáveis.
Prevista para ser implementada no segundo semestre de 2025, a iniciativa foi destacada como prioridade econômica na agenda apresentada ao novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A proposta brasileira inclui a avaliação de como empresas que buscam financiamento para projetos sustentáveis promovem diversidade racial e de gênero em sua governança, estrutura hierárquica e rede de fornecedores.
Empresas bem avaliadas poderiam ter acesso a melhores condições de financiamento, como juros mais baixos e garantias diferenciadas.
Impacto global e desafios políticos
O governo brasileiro quer levar a discussão para o mundo, propondo que o modelo do país seja adotado como parte de uma “superclassificação” global. Isso faz parte da estratégia do Brasil para atrair investimentos verdes, com ações como o lançamento de um mercado de carbono e a emissão de títulos sustentáveis.
Mas o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA pode atrapalhar os planos climáticos globais. Durante seu primeiro mandato, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris e enfraqueceu políticas de diversidade e inclusão. Grandes empresas como Google, Meta e Amazon também diminuíram suas ações de diversidade.
Cristina Reis disse que o governo brasileiro está atento às ações dos EUA, mas lembrou que os primeiros dias de Trump no poder foram marcados por instabilidade em suas promessas de campanha. Por isso, o Brasil está sendo cauteloso e esperando para ver os impactos da nova administração americana no debate global sobre sustentabilidade.
Plataforma de investimentos
Em 2024, o governo criou uma plataforma para atrair investimentos estrangeiros em projetos sustentáveis. Agora, segundo Cristina Reis, uma nova iniciativa será lançada para tornar mais rápida a seleção de projetos estratégicos.
Essa plataforma ajuda a identificar projetos voltados para a transformação ecológica e conecta essas iniciativas a possíveis investidores e fontes de financiamento.
A nova etapa do projeto será feita em parceria com o Ministério da Fazenda, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, conhecido como Conselhão.
De acordo com Reis, uma equipe especializada foi contratada para estudar esses projetos, entender os desafios que impedem sua realização e sugerir soluções. O trabalho deve durar um ano, mas a expectativa é que o governo apresente, na COP30, uma lista maior de oportunidades de investimento no Brasil, despertando o interesse dos participantes da conferência climática.
Brasil quer metas mais ambiciosas para reduzir emissões
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmou nesta quinta-feira, 6 de fevereiro, à AFP (Agence France-Presse, uma das maiores agências de notícias internacionais), que os países devem apresentar planos fortes para reduzir a poluição antes da conferência, que acontecerá em novembro, em Belém. O prazo para a entrega desses compromissos, que devem ser atualizados a cada cinco anos pelo Acordo de Paris, termina em 10 de fevereiro.
A COP30 acontece em um momento de incertezas. Os Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, anunciaram a saída do Acordo de Paris, enquanto a União Europeia e a China ainda não divulgaram suas metas para 2035.
Corrêa do Lago destacou que a prioridade é manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C em relação aos tempos pré-industriais. Ele lembrou que 2023 e 2024 registraram recordes de calor, tornando ainda mais urgente a necessidade de medidas eficazes.
Desafios do Brasil
O governo do presidente Lula quer que o Brasil seja referência no combate às mudanças climáticas. No entanto, enfrenta um dilema: embora esteja reduzindo o desmatamento da Amazônia, ainda investe na exploração de petróleo, sendo um dos maiores produtores do mundo.
Sobre a demora da China e da União Europeia em apresentar seus compromissos, Corrêa do Lago acredita que questões internas podem estar atrasando os planos, mas insiste que o mais importante é que as metas sejam ambiciosas. Ele também afirmou que o Brasil continuará dialogando com os EUA sobre mudanças climáticas, mesmo que o país tenha saído do Acordo de Paris.
Quanto à Argentina, que cogitou abandonar o Acordo sob o governo de Javier Milei, ele explicou que a permanência do país é essencial para aproveitar os benefícios do recente acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
O que esperar da COP30
Uma das principais discussões será sobre financiamento climático. O Brasil, junto com o Azerbaijão, deve apresentar propostas para ampliar os recursos destinados aos países em desenvolvimento. O objetivo é aumentar o valor aprovado na COP29, de US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão) por ano, para US$ 1,3 trilhão (R$ 6,5 trilhões.).
Outro tema importante é a redução do uso de combustíveis fósseis. Apesar do compromisso global para eliminá-los gradualmente, Corrêa do Lago ressaltou que cada país terá seu próprio caminho. Ele citou o exemplo da Alemanha, que precisou voltar a usar carvão depois de abandonar a energia nuclear, para mostrar que essa transição não é simples.
Papel da sociedade civil
Corrêa do Lago reconheceu a frustração da sociedade civil com a lentidão nas ações climáticas e destacou que sua participação é essencial. Ele acredita que a pressão popular pode acelerar decisões e garantir o cumprimento das metas estabelecidas.
A COP30 será uma oportunidade para o Brasil mostrar liderança na agenda ambiental, mas o país também precisará lidar com desafios internos e externos para alcançar resultados concretos.
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