Há pouco mais de um mês, despontava no palco do Domingão com Huck, da Globo, como atração musical o cantor Grelo e uma das músicas mais escutadas no Brasil — só no Spotify, quase 2 milhões de plays por dia. Chiclete, o piseiro “Só Fé”, escancara o desejo por uma vida simples, que reúne, de maneira objetiva, sonhos individuais e também coletivos numa tacada só: dinheiro para comprar o “mé” (bebida), o “leitin das crianças”, o “modess” (absorvente), e o resto? “Só fé”!
Com os versos do hit, talvez seja possível entender um pouco das vontades atuais de milhões de brasileiros, que têm como principal desafio o básico — e, na realidade, nem isso tem sido garantido. Isso ficou evidente com o resultado do 2º turno das eleições em 2024.
Não que a sociedade brasileira esteja mais perto do conservadorismo (ou até esteja), perante os números que deixaram evidente o aumento da escolha por líderes de centro ou centro-direita; ou por conta de São Paulo, maior capital do país e também mais rica, ter escolhido pela primeira vez o candidato direitoso Ricardo Nunes (MDB) ao invés de Guilherme Boulos (PSOL), visto como “radical” à esquerda.
O que fica como resultado é um pedido da população: ‘’me entenda’’, num jogo onde pesam hoje uma maior parcela da sociedade brasileira ligada ao segmento evangélico (crescimento que pode ser lido através dos 579,8 mil estabelecimentos religiosos em 2022); e com 3,5% dos cidadãos vivendo abaixo da linha da pobreza. Há ainda o atravessamento de gênero e raça, tornando ainda mais complexa a leitura dessa pirâmide invertida chamada Brasil.
As pessoas querem o mínimo e vislumbram prosperidade. Talhadas pelo positivismo em empreenderem suas ideias, serem seus próprios patrões e terem um dinheiro que dure além dos primeiros cinco dias úteis do mês. Como?
Vendo na infinidade de bets, uma saída para conseguirem ampliar suas rendas, afinal, todo mundo quer ganhar dinheiro e sim, ser um milionário. Aqui mesmo no Super Finanças, AD Junior e Monique Caroline ajudaram a destrinchar as motivações ligadas ao consumo das apostas. E assim, comprar o “mé” (que também pode ser um carro).
Para o que se vê do outro lado do muro, tendo isso, a sociedade quer se ver tendo investidos os impostos na saúde, segurança e na educação. Quer se ver representada em uma mensagem que fale com elas no presente, e não de um passado onde já se teve bonança ou de um futuro que nem chegou – ainda.
Não adianta ostentar que chegou até a metade de 2024 tendo crescido 2,5% nos 12 meses anteriores — figurando em 6º lugar entre as economias do G20, grupo que reúne algumas das maiores economias do mundo, como uma das que mais cresceram neste ano. É preciso realizar. Ter o que realizar. Ter uma mensagem que seja… realizável.
Será que serão capazes de entender?
“É o Grelo”!
