A tradicional escala de trabalho 6×1, que por décadas ditou o ritmo de trabalho de milhões de brasileiros, pode estar com os dias contados. Uma pesquisa recente do Instituto Locomotiva e QuestionPro revelou que 57% da população brasileira, o que corresponde a 92 milhões de pessoas, se posiciona contra essa jornada extensa, abrindo um debate crucial sobre a relação entre trabalho e qualidade de vida.
O estudo, realizado com 1.461 brasileiros maiores de 18 anos entre os dias 2 e 4 de dezembro de 2024, aponta para uma mudança de mentalidade em relação ao trabalho. A maioria dos entrevistados (65%) acredita que o fim da escala 6×1 pode gerar mais empregos, impulsionando a economia de maneira positiva.
Saúde mental dos brasileiros está em risco?
Um dos pontos mais alarmantes da pesquisa é a percepção de que a escala 6×1 afeta negativamente a saúde mental dos trabalhadores. 54% dos entrevistados, cerca de 87 milhões de pessoas, concordam com essa afirmação. A longa jornada de trabalho, com apenas um dia de descanso, pode levar ao esgotamento físico e mental, comprometendo a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.
Em busca de qualidade de vida
A pesquisa também revela um desejo crescente por uma melhor qualidade de vida. 65% dos entrevistados acreditam que a qualidade de vida dos trabalhadores melhoraria com o fim da escala 6×1 e a adoção de uma jornada mais curta. Esse número salta para 69% quando se considera a possibilidade de reduzir os dias trabalhados sem reduzir o salário.
A busca por mais tempo livre para dedicar à família, ao lazer e ao descanso também é uma forte motivação para a mudança. 69% dos entrevistados concordam que a proibição da escala 6×1 proporcionaria mais tempo para essas atividades, contribuindo para uma vida mais equilibrada e satisfatória.
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Debate em alta
A pesquisa mostra ainda que o debate sobre o fim da escala 6×1 está em alta. 91% dos entrevistados, cerca de 147 milhões de pessoas, têm algum conhecimento sobre a discussão. Entre aqueles que trabalham ou moram com alguém que segue a escala 6×1, o índice de conhecimento sobre o debate chega a 97%.
O que dizem os especialistas?
Para especialistas em relações de trabalho, a pesquisa reflete uma mudança cultural importante. “As pessoas estão buscando um maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal”, afirma a Dra. Ana Paula Silva, pesquisadora do Instituto do Trabalho para a CNN. Além disso, conta que a escala 6×1, modelo tradicional que prioriza a produção em detrimento do bem-estar do trabalhador, já não atende às necessidades da sociedade moderna.
Economistas também se mostram otimistas com a possibilidade de mudança. “A redução da jornada de trabalho pode levar a um aumento da produtividade e à criação de novos postos de trabalho. É preciso, no entanto, que essa transição seja feita de forma planejada, com a participação de governo, empresas e trabalhadores”, explica o economista Dr. Carlos Oliveira em entrevista para CNN.
O futuro do trabalho
A pesquisa do Instituto Locomotiva e QuestionPro coloca em evidência a necessidade de repensar como trabalhamos. O fim da escala 6×1 pode representar um passo importante na construção de um modelo de trabalho mais justo, equilibrado e que promova a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.
A mudança, no entanto, não será fácil. É preciso que haja um diálogo aberto e construtivo entre todos os envolvidos – governo, empresas e trabalhadores – para que a transição para um novo modelo de trabalho seja feita de forma justa e sustentável.