A venda de produtos com “sabor café”, mas que não têm o grão torrado e moído na composição, tem preocupado a indústria brasileira, especialmente agora que o preço do café subiu nos supermercados. O chamado “café fake” ou “cafake” (fake em referência a palavra “falso” em inglês) tenta enganar os consumidores, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
A entidade compromete-se a vender pós feitos com partes da planta que não incluem o grão, como cascas, folhas e galhos. Um exemplo é o produto chamado “Oficial do Brasil”, que traz na embalagem a frase “bebida sabor café tradicional”, mas não contém café puro.
Mesmo que algumas embalagens informem que o produto não é café torrado e moído, a Abic teme que os consumidores sejam enganados, já que a aparência e o preço mais baixo podem confundir.
Em entrevista à Reuters, Celírio Silva, diretor-executivo da Abic, disse que essa prática precisa ser combatida, pois, caso contrário, as pessoas podem acabar comprando esses produtos falsificados, ficarem insatisfeitas e, como consequência, consumir menos café. Segundo ele, esses produtos aproveitam a alta no preço do grão para se espalharem no mercado.
O café arábica atingiu um preço recorde, chegando a 3,81 dólares por libra-peso (R$ 22,21) na Bolsa de Nova York, influenciado por problemas na colheita no Brasil, maior produtor e exportador mundial. Desde o ano passado, a indústria tem repassado o aumento de custos para os consumidores, o que favorece a popularização dessas alternativas muitas vezes enganosas.
A Abic já denunciou o caso ao Ministério da Agricultura e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), destacando a necessidade de garantir a segurança alimentar. Além disso, alerta que os supermercados podem ser responsáveis por vender esses produtos e, em alguns casos, podem até estar cometendo crime ao enganar os consumidores.
De acordo com a coluna “Café na Prensa”, da Folha de S.Paulo , nesta sexta-feira, 31 de janeiro, um pacote de meio quilo do produto “sabor café” foi vendido por R$ 13,99, bem abaixo da média de R$ 30,00 do café tradicional no varejo.
Não é a primeira vez que a Abic encontra “cafake” no mercado, mas os registros desse tipo de produto não apareciam desde 2022. A entidade reforça que a venda dessas misturas pode prejudicar o consumo do café no Brasil, indo contra esforços para valorizar a versão pura e de qualidade.
Estimativa da safra de café para 2025
A primeira estimativa para a safra de café do Brasil em 2025 é de 51,8 milhões de sacas. Isso é uma redução de 4,4% em comparação com o ano passado, segundo dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na terça-feira, 28 de janeiro.
A queda deve ser ao ciclo de baixa bienalidade e falta de chuva e altas temperaturas durante a atmosfera. A produtividade média será de 28 sacas por hectare, 3% a menos do que em 2024. A área plantada cresceu 0,5%, totalizando 2,25 milhões de hectares, sendo 1,85 milhão de hectares em produção.
Produção de café arábica e conilon
A produção de arábica (variedade com sabor suave e aroma complexo) deve alcançar 34,7 milhões de sacas, representando uma queda de 12,4%. Essa redução é devido ao ciclo de baixa bienalidade e às condições climáticas desfavoráveis, especialmente em Minas Gerais, onde a diminuição será de 12,1%.
Por outro lado, o conilon (variedade mais resistente e de sabor forte, usada principalmente em cafés solúveis) deve atingir 17,1 milhões de sacas, com um aumento de 17,2%. O Espírito Santo, maior produtor, tem boas expectativas graças às chuvas entre julho e agosto.
Produção por estado
Cada estado apresenta uma realidade diferente. Em Minas Gerais, o maior produtor, a produção deve ser de 24,8 milhões de sacas, uma queda de 11,6% devido à seca e à baixa bienalidade.
No Espírito Santo, a produção crescerá 9%, atingindo 15,1 milhões de sacas. O conilon será responsável por 11,8 milhões de sacas, com um aumento de 20,1%, enquanto o arábica deve diminuir em 18,1%.
São Paulo, único produtor de arábica, estima uma produção de 4,6 milhões de sacas, uma redução de 15,3%. Já na Bahia, a produção deve crescer 11,3%, com 3,4 milhões de sacas, sendo 2,2 milhões de conilon e 1,2 milhão de arábica.
Rondônia, que cultiva apenas conilon, deve produzir 2,2 milhões de sacas, com um aumento de 6,5%. Paraná e Rio de Janeiro, também com produção majoritária de arábica, esperam 675,3 mil e 373,7 mil sacas, respectivamente. Goiás e Mato Grosso projetam quedas devido ao clima e à bienalidade negativa.
Projeções do mercado global
A oferta global continua baixa, com estoques historicamente baixos e uma demanda crescente. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a produção mundial de 2024/25 será de 174,9 milhões de sacas, um aumento de 4,1%. O consumo global, por sua vez, será de 168,1 milhões de sacas, gerando um estoque final de 20,9 milhões de sacas, o menor em 25 anos.
Esse cenário tem mantido os preços elevados no mercado internacional, tanto para arábica quanto para robusta.
Exportações e desempenho do Brasil
Em 2024, o Brasil atingiu um recorde histórico de exportações, com 50,5 milhões de sacas enviadas ao exterior, representando um aumento de 28,8% em relação a 2023. A receita gerada foi de US$ 12,3 bilhões, um crescimento de 52,6%.
Esse aumento foi impulsionado pela valorização da commodity no mercado externo e pela alta do dólar, que passou de R$ 4,91/US$ em janeiro para R$ 6,10/US$ em dezembro de 2024.
Estoques de café no Brasil
Os estoques de café no Brasil caíram significativamente. No primeiro semestre de 2024, havia 13,7 milhões de sacas, uma redução de 24% em relação a 2023. Essa diminuição foi consequência do aumento nas exportações. Espera-se que os estoques continuem a cair devido à alta demanda externa, tendência que deve se refletir também no mercado global.
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