Pesquisa revela impacto das bets nas empresas

A crescente popularização das apostas online, conhecidas como bets, tem preocupado empresas em todo o Brasil. Uma pesquisa recente realizada pela Creditas Benefícios, em parceria com Wellz by Wellhub e Opinion Box, revelou que 53% dos gestores e profissionais de Recursos Humanos já identificaram funcionários enfrentando dificuldades financeiras devido às apostas. O estudo também indicou que 47% dos entrevistados perceberam um aumento significativo desse comportamento nos últimos anos.

Apostas no ambiente de trabalho

bets pesquisa foto: canva
A adoção de medidas preventivas pode trazer benefícios tanto para os trabalhadores quanto para as empresas | Foto: Reprodução/Canva

A pesquisa, divulgada em 18 de fevereiro de 2025, ouviu 405 gestores e profissionais de RH de empresas com mais de 100 funcionários em todas as regiões do país. Um dos pontos de destaque é o fato de que 54% dos gestores relataram que seus colaboradores utilizam pausas no expediente para apostar. Além disso, 50% dos entrevistados apontaram que os valores do 13º salário e das férias estão sendo direcionados para apostas, comprometendo a saúde financeira desses trabalhadores.

Os impactos das bets vão além da esfera financeira. Segundo a pesquisa, 66% dos entrevistados afirmaram que essa prática tem gerado piora na saúde mental e física dos colaboradores, enquanto 59% identificaram queda na produtividade. Outros efeitos relatados incluem aumento na rotatividade (21%), queda da reputação da empresa (16%) e até impacto no fluxo de caixa da organização (7%).

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Empresas ainda não agem para conter o problema

Apesar da gravidade do problema, poucas empresas têm adotado medidas para enfrentá-lo. Apenas 6% das organizações realizaram treinamentos, workshops ou campanhas de conscientização sobre apostas online. Em contraste, outros desafios contemporâneos, como o avanço da inteligência artificial, têm recebido mais atenção por parte das corporações.

Para Guilherme Casagrande, educador financeiro da Creditas, a pesquisa deve servir como um alerta. “As organizações precisam abordar proativamente esse tema com seus funcionários. Ao implementar estratégias abrangentes que envolvam educação financeira, apoio psicológico e comunicação aberta, é possível reduzir os impactos negativos das apostas e promover um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo”, explica.

Falta de educação financeira contribui para o problema

A falta de educação financeira é apontada como um dos principais fatores que contribuem para o aumento das apostas online. Muitos brasileiros têm dificuldade em diferenciar jogos de azar de investimentos e, por isso, acabam se expondo a riscos financeiros desnecessários.

Recentemente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou um estudo que analisou o comportamento de investidores diante de pirâmides financeiras e apostas esportivas. A pesquisa mostrou que pessoas expostas a estímulos que incentivam apostas têm mais propensão a investir em esquemas fraudulentos do que em investimentos tradicionais. Por outro lado, aqueles com maior conhecimento financeiro demonstram menor propensão a cair nesses golpes.

A necessidade de programas de suporte e prevenção

A solução apontada por especialistas envolve a criação de programas que combinem apoio à saúde financeira e psicológica dos funcionários. De acordo com a pesquisa, 85% dos entrevistados acreditam que as empresas deveriam priorizar o bem-estar financeiro de seus colaboradores.

Além disso, 80% defendem a criação de programas de suporte psicológico e 79% acreditam que a educação financeira pode ajudar a reduzir a incidência de apostas compulsivas no ambiente corporativo.

Para Ines Hungerbühler, psicóloga e head de estratégia clínica do Wellz, a dependência em apostas é um problema grave de saúde mental. “A alta capacidade de gerar dependência faz das apostas online um transtorno reconhecido pelo DSM-5 como ‘Gambling Disorder’. Isso pode levar a consequências extremas, incluindo o suicídio, exigindo tratamento estruturado e suporte profissional. O envolvimento excessivo em apostas afeta não apenas o indivíduo, mas também todo o seu entorno, reforçando a necessidade de estratégias de prevenção e acompanhamento psicológico”, destaca.

Benefícios de enfrentar o problema

A adoção de medidas preventivas pode trazer benefícios tanto para os trabalhadores quanto para as empresas. Entre as vantagens de programas de educação financeira e suporte psicológico, destacam-se:

  • Melhoria da saúde mental: a redução do estresse financeiro impacta positivamente o bem-estar emocional dos colaboradores.
  • Aumento da produtividade: funcionários com maior segurança financeira e emocional tendem a ser mais focados e produtivos.
  • Redução da rotatividade: empresas que oferecem suporte aos colaboradores evitam perdas de talentos devido a dificuldades financeiras.
  • Melhoria na reputação da empresa: organizações que promovem bem-estar são mais atrativas para profissionais qualificados.

Diante da gravidade do problema, especialistas defendem que o combate ao impacto das bets deve passar pela educação financeira e pelo apoio psicossocial, tornando o ambiente corporativo mais saudável e produtivo.

*Entrevistas concedidas ao Estadão

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