A DeepSeek, uma startup chinesa que vem desafiando os gigantes do Vale do Silício, está chamando atenção globalmente com seus avanços em inteligência artificial (IA). Fundada pelo engenheiro e especialista em finanças Liang Wengfeng, a empresa está sediada em Hangzhou (leste da China) cidade conhecida como o “Vale do Silício chinês” por abrigar grandes empresas de tecnologia do país.
Desde sua criação, a DeepSeek tem demonstrado um crescimento impressionante. Seu chatbot R1 surpreendeu especialistas por sua eficiência e baixo custo de desenvolvimento, despertando ainda mais o interesse sobre como a empresa conseguiu driblar as sanções dos EUA, que restringem o acesso da China a chips avançados. Esse feito levanta questionamentos sobre a eficácia das políticas americanas e sinaliza uma nova fase na disputa tecnológica global.
Quem é o criador da DeepSeek?
Aos 40 anos, Liang Wengfeng, fundador da DeepSeek, é uma figura central na nova onda da inteligência artificial chinesa. Sua trajetória no setor financeiro e sua visão inovadora tornam sua empresa uma das mais intrigantes no mercado de IA.
Nascido na província de Guangdong, no sul da China, Liang estudou na Universidade de Zhejiang, no leste do país, uma região que abriga gigantes da tecnologia como a Alibaba. Sua carreira começou em 2015, quando fundou a High-Flyer Quantitative Investment Management, um fundo de hedge especializado em negociações automatizadas no mercado de ações. Desde o início, sua abordagem diferenciada utilizava aprendizado de máquina para aprimorar estratégias de investimento, tornando a empresa uma referência no setor de investimentos quantitativos na China.
Em 2021, Liang começou discretamente a adquirir processadores gráficos da Nvidia para um “projeto paralelo”. Esse movimento estratégico revelou-se fundamental para a criação do chatbot de IA generativa da DeepSeek.
O projeto não só chamou a atenção do setor tecnológico, como também garantiu a Liang um espaço em reuniões com o primeiro-ministro chinês Li Qiang, consolidando sua posição como um dos nomes mais influentes do setor.
A DeepSeek foi oficialmente fundada em 2023 e rapidamente se destacou como uma competidora de peso no mercado de inteligência artificial, rivalizando com gigantes como a OpenAI. Sua pesquisa busca explorar a interseção entre IA e neurociência, refletindo a crença de Liang de que a essência do pensamento humano está diretamente ligada à linguagem e que os processos cognitivos são, essencialmente, construções linguísticas do cérebro.
Apesar das restrições impostas pelos reguladores chineses ao setor financeiro, a High-Flyer manteve sua relevância, gerenciando cerca de US$ 8 bilhões (R$ 46,88 bilhões) em ativos. Além disso, a empresa acumulou um poder computacional significativo para o desenvolvimento de IA, tendo adquirido até 2022 um cluster de 10 mil chips A100 da Nvidia, antes das sanções dos Estados Unidos à exportação desses componentes para a China.
O mundo de Liang
Em uma entrevista ao ao meio de comunicação de tecnologia Waves em 2023, Liang falou sobre a sua rotina e afirma que seu dia a dia não difere do de qualquer outro pesquisador: ele lê artigos, escreve código e participa de discussões em grupo. Sua motivação principal, segundo ele, não é apenas comercial, mas movida pela curiosidade e pelo desejo de expandir os limites da inteligência artificial.
No entanto, sua presença na mídia chinesa ainda é enigmática. Quando perguntada sobre “Quem é Liang Wengfeng?”, a própria IA da DeepSeek inicialmente confundiu sua identidade com a de outra pessoa e afirmou que, até outubro de 2023, não havia informações publicamente disponíveis sobre sua origem ou trajetória acadêmica.
Liang acredita que a China precisa deixar de ser apenas uma seguidora no campo da inteligência artificial. Em uma entrevista concedida em novembro de 2023, ele destacou que, embora se diga que há um atraso de um ou dois anos entre a IA chinesa e a dos Estados Unidos, a verdadeira diferença está entre originalidade e imitação. Para ele, a inovação própria é essencial para que a China alcance um protagonismo real nesse setor.
Com essa abordagem visionária e recursos substanciais à sua disposição, Liang Wengfeng e a DeepSeek seguem desafiando os limites da IA e reforçando a posição da China no cenário global da tecnologia.
A competitividade da DeepSeek
A DeepSeek afirma que seu modelo de IA, o R1, foi criado com tecnologia já existente e software de código aberto, que qualquer pessoa pode usar e compartilhar de graça.
Mas, segundo a revista Wired, o fundo de hedge do fundador da DeepSeek, chamado High-Flyer, tem comprado grandes quantidades de chips essenciais para rodar a IA — conhecidos como GPUs. De acordo com o MIT Technology Review, ele já adquiriu entre 10 mil e 50 mil desses chips.
Esses chips são fundamentais para criar inteligências artificiais avançadas, que conseguem desde responder perguntas simples até resolver problemas matemáticos difíceis.
Desde setembro de 2022, os EUA proibiram a venda desses chips mais potentes para a China, o que, segundo o CEO da empresa, Liang, é o principal desafio para o desenvolvimento da IA no país.
Enquanto os principais modelos de IA no Ocidente usam cerca de 16 mil chips de alto desempenho, a DeepSeek afirma que treinou seu modelo R1 com apenas 2 mil desses chips, além de milhares de chips mais simples, o que ajudou a reduzir os custos.
Os desenvolvedores da DeepSeek dizem que gastaram apenas US$ 5,6 milhões (R$ 32,8 milhões) para criar seu chatbot, um valor muito menor do que os US$ 5 bilhões (R$ 29,3 bilhões) que a OpenAI investiu no desenvolvimento do ChatGPT no ano passado.
Impacto na corrida tecnológica
Nos Estados Unidos, o avanço da DeepSeek acendeu um alerta. O renomado investidor Marc Andreessen comparou o momento ao “Sputnik” de 1957, quando a União Soviética lançou o primeiro satélite artificial e surpreendeu o Ocidente. Esse paralelo reforça a preocupação dos EUA sobre a possibilidade de a China superar suas inovações em IA, o que pode levar Washington a adotar medidas ainda mais restritivas contra empresas chinesas.
O cenário atual deixa claro que a corrida pela inteligência artificial está longe de ter um vencedor definido. Enquanto empresas americanas continuam investindo bilhões no setor, a DeepSeek prova que a China não está apenas acompanhando o ritmo, mas pode estar um passo à frente. Resta saber como os governos e as grandes corporações globais irão reagir a essa reviravolta tecnológica.
O lançamento do DeepSeek, um assistente de Inteligência Artificial gratuito criado por uma startup chinesa, causou grande impacto no mercado de tecnologia. A principal inovação é o uso de chips mais baratos e menos dados para treinamento, tornando a IA mais acessível, especialmente para pequenas empresas.
Esse avanço representa uma ameaça a gigantes como a OpenAI, que utiliza datacenters caros e grandes para treinar seus modelos. Em contraste, o DeepSeek oferece uma solução mais eficiente, com baixo custo e que pode ser adaptada pelos usuários, pois seu código é aberto.
O DeepSeek já superou o ChatGPT em downloads na App Store, o que demonstra seu sucesso. A empresa conseguiu reduzir os custos de treinamento de US$ 100 milhões (R$ 591 milhões) para apenas US$ 6 milhões (R$ 35,46 milhões), utilizando chips H800 da Nvidia. Marc Andreessen, empresário do Vale do Silício, comparou o impacto do DeepSeek ao “momento Sputnik”, destacando sua inovação.
Além disso, o DeepSeek usa menos recursos e pode ser executado em dispositivos menores, como smartphones, garantindo maior acessibilidade e privacidade. Técnicas como “quantização” e “poda” ajudam a reduzir custos e acelerar o processo, tornando a tecnologia ainda mais eficiente e segura.
A rivalidade com os EUA
As ações do setor de tecnologia sofreram forte pressão na segunda-feira, 27 de janeiro, com quedas acentuadas nos papéis da Nvidia e da Oracle. Esse movimento reflete preocupações crescentes sobre o impacto de novas tecnologias, como a DeepSeek, e as implicações geopolíticas das restrições de exportação de chips avançados para a China.
Desde 2021, os Estados Unidos, sob o governo Biden, ampliaram restrições para impedir a exportação de chips de alto desempenho para empresas chinesas de inteligência artificial. Essas medidas buscam limitar o treinamento de modelos avançados, como os do ChatGPT e da DeepSeek.
No entanto, a startup chinesa DeepSeek, divulgou recentemente que seu modelo DeepSeek-V3 foi treinado com chips H800 da Nvidia – uma versão menos avançada – a um custo inferior a US$ 6 milhões (cerca de R$ 35 milhões).
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