Um projeto liderado por Sam Altman, cofundador da OpenAI e criador do ChatGPT, tem gerado polêmica no Brasil. Com dois meses de operação em São Paulo, a iniciativa da WorldCoin, gerida pela Tools for Humanity, já atraiu mais de 150 mil brasileiros. O ponto central? Um escaneamento de íris em troca de criptomoedas no valor aproximado de R$ 300.
Essa tecnologia utiliza o “Orb”, um equipamento que captura dados biométricos do usuário, como a íris, a temperatura corporal e o mapeamento facial. A promessa é gerar uma identidade digital única, capaz de diferenciar humanos de robôs em ambientes virtuais. No entanto, a falta de clareza sobre o uso das informações coletadas tem levantado preocupações entre especialistas e órgãos reguladores.
Como funciona o projeto?
A operação consiste em fotografar a íris do participante, que, ao consentir, recebe 25 unidades da criptomoeda da WorldCoin. A empresa afirma que os dados capturados são convertidos em códigos anônimos e que as imagens da íris são apagadas.
Embora a tecnologia pareça promissora, sua aplicação prática ainda é limitada no Brasil, com as coletas concentradas apenas na cidade de São Paulo. A moradora da zona sul, Kátia Alves, relatou sua experiência ao participar do projeto durante entrevista à CBN:
“Achei interessante diferenciar humanos de robôs. Além disso, o dinheiro é um incentivo válido. O valor muda dependendo do momento em que é convertido.”
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Oportunidades e controvérsias da WorldCoin
A WorldCoin defende que a tecnologia tem potencial para reduzir a criação de perfis falsos em redes sociais e sites, além de proporcionar maior segurança online. Já são mais de 10 milhões de participantes no mundo, incluindo países como Estados Unidos, Alemanha e México.
Porém, no Brasil, o projeto enfrenta questionamentos legais. Renata Yumi Idie, advogada especialista em proteção de dados, destaca um ponto crucial: o consentimento para o uso de dados sensíveis, como o biométrico, deve ser livre e não condicionado a remunerações.
“Esses dados têm um grande potencial de gerar prejuízos se usados de maneira inadequada. Pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o consentimento precisa ser livre, expresso e informado. A remuneração pode comprometer essa liberdade”, afirma Renata.
Além disso, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) já iniciou uma fiscalização para avaliar a conformidade do projeto com a LGPD.
Benefícios x riscos
Embora a iniciativa da WorldCoin tenha como principal objetivo a inovação tecnológica e a segurança digital, a coleta de dados biométricos sensíveis exige um cuidado especial. Especialistas alertam que, sem transparência no tratamento dessas informações, os riscos podem superar os benefícios.
A criptomoeda, por sua vez, atrai um público interessado em novas formas de investimento e em experimentar tecnologias disruptivas. No entanto, o desconhecimento sobre as regras do mercado de criptoativos pode tornar a adesão ao projeto mais arriscada para pessoas que não entendem completamente os desdobramentos desse tipo de transação.
Futuro do projeto no Brasil
Com sua expansão global, a WorldCoin pretende ampliar o número de participantes e consolidar sua presença no mercado de identidades digitais. No entanto, para alcançar isso de forma sustentável no Brasil, será necessário ajustar o modelo às exigências da LGPD, garantindo mais transparência e segurança aos usuários.
Por enquanto, o projeto segue dividindo opiniões. Enquanto alguns enxergam na iniciativa uma oportunidade de inovação, outros apontam para os riscos de coleta e uso inadequado de dados sensíveis.
O debate está longe de terminar, e o futuro do escaneamento de íris no Brasil dependerá não apenas da aceitação do público, mas também do cumprimento das leis que protegem os direitos dos cidadãos.