Desde a sua criação em 2009, o bitcoin se consolidou como um dos maiores ativos financeiros do mundo, com um valor de mercado que já ultrapassou US$ 2 trilhões (R$ 11,5 trilhões). No entanto, apesar da crescente adoção e institucionalização da criptomoeda, muitos economistas ainda a veem com ceticismo. Um dos críticos mais recentes a se manifestar sobre o tema foi Eugene Fama, laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 2013 e considerado um dos pais das finanças modernas.
Em um podcast realizado no dia 30 de janeiro, Fama reafirmou sua descrença no bitcoin e nas criptomoedas em geral. Segundo ele, o atual mercado de criptoativos está fadado ao colapso e deve perder todo o valor em até dez anos. Sua previsão baseia-se em argumentos de teoria monetária tradicional, que, segundo o economista, não sustenta a longevidade das criptomoedas.
Quem é Eugene Fama?
Eugene Fama é um economista norte-americano conhecido por desenvolver a Hipótese dos Mercados Eficientes. Formado pela Universidade Tufts, concluiu MBA e doutorado na Universidade de Chicago, onde passou toda a sua carreira acadêmica.
Sua tese de 1965 demonstrou que os preços das ações seguem um padrão imprevisível de “caminhada solicitada”, influenciando profundamente a teoria financeira. Em 1969, publicou um estudo pioneiro sobre como os preços dos ativos reagem a novas informações, introduzindo uma metodologia de estudos de evento.
Por suas contribuições para economia e finanças, Fama recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2013, ao lado de Robert Shiller e Lars Peter Hansen.
O bitcoin como meio de troca: um modelo insustentável?
Para Fama, a principal falha do bitcoin está na sua inadequação como meio de troca. “As criptomoedas violam todas as regras de um meio de troca. Elas não possuem um valor estável real, são extremamente voláteis e, por isso, não deveriam sobreviver”, afirmou. Ele argumenta que uma moeda eficaz precisa manter estabilidade para facilitar transações e armazenar valor ao longo do tempo, características que, segundo ele, o bitcoin não apresenta de forma confiável.
Outro ponto levantado pelo economista é a inviabilidade de substituir o sistema financeiro tradicional por redes blockchain. Fama acredita que a operação de um sistema financeiro global baseado em blockchain demandaria um poder computacional insustentável. Para ele, a escalabilidade da tecnologia não seria suficiente para dar suporte a toda a economia mundial.
Bitcoin como reserva de valor: “não é ouro digital”
Além de contestar o bitcoin como meio de troca, Fama também rejeitou a ideia de que a criptomoeda possa ser considerada uma reserva de valor comparável ao ouro. “O bitcoin só poderia ser chamado de ouro digital se tivesse uma utilidade real. Se não tiver uso, ele é apenas ar”, argumentou. Segundo o economista, o ouro tem valor porque pode ser utilizado em aplicações industriais e joalheria, enquanto o bitcoin, em sua visão, não oferece funcionalidade tangível além da especulação financeira.
Apesar das críticas contundentes, Fama admitiu que não pode prever com exatidão quando a “bolha” das criptomoedas estourará. No entanto, estimou que o colapso do bitcoin deve acontecer dentro de uma década. “Escolhi dez anos porque tenho 86 e provavelmente não serei cobrado por isso”, brincou.
Mercado resiste às críticas
Apesar das previsões pessimistas de Fama, o mercado de criptomoedas continua a se expandir. Grandes gestoras de investimento, como BlackRock e Fidelity, já oferecem produtos financeiros baseados em criptoativos, demonstrando que há uma demanda crescente pelo setor.
Embora críticos como Fama questionem a viabilidade de longo prazo do bitcoin, o mercado parece indicar uma trajetória diferente, com investidores institucionais apostando cada vez mais na tecnologia. Se a previsão do economista se concretizar ou não, apenas o tempo dirá.
Criptomoedas em queda: bitcoin perde força em meio a tensões econômicas
O mercado de criptomoedas segue com baixa volatilidade nesta sexta-feira, 7 de fevereiro, refletindo um enfraquecimento da demanda pelo bitcoin. Investidores monitoram o desenrolar das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, além das perspectivas para a política monetária norte-americana.
No momento, o bitcoin é negociado a US$ 97.328 (R$ 559.136), o que registra uma queda de 1,2% nas últimas 24 horas, segundo dados do CoinMarketCap. No acumulado da semana, a desvalorização chega a 7%, refletindo um mercado incerto e sem direção clara.
Fatores que influenciam o mercado
Analistas destacam que a postura mais cautelosa dos investidores tem sido influenciada pelas recentes decisões comerciais adotadas pelos Estados Unidos. Entre as medidas que geraram incerteza no mercado, estão as tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump sobre produtos importados da China, Canadá e México. Essas tarifas aumentaram as tensões comerciais entre os países e levantaram preocupações sobre os impactos na economia global, incluindo o setor de ativos digitais.
Diante desse cenário, a reação inicial do mercado de criptomoedas foi uma desvalorização expressiva, refletindo o temor dos investidores em relação às possíveis consequências dessas políticas protecionistas. No entanto, após a queda, houve uma tentativa de recuperação, à medida que o mercado buscava se estabilizar. Apesar disso, essa retomada não se mostrou suficientemente forte para restabelecer uma tendência consistente de alta, indicando que a confiança dos investidores ainda não foi plenamente restaurada.
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