A fadiga digital se infiltra em nossas vidas silenciosamente, e entra em nossos rituais de rotina até dependendo da produtividade e do espírito da equipe. Um estudo do Journal of Business Research (uma publicação acadêmica que aborda temas sobre administração, marketing e comportamento organizacional) indica que o excesso de tempo de tela pode até remodelar a arquitetura cerebral.
Em um mundo hiperconectado, nosso cérebro lida com uma sobrecarga constante de estímulos digitais, gerando padrões associados à ansiedade, cansaço e perda de foco.
Identificar os sinais dessa fadiga é essencial para preservar sua saúde mental e manter seu desempenho profissional. A seguir, confira cinco sinais neurológicos de fadiga digital, a ciência por trás de cada um e estratégias práticas para combatê-los.
1. Eco digital
O que é: esse termo descreve o reflexo quase involuntário de pegar o celular durante atividades cotidianas, como durante o jantar, ou a sensação de “vibração fantasma”, quando acreditamos que o celular está tocando, mas não está. Embora muitas pessoas considerem esses comportamentos apenas hábitos ruins, eles vão, além disso. Eles são, na verdade, respostas automáticas do cérebro, que se tornam tão naturais quanto respirar.
A ciência por trás disso: esse comportamento está vinculado a uma resposta excessiva da amígdala, uma região do cérebro responsável pelas emoções, principalmente o medo. Quando isso acontece, o cérebro se torna mais sensível à ideia de perder informações, como mensagens ou atualizações digitais, o que acaba gerando uma sensação de ansiedade. Esse medo de estar desconectado, ou “desatualizado”, é semelhante ao que ocorre em quadros de ansiedade.
Como resolver: para lidar com essa questão, uma sugestão é realizar uma “auditoria de valores profissionais”. Dedique um tempo (cerca de 30 minutos) para escrever sobre o que realmente importa no seu trabalho, mas faça isso sem o uso de dispositivos digitais. Isso ajuda a redirecionar a atividade da amígdala para o córtex pré-frontal, área do cérebro associada ao planejamento, ao foco e à tomada de decisões. Para que esse processo seja eficaz a longo prazo, recomenda-se revisar essa prática a cada três meses, garantindo que o foco esteja nas prioridades realmente importantes.
2. Acúmulo digital
O que é: esse fenômeno se refere a uma desordem digital, onde a área de trabalho, seja no computador ou no celular, está cheia de arquivos não organizados, como capturas de tela, downloads aleatórios e pastas desordenadas. Muitas vezes, isso acontece sem que as pessoas percebam, até que se deparem com a bagunça acumulada.
A ciência por trás disso: essa desorganização digital é um reflexo do que é conhecido como “fadiga decisória”. O córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pela tomada de decisões, sofre uma sobrecarga devido ao excesso de informações que a pessoa precisa processar. O acúmulo de arquivos e tarefas cria um ambiente mental caótico, dificultando a capacidade de decidir o que fazer a seguir, o que aumenta o estresse e a sensação de estar sobrecarregado.
Como resolver: para lidar com o acúmulo digital, uma abordagem eficaz é criar um “mapa de projetos prioritários”. Isso significa identificar as três tarefas mais importantes que você precisa concluir e organizar todos os arquivos relacionados a esses projetos de maneira eficiente. Esse processo ajuda a reduzir a sobrecarga de decisões, permitindo que você se concentre no que realmente importa, ao mesmo tempo, em que organiza o ambiente de trabalho digital.
3. Fragmentação da atenção
O que é: este conceito descreve a prática de alternar constantemente entre várias abas abertas no computador ou mudar de aplicativos no celular sem finalizar nenhuma tarefa de forma eficaz. Esse comportamento resulta em uma atenção fragmentada, prejudicando a produtividade e o foco.
A ciência por trás disso: a fragmentação da atenção sobrecarrega os circuitos neurais que controlam a concentração, prejudicando as redes cerebrais responsáveis pela manutenção do foco. Isso pode levar a um desempenho abaixo do esperado e uma sensação de cansaço mental.
Como resolver: a solução para melhorar o foco está na adoção de “blocos de trabalho focados em habilidades”. A ideia é escolher uma competência ou tarefa específica para se dedicar e trabalhar nela por 45 minutos seguidos, sem interrupções. Essa prática ajuda a fortalecer as redes neurais positivas e melhora a capacidade de concentração, diminuindo a tendência à multitarefa e aumentando a eficiência.
4. Isolamento social digital
O que é: cada vez mais, as pessoas têm se distanciado das interações sociais virtuais, seja desligando a câmera durante reuniões, evitando chamadas de vídeo ou respondendo de forma breve e impessoal em chats. Esse comportamento é uma tendência crescente, especialmente em ambientes de trabalho remoto.
A ciência por trás disso: as interações digitais exigem mais esforço cognitivo do que as interações presenciais. Isso ocorre porque, em ambientes virtuais, a comunicação não-verbal é limitada, o que exige um esforço extra para entender o contexto e as emoções por trás das palavras. Isso pode levar à fadiga social, pois o cérebro precisa de mais energia para manter a mesma intensidade de conexão que nas interações face a face.
Como resolver: para combater o isolamento social digital, é recomendável agendar conversas com um mentor ou colega de trabalho. Essas interações mais profundas e significativas ajudam a ativar diferentes caminhos neurais, que restauram a capacidade de engajamento social e fortalecem as relações profissionais, tornando a experiência digital mais enriquecedora.
5. Estresse digital antecipatório
O que é: esse tipo de estresse é sentido quando se antecipa o trabalho ou as tarefas digitais, como e-mails, reuniões virtuais e outras demandas da vida profissional, especialmente nos domingos à noite, quando se começa a pensar na semana seguinte. É uma sensação de ansiedade relacionada ao “peso” da carga de trabalho que está por vir.
A ciência por trás disso: o estudo publicado no Journal of Business revela que esse estresse antecipatório pode ser até mais prejudicial do que o próprio volume de trabalho. Isso ocorre porque o estresse gerado pela antecipação de tarefas eleva os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, o que pode afetar a saúde física e mental.
Como resolver: uma maneira eficaz de lidar com o estresse antecipatório é manter um “diário de conquistas profissionais”. Ao registrar três vitórias da semana anterior, mesmo que pequenas, o foco do cérebro é desviado da ansiedade sobre o futuro para a reflexão sobre as realizações passadas. Esse hábito ajuda a reduzir a tensão, promove o reconhecimento das próprias conquistas e fortalece a resiliência diante das pressões do trabalho digital.
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