Mulheres jovens priorizam carreira e estabilidade financeira, aponta pesquisa

Os sonhos e aspirações das mulheres jovens no Brasil estão mudando. Se antes o casamento e a construção de uma família eram prioridades, hoje, a estabilidade financeira e o crescimento profissional ganham mais espaço.

A pesquisa “Sonhe como uma garota: Uma análise intergeracional dos desejos femininos”, realizada pelo projeto Sonhe Como Uma Garota e Think Olga, revela que essa transformação reflete um desejo crescente de autonomia e independência.

O estudo “Sonhe como uma garota” demonstra que a nova geração de mulheres está reconfigurando suas prioridades | Foto: Reprodução/Canva
O estudo “Sonhe como uma garota” demonstra que a nova geração de mulheres está reconfigurando suas prioridades | Foto: Reprodução/Canva

O novo perfil das aspirações femininas

O estudo entrevistou 1.080 mulheres de diferentes gerações e revelou que as mais jovens têm menos interesse no casamento e na maternidade do que suas mães e avós. Enquanto o desejo de construir uma família caiu da primeira para a 12ª posição entre as mais jovens, o sonho de consolidar uma carreira cresceu significativamente.

De acordo com a pesquisa, 47% das entrevistadas continuam sonhando por acreditarem em sua própria capacidade e liberdade. Outras 38% afirmaram que o ato de sonhar está diretamente ligado ao exercício da autonomia e ao poder de decisão sobre suas próprias vidas. Além disso, 24% encontram motivação no apoio da família e dos amigos, número que aumenta para 33% entre as mais jovens.

A psicóloga e psicanalista Adriana Barbosa Pereira, consultada no estudo, destaca que o contexto sociopolítico influencia na forma como as mulheres projetam seus futuros. “Não está simples construir futuros, projetar-se para outros tempos e espaços. A tendência de posições mais extremistas impacta a liberdade que o sonhar precisa para existir”, afirma.

Carreira e independência financeira no topo da lista

O relatório revela que, embora o desejo de ser mãe ainda esteja presente, a prioridade das mulheres mais jovens é a independência financeira. Esse fator está diretamente relacionado à busca por uma carreira sólida e bem-sucedida.

As mulheres negras, em particular, demonstram uma ambição maior nesse sentido, com 14 pontos percentuais acima da média em relação ao sonho de construir uma trajetória profissional de sucesso.

O movimento global de repensar os relacionamentos também se reflete na pesquisa. O estudo aponta para tendências como o “boy sober”, que incentiva mulheres a fazerem um “detox” de relações românticas com homens devido a frustrações com aplicativos de namoro. Outro movimento citado é o 4B, originado na Coreia do Sul, que prega o afastamento total de relacionamentos heterossexuais, incluindo casamento e maternidade.

“Novas configurações familiares, a flexibilidade na forma de se relacionar e a possibilidade de autonomia financeira e emocional criam novos caminhos para as mulheres jovens”, destaca o relatório.

O impacto do apoio familiar e das barreiras financeiras

A pesquisa mostra que a falta de apoio da família e amigos pode ser um obstáculo para que as mulheres realizem seus sonhos. Entre as mais jovens, 25% relataram já ter desistido de algo por não contar com suporte suficiente. Na média geral, esse número é de 19%.

Outro fator determinante é a questão financeira. A falta de recursos é apontada como a principal razão para o abandono de sonhos. Além disso, o machismo e a discriminação por classe social são barreiras significativas para 46% das entrevistadas, sendo que o impacto desses fatores aumenta à medida que a renda familiar diminui.

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Comparação entre as respostas de mulheres de diferentes gerações

O estudo também traçou um paralelo entre os sonhos das mulheres ao longo das gerações. Entre avós e mães, o desejo de concluir os estudos cresceu, enquanto a prioridade de “cuidar e apoiar uma família” diminuiu. Já entre as mulheres mais jovens, os sonhos relacionados à família perderam ainda mais espaço para o desejo de independência financeira.

A percepção sobre as oportunidades de sonhar também mudou. Para 88% das entrevistadas, elas tiveram mais chances de perseguir seus sonhos do que suas mães e avós. Além disso, 65% acreditam que seus sonhos são mais ambiciosos do que os das gerações anteriores.

O que as mulheres precisam para continuar sonhando

O estudo ressalta que, para que as mulheres possam continuar sonhando e alcançando seus objetivos, políticas públicas e iniciativas privadas devem atuar para garantir mais oportunidades. Entre as principais demandas apontadas pelas entrevistadas estão:

  • Acesso ao mercado de trabalho e incentivo ao empreendedorismo (64%);
  • Investimento em educação e capacitação profissional (59%);
  • Maior segurança e combate à violência de gênero (52%).

As participantes também destacaram o papel dos movimentos sociais e feministas na ampliação das possibilidades para as mulheres. Quando questionadas sobre seus desejos para as próximas gerações, a maioria apontou a importância de alcançar carreiras sólidas e conquistar autonomia financeira. “Existe o entendimento de que dinheiro, renda e autonomia abrem as portas para qualquer sonho que elas quiserem ter”, conclui o estudo.

Para Adriana Barbosa Pereira, sonhar é uma forma de resistência. “Sonhar é deixar que uma subjetividade continue existindo, que ela não seja silenciada, apagada por essas grandes tensões”, afirma.

O estudo “Sonhe como uma garota” demonstra que a nova geração de mulheres está reconfigurando suas prioridades. O desejo por estabilidade financeira e uma carreira de sucesso reflete não apenas uma mudança cultural, mas também a necessidade de garantir independência e segurança em um mundo ainda marcado por desigualdades de gênero.

Com mais acesso à educação e ao mercado de trabalho, essas mulheres estão redefinindo os padrões sociais e abrindo caminhos para futuras gerações. Se antes o sonho do casamento era um objetivo primordial, agora ele divide espaço – ou até cede lugar – para conquistas profissionais e financeiras, demonstrando que a autonomia feminina nunca esteve tão em evidência.

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