As apostas online no Brasil têm ganhado um espaço significativo na economia nacional, movimentando bilhões mensalmente. De acordo com dados do Banco Central (BC), o volume de transferências via Pix de pessoas físicas para empresas de apostas online em 2024 variou entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões por mês. Esse crescimento chamou a atenção de autoridades e do governo federal que estão preocupados com o impacto do setor nas finanças pessoais dos brasileiros e o potencial aumento do endividamento.
Em uma análise recente, Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, comparou o volume de transações financeiras com apostas online no mês de agosto com o valor de mercado de algumas grandes empresas brasileiras listadas na B3, a Bolsa de Valores do Brasil.
O resultado foi surpreendente: em agosto, o volume chegou a R$ 20,8 bilhões, superando o valor de mercado de grandes corporações como o Grupo Natura (avaliado em R$ 19,8 bilhões), Carrefour Brasil (R$ 18,2 bilhões), Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (R$ 17,7 bilhões), Lojas Renner (R$ 17,2 bilhões) e Companhia Siderúrgica Nacional (R$ 17,1 bilhões).
Crescimento das apostas online no Brasil
O crescimento das bets no Brasil não é um fenômeno isolado. Ele reflete a digitalização acelerada que o país vem enfrentando, especialmente após a implementação do sistema de pagamentos instantâneos, o Pix, pelo Banco Central. Com a facilidade proporcionada por essa tecnologia, transferir dinheiro para sites de apostas se tornou algo rápido e acessível para a população.

No entanto, essa conveniência trouxe consigo uma série de preocupações. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma reunião com ministros no início de outubro, afirmou que o crescimento das apostas virtuais “tem que ser tratado como uma questão de dependência”, ressaltando que muitas pessoas estão se endividando ao gastar mais do que podem arcar. O presidente destacou ainda que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentará propostas para regular o setor e minimizar os impactos negativos no orçamento das famílias brasileiras.
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A grande preocupação das autoridades reside no fato de que o aumento das apostas pode resultar em um crescimento descontrolado dos transtornos relacionados ao jogo, como o vício e o endividamento. Para tentar lidar com esse cenário, a Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) assinou, no início de outubro, um Termo de Cooperação Técnica com uma empresa especializada em oferecer apoio psicológico e psiquiátrico a apostadores que identificarem sinais de compulsão. Além disso, a ANJL lançou o Selo de Adequação que permitirá aos consumidores verificar se a plataforma está em conformidade com as regulamentações do mercado brasileiro.
O impacto econômico das apostas online
Os números crescentes associados às apostas online refletem um impacto econômico relevante, não apenas para o setor de entretenimento, mas também para o mercado financeiro. O volume de transações financeiras supera o de muitas das principais empresas listadas na B3, algo que não passou despercebido entre analistas e investidores.
Einar Rivero destacou que o volume financeiro gerado pelas apostas se equipara a algumas das maiores empresas do país. “Esse paralelo com gigantes do mercado reforça o impacto financeiro que o setor de apostas tem alcançado no Brasil”, afirmou. A comparação ilustra a magnitude desse setor que, embora não esteja diretamente na bolsa de valores, movimenta quantias significativas no mercado financeiro brasileiro.
Além disso, a digitalização das apostas, facilitada pelo Pix, fez com que o acesso às plataformas de bets se tornasse mais democrático, atingindo pessoas de diferentes classes sociais e faixas etárias. Isso aumenta o potencial de crescimento do setor, mas também acentua os riscos de endividamento para aqueles que não têm controle sobre seus hábitos de jogo.
Medidas governamentais e regulação do mercado
Diante desse cenário, o governo federal já sinalizou a intenção de regulamentar com mais rigor o setor de apostas online. A expectativa é que, em breve, sejam implementadas medidas mais rígidas para controlar o volume de apostas e evitar o endividamento em massa da população.
Uma das propostas em análise é o bloqueio de plataformas de apostas irregulares, que muitas vezes operam sem a devida licença e sem seguir as regulamentações brasileiras. Em setembro, o ministro Fernando Haddad anunciou que cerca de 2 mil sites irregulares de apostas serão retirados do ar como parte das ações de combate à irregularidade no setor.
Além disso, o governo planeja introduzir programas de educação financeira para conscientizar a população sobre os riscos das apostas online e auxiliar aqueles que já estão endividados por conta desse hábito. A expectativa é que essas medidas, aliadas ao apoio psicológico disponibilizado pela ANJL, ajudem a mitigar os impactos negativos do setor na vida dos brasileiros.
O crescimento das apostas online no Brasil demonstra como o avanço tecnológico pode transformar setores e criar novas realidades econômicas. No entanto, sem uma regulação adequada, o impacto desse mercado pode ser devastador para muitas famílias. O governo federal está ciente do problema e já começou a agir para proteger os consumidores. Enquanto isso, cabe à população estar atenta aos riscos e buscar ajuda sempre que necessário.